Filhas de angolano sofrem agressão racista em Joinville

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Por Felipe Cardoso, publicado no CEERT – Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades – 

As duas crianças vinham sendo sistematicamente ofendidas por vizinha de Domingos Amândio Eduardo, angolano que é pastor da igreja Aliança AMPC Internacional.

Filhas de angolano sofrem agressão racista em Joinville
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Domingo, dia 17 de julho. Ironicamente, um dia após a realização da primeira Marcha da Negritude Catarinense, Domingos Amândio Eduardo, é acordado com os gritos de sua esposa, Raquel Iara Longhi Eduardo. Ela berrava com a vizinha.

Após se levantar para saber o que estava acontecendo, Domingos presenciou o que sua sobrinha, Suzana Mateus, já havia relatado meses atrás. Sua vizinha Dinorá, do bairro João Costa, Zona Sul de Joinville, havia proferido diversas ofensas racistas às suas duas filhas pequenas que brincavam na rua, aproveitando o dia de folga dos estudos.




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Domingos finalmente tomou uma atitude para o caso. (Foto: Arquivo pessoal)

Domingos é angolano e está em Joinville há cerca de dois anos. Pastor da Igreja Aliança AMPC Internacional e estudante de Direito, já havia experimentado o racismo à brasileira em algumas situações, mas sempre procurou relevar e seguir adiante. Mas ao se deparar com a cena de sua vizinha proferindo duras palavras contra suas pequenas filhas e percebendo as consequências e desdobramentos que toda essa situação causou nas vidas das meninas e de toda a sua família, Domingos decidiu tomar uma atitude.

Primeiramente, junto com sua companheira, entraram em contato com a vizinha para resolver a situação de maneira civilizada. Inutilmente. Desta vez, além de ouvirem a senhora repetir as ofensas, ainda foram ofendidos. Conhecendo as leis brasileiras e sabendo que racismo é crime, decidiram acionar a polícia para registrar o boletim de ocorrência.

Devido a demora da chegada dos policiais, Domingos e Raquel se dirigiram à delegacia para registrarem a queixa. Em casa, esperando os policiais, ficou a prima de Domingos, Palmira Kalembela, também angolana. Cerca de duas horas depois de serem acionados, os policiais chegaram a casa, mas ao invés de tomarem o depoimento sobre o ocorrido, trataram de constranger Palmira, perguntando-a, inicialmente, se eles estavam legalmente no Brasil.

Posteriormente, ameaçaram Palmira, caso ela estivesse mentindo sobre a legalidade deles em terras tupiniquins. Como se não bastasse o despreparo e o desdém com o caso, não entraram em contato com a responsável pela agressão a duas crianças.

Ao voltarem para a casa e ouvirem o relato de Palmira, Domingos e Raquel decidiram tornar público o ocorrido para buscar ajuda com pessoas que realmente se sensibilizassem pelo ocorrido e os ajudassem a conseguir fazer a justiça. Ao entrar em contato com o Movimento Negro Unificado, Domingos foi orientado a procurar a Defensoria Pública e dar continuidade no processo. Também foi orientado a pedir ajuda para o movimento negro de Joinville, para obter suporte de forma mais rápida.

Foi então que Domingos entrou em contato com o Movimento Negro Maria Laura para contar um pouco do sofrimento enfrentado por ele e suas filhas ao se depararem com o racismo.

Em estabelecimentos comercias, na escola, na igreja, na polícia, na rua de casa, no mercado de trabalho… A lista de setores em que já sofreu com o preconceito é grande e impressiona Domingos, que está aprendendo as artimanhas e cada de detalhe do racismo institucional brasileiro.

Em outro momento, Domingos recorda de outro caso de racismo que enfrentou na cidade. Em uma manhã do mês de março, ao passear em um shopping de Joinville com a família, ao passar em frente a uma joalheria, logo atrás da esposa e das filhas, Domingos parou para ver algumas das joias que estavam na vitrine. No momento em que passou pela porta, uma das atendentes fechou a porta. Perplexo, Domingos permaneceu imóvel durante alguns segundos, descrente do que havia ocorrido. Não obteve nenhum pedido de espera ou explicação por parte da atendente. Simplesmente a porta fechada.

Domingos procurou a administração do shopping e ao entrar em contato com um dos seguranças, recebeu a resposta de que o estabelecimento em questão tinha essa prática todas as vezes que estavam mexendo com o dinheiro do caixa. Em outra oportunidade, no mesmo horário, Domingos decidiu fazer um teste, enviando sua esposa, que é branca, para perceberem se era mesmo o caso da política da loja. Ao contrário do que aconteceu com o marido, Raquel foi bem atendida e não teve a porta fechada.

Depois de vivenciar todas essas situações, o angolano, pai de duas filhas, busca, junto da sua esposa, justiça para os dois casos. Domingos pretende continuar e intensificar sua luta pelo combate ao racismo em Joinville.

Veja o vídeo:

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