“Filho, estão perseguindo o Lula”

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Do amigo Chico Silva, do Facebook – 

Para meu pai




Semana passada voltava de trem do Engenhão onde fui assistir algumas provas do atletismo na Paralimpíada. Enquanto a minhoca de metal chacolhava pelos trilhos da Central toca o celular na mochila. Era o número de casa. Na verdade o da casa do meu pai, seu Israel, o Cabelinho, que vive no mesmo lugar onde fui criado e passei quase 30 dos meus 40 e poucos anos, no Lauzane Paulista, bairro periférico da ZN paulistana. Como o velho não tem muito o costume de ligar atendi rápido e preocupado. Só quem tem pai idoso e morando sozinho sabe do que estou falando. Para meu alívio era só um pai que queria notícias do filho. Sabe como é. Não é todo senhor de quase 80 anos que tem whatsapp, facebook e outras dessas modernices. Após as perguntas de praxe, o velho começa a falar do Santos, o assunto que, além da nossa pequena e espevitada Júlia, é o que mais nos une hoje em dia.

Depois de resmungar que se não fosse o empate com o lanterna América e a derrota para o fraco Figueirense estaríamos ponto a ponto na briga com Palmeiras e Flamengo, o papo mudou de Peixe para Lula. Mês que vem meu pai completa oito décadas de vida e labuta. Assim como o conterrâneo presidente deixou o agreste pernambucano, mas precisamente a pequena Riacho das Almas, na grande Caruaru, e veio ao Sul “Maravilha” para escapar da fome e da miséria. Assim como o conterrâneo presidente, tem o Náutico de Recife como outra paixão no futebol e a quarta série do velho primário no currículo. Em São Paulo ambos tomaram rumos distintos, mas vencedores. Após décadas de militância política e sindical, alguns fracassos e muitas conquistas, Lula se tornou o maior presidente da República desde Getúlio Vargas. Meu pai foi motorista e depois um dedic ado e respeitado chefe de manobra na Sabesp, empresa pela qual trabalhou por mais da metade da sua vida profissional.

Mas apesar dessas “coincidências”, seu Israel só deu o primeiro voto a Lula em 2002. Antes, apesar dos meus protestos e fracassadas tentativas de convencimento, votou em Collor e FHC. Em outras eleições apostou em nomes como Antônio Ermírio de Morais para governador e Maluf para prefeito. Impactado pelo “Lulinha Paz e Amor”, resolveu digitar 13 na urna. Quatro anos mais tarde “Lulou” de novo. Foi sua última eleição, Aos 70 anos não era mais “obrigado” a votar e guardou o título na gaveta. Mas pelo jeito pretende tirá-lo de lá em 2018.

– Filho, estão perseguindo o Lula. Esses caras não conseguem provar nada contra ele. Aquela entrevista do procurador foi uma vergonha. Querem prendê-lo só para tirá-lo da eleição de 2018. Se não conseguirem, o Lula pode contar comigo. Tenho 70 anos e não sou obrigado a votar. Mas farei isso só para elegê-lo de novo.
Mesmo só com a quarta-série do antigo primeiro grau meu pai lê mais jornais e assiste a mais noticiários do que a maioria dos jornalistas que eu conheço, eu incluído. E como não é da internet, não tem acesso a blogs progressistas ou sujos. Ou seja. Só consome informação da mídia convencional e, notadamente, anti-Lula e anti-PT.

Enquanto o ouvia surpreso o trem se aproximava do destino final, a Central do Brasil. Ouvi tudo e antes de desligar só consegui dizer para ele.
– Pai, fica tranquilo que se precisar eu te levo para votar.

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