Familiares denunciam falta de informações sobre ativista presa em El Salvador

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Ruth López, advogada que denunciou corrupção no governo Bukele, foi detida domingo

Por Tatiana Carlotti, compartilhado de Ópera Mundi




na foto: Ruth Eleonora López, responsável pela Unidade Anticorrupção e Justiça da organização Cristosal.

A advogada e defensora de direitos humanos, Ruth Eleonora López, uma das mais proeminentes críticas ao governo de Nayib Bukele, foi presa no último domingo (18/05) pela Polícia Nacional Civil de El Salvador e, desde então, encontra-se desaparecida.

López é responsável pela Unidade Anticorrupção e Justiça da organização Cristosal. A entidade informou nesta segunda-feira (19/05) que até o momento o seu paradeiro é desconhecido.

Em coletiva de imprensa, a família relatou que policiais chegaram à residência de López em uma viatura e inicialmente disseram que ela havia se envolvido em um acidente de trânsito. Ao sair de casa, ela foi informada que havia um mandado de prisão expedido pela Procuradoria-Geral da República para prendê-la.

O marido de Ruth, Louis Benavides, percorreu diversos locais em busca de informações, mas não obteve nenhuma confirmação oficial sobre onde sua esposa estaria. A família chegou a deixar alimentos na Diretoria Central de Investigações (DCI), onde agentes disseram que ela poderia estar, mas os responsáveis se recusaram a dar qualquer informação.

Segundo informações, López teria sido levada a uma unidade de saúde e posteriormente às celas da delegacia conhecidas como El Penalito, utilizadas no início do estado de emergência para manter presos temporários antes da transferência para presídios.

A família alerta sobre o silêncio das autoridades e se preocupa com a saúde da advogada, que sofre de hipertensão e está em tratamento médico.

Uma das vozes mais críticas a Bukele

A detenção foi realizada com base em um mandado da Procuradoria-Geral da República, que acusa López de suposto envolvimento em peculato. O crime teria acontecido durante seu período como assessora do ex-funcionário público Eugenio Chicas.

Ao prender a advogada, a PGR de El Salvador postou uma foto na plataforma X, afirmando que López colaborou na subtração de fundos dos cofres do Estado.

A advogada tem sido uma das mais proeminentes críticas ao governo Bukele. Ela apresentou denúncias de  corrupção do governo El Salvadorenho em diversas frentes, desde 2019, e apresentou 15 ações de grande repercussão.

Entre elas, denúncias de supostas fraudes na Chivo Wallet, carteira digital oficial do governo para transações em criptomoedas. López expôs casos de transferências irregulares de imóveis, criação de cargos fantasmas em órgãos públicos, enriquecimento ilícito de funcionários. Ela também denunciou o uso do software espião Pegasus contra jornalistas, ativistas e defensores ambientais no país.

A mãe da advogada, Eleonora Alfaro, afirmou que a prisão da filha pode estar diretamente ligada à sua atuação contra a reativação da indústria de mineração em El Salvador. López teve papel ativo na coleta de assinaturas que foram entregues ao Supremo Tribunal de Justiça e à Assembleia Legislativa de El Salvador, exigindo a revogação da lei que reabilita a mineração de ouro. “O que fizeram com a minha filha é um crime”, declarou.

Para David Ábrego, representante de organizações de direitos humanos, o fato de López estar incomunicável, sem acesso à defesa, configura um caso de desaparecimento forçado. “Há riscos de que estejam ocorrendo atos que podem ser classificados como tortura”, advertiu.

Ele informou que a prisão de López será denunciada formalmente à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e aos mecanismos das Nações Unidas, incluindo a Relatoria Especial sobre Direitos Humanos e a Relatoria sobre Desaparecimentos Forçados e Detenções Arbitrárias.

Reação das entidades

Em 2024, López foi reconhecida pela BBC como uma das 100 mulheres mais influentes e inspiradoras do mundo, devido à sua atuação em casos de corrupção de alto impacto político. Frente à sua prisão, dezenas de entidades nacionais e internacionais se manifestaram. Elas denunciam um padrão de criminalização contra defensores de direitos humanos sob a administração Bukele.

Em comunicado publicado na plataforma X, o Centro contra a Corrupção e a Impunidade na América Central do Norte (Ccinoc) classificou a ação como “arbitrária” e parte de uma “preocupante estratégia sistemática de criminalização” de defensores de direitos humanos no país, atribuída ao governo de Nayib Bukele.

A entidade alertou que a perseguição de Bukele “não apenas atinge as instituições democráticas, como reprime vozes críticas e dissidentes, que são essenciais em qualquer sociedade democrática”.

A Cristosal, onde Ruth desenvolve um reconhecido trabalho de monitoramento e denúncia de violações de direitos humanos, tem sido alvo frequente de intimidações e perseguições.

Desde o início do estado de emergência em 2023, declarado pelo governo sob o pretexto de combater o crime organizado, a organização vem denunciando prisões arbitrárias, torturas e violações sistemáticas aos direitos fundamentais. A entidade alerta que vem sendo alvo de ataques sistemáticos nas redes sociais.

Para o Ccinoc, “as ações empreendidas pelo atual governo representam sérios retrocessos no exercício da democracia e na proteção das liberdades públicas em um Estado pluralista”.

“Não haverá verdadeira justiça ou desenvolvimento enquanto aqueles que se atrevem a levantar suas vozes pela verdade e dignidade forem silenciados e perseguidos”, enfatizou.

IM-Defensoras

Em comunicado, a Rede Salvadorenha de Mulheres Defensoras dos Direitos Humanos (IM-Defensoras) somou-se ao apelo pela imediata libertação de Ruth, exigindo garantias de proteção para os demais membros da Cristosal.

“Exigimos que o Estado garanta o devido processo legal, a integridade física e moral da defensora, e o fim das campanhas de difamação contra a organização”, declarou a entidade.

“Nós, da IM-Defensoras, nos unimos à reivindicação do CRISTOSAL para que seja garantida a integridade física e moral do defensor e o devido processo legal. Além disso, exigimos garantias de proteção aos demais membros da organização CRISTOSAL, bem como o fim das campanhas de difamação e descrédito contra ela.
Por fim, apelamos à comunidade internacional para que permaneça vigilante em relação à situação de Ruth e se junte à exigência de sua imediata libertação. Estamos preocupados com sua saúde e bem-estar. Apelamos ao Estado para garantir o devido processo legal”, afirmou.

A comunidade internacional tem sido instada a permanecer atenta ao caso. “Estamos preocupados com sua saúde e integridade, e pedimos ao Estado salvadorenho que respeite os direitos da defensora e promova sua imediata libertação”, diz o comunicado.

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