O que é uma efeméride? É quando se “comemora” uma data importante.
Por Adriana Amaral, compartilhado de seu Blog
Charge: Laerte
Relembro, aqui, o 17 de abril de 2016. O dia em que os deputados brasileiros brincaram de “casinha”, e remeteram às crianças nos programas infantis de TV.
“Pela minha família”…
Mas também pela propriedade:
“Pelo Brasil”
E lançaram a semente do aparthaid religioso:
“Por Deus”.
367 deles votaram pelo impeachment da então presidenta #DilmaRousseff. Entre eles o ex-capitão, político profissional, que aproveitou para homenagear um torturador.
Foi uma festa de horrores quando, acredito, foi iniciada a guinada do país para a direita radical. Onde começou o vale tudo pelo poder.
Apenas três partidos votaram, em bloco, contra o impedimento: PCdoB, Psol e PT. O impeachment foi confirmado pelo Congresso Nacional.
O voto do povo foi retirado pelo poder. A justificativa?
As tais “pedaladas fiscais”, que o tempo -e a Justiça- confirmou terem sido usadas como pretexto. Dilma foi inocentada.
Eu acompanhei a votação pelo telão, instalados no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. A cada voto ouvíamos o que, eu diria, ser a confissão do votante.
A maioria deles não teve dúvidas de mostrar o seu lado e o porquê estava alí, no #CongressoNacional. Nós, a militância pró Dilma, nos espantávamos: não era para representar nem para proteger o interesse do povo.
Lembro-me de ter recebido um balão de gás vermelho.. A ideia era encher o céu azul após a votação, mas eles se tornaram lamentos isolados à medida em subiam… Pareciam dizer: estamos aqui. Enfraquecidos, mas não desistiremos.
Nos dias e meses seguintes aqueles brados de “liberdade” eram noticiados à exaustão. Depois, as justificativas comprometedoras desveladas.
Reproduzo um deles:
“Neste dia de glória para o povo brasileiro, tem um nome que entrará para a história nesta data, pela forma que conduziu os trabalhou nesta casa. Parabéns, presidente Eduardo Cunha…”
“Como vota, deputado? indaga o homenageado, o então presidente da Câmara dos Deputados, para dar lugar a outro algoz, na continuação da fala do então deputado:
“Perderam em 64, perderam agora em 2016, pela família e pela inocência das crianças que o PT nunca teve, contra o comunismo, pela nossa liberdade, contra O Folha de São Paulo (sic), pela memória do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff…”
E a ladaínha de ódio continuou, para horror de todos que ouviam e tinha consciência da história recente do Brasil.
O ruído se ouviu, mas, tal a perplexidade, talvez foi contido. Até hoje não entendo como o Congresso Nacional permitiu que um torturador fosse homenageado em plena seção!
Dois dias depois, a presidenta Dilma descia a rampa do Planalto. Já escrevi sobre isso e não vou me repetir, e o Brasil desenterrou uma história que se nunca foi esclarecida de fato, tornou-se verdade para os ignorantes.
Aquele que ocupava acento, de forma burocraticamente, ganhou a mídia e de metade do eleitorado brasileiro. Mas o ex-presidente foi apenas uma peça nesse show de horrores.
Parte da sociedade, conduzida pelo mercado e também pelos formadores de opinião caíram no conto do vigário que tornou-se presidente do Brasil. Ali nascia outro algoz, na justificativa do “Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”.
Quem diriam, as famílias homenageadas – as nossas famílias- racharam desde então. E o rumo dessa história mudou com muita dor e luta.
O capitão enriqueceu no poder e ainda anda com a língua e rédeas soltas por aí. Mas, o que mais me preocupa, é que hoje tem audiência, e seguidores, e espaço, e poder. Até o momento que a Justiça brasileira se fizer.
Vivemos um momento lindo da Democracia do Brasil. Dilma retomou o seu protagonismo, agora mundial, mas, como diria as canções que tanto contam sobre o nosso povo e país.
“É preciso estar atento e forte…”
“Eu tenho medo… do fantasma escondido no porão.”..
“Acorda amor…”
Nota:
Hoje, relembramos o Massacre dos Trabalhadores do Eldorado do Carajás:
há 27 anos 19 trabalhadores sucumbiram lutando pelos seus direitos nessa terra.