Anamaria Leme pelo Facebook –
Meu pai era advogado. Ir visitá-lo no trabalho era sempre incrível. Ele era dos tempos das máquinas de escrever, onde eu encontrava os tipos *, %, &, $, # e tantos outros que me encantavam. O barulho que a máquina fazia ao digitar – tec, tec, tec, plim – a pressão do dedo na tecla encontrava resistência. Naquele tempo ainda não havia o @, o computador foi inventado muitos anos depois.
Num de seus escritórios, na praça Patriarca em São Paulo, havia um elevador pantográfico com portas douradas que me causava o medo e a euforia que depois encontrei nas montanhas russas. Enquanto subia, podia ver as escadas em redor e as pessoas que subiam à pé.
No Banco do Brasil, onde trabalhou a maior parte de sua vida, eu torcia para estar na hora em que o carrinho do lanche passava distribuindo pães franceses crocantes com manteiga e café com leite. Tinha uma placa incrível com o nome dele na sala, que ficou comigo depois que ele morreu. Meus olhos de criança viam tudo com encantamento, orgulho, segurança e emoção.
Mais tarde, depois de me separar, já mãe, fui trabalhar como secretária executiva em grandes escritórios de advocacia. Nos 15 anos em que trabalhei com advogados, pude observar a alegria e a solicitude dos estagiários que entravam – sua primeira conquista nessa escalada-, a quem, apesar de não termos a obrigação, ajudávamos com prazer, pois ainda tinham a leveza dos jovens, sorriam, coluna ereta, pediam por favor e diziam obrigado. Trabalhavam muito esses meninos e meninas. Avançar na hierarquia num escritório desses exige muito, muito mesmo.
Com o tempo e as regras de conduta, muitos vão assumindo uma postura comercial que avança sobre sua vida particular e sobre seu jeito de ser engolindo-os. Viram advogados full time. É triste de ver.
Talvez quando eu era criança, apenas não percebesse esse clima no ar. Ou talvez não fosse mesmo assim. Ou, ainda, talvez meu pai não fosse assim, como também não eram alguns advogados incríveis que conheci, como Dr. Armando Gonçalves, Dra. Rosolea, Dr. Guilherme Barranco, Dra. Marcia Sato, Dra. Nani Moncau, Dra. Maria Fernanda Fondora Frateschi, Dra. Ana Elisa Vaz Guimarães R. M. Rocha, Dr. Dinir S.Rios da Rocha, Beatriz Pacheco, Paulo Octaviano Diniz Junqueira Neto, Dr. Leonardo Almeida, Ana Carolina Nomura, Marcelo Schwartzmann, e tantos outros queridos.
Desejo aos advogados e aos que um dia irão se tornar advogados que fiquem atentos para não levarem para fora do escritório essa hierarquia que endurece e brutaliza; e que tentem abrandá-la no seu dia-a-dia.
Que exista na vida de vocês expediente separado de vida particular. Que jamais levem seu notebook para a praia e que construam lindos castelos de areia com seus filhos. Que prestem atenção ao que eles dizem.
Que jantem mais vezes com seu amor. Que estejam presentes. Que almocem com seus pais no domingo com o celular desligado.
Que jamais desperdicem dinheiro ou ostentem para impressionar qualquer pessoa, para “fazer parte” ou para encobrir frustrações do seu trabalho.
Que jamais percam a noção de quem está certo numa causa e que o critério que reja sua vida seja o do que é correto e não o de quem paga mais.
Que dê bom dia aos faxineiros e ao big boss da mesma forma e isso não mude quando seu chefe estiver perto.
Que seja gentil com as pessoas, independentemente do cargo delas e de sua profissão. E que sinta isso do fundo do coração e não faça isso apenas porque é politicamente correto. Faz toda a diferença.
É o que eu desejo do fundo do meu coração aos advogados no seu dia.