Folga para quê?

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Por Mouzar Benedito, compartilhado de Construir Resistência

Um dos meus muitos empregos foi no grupo Pão de Açúcar, rede de supermercados que estava começando a crescer quando eu tinha 18 anos de idade. Era calculista de preços.




Imagem do Mercado Municipal de São Paulo

Éramos uma equipe de oito pessoas. Nosso trabalho não era tão necessário no sábado. Bastava plantão de um de nós, para alguma emergência. E eu sonhava não ter que trabalhar aos sábados. Propus que fizéssemos um abaixo-assinado para isso, mas logo veio um cara bravo falar comigo. Detalhe: não era chefe, nem nada, era colega. Falou:

— ‘Cê’ quer que a gente pare de trabalhar sábado, é? E o que eu vou ficar fazendo lá em casa?

Respondi que era problema dele. Logo vi que não teria sucesso. A iniciativa morreu. E para completar, no sábado seguinte o chefe veio falar comigo. Explicou que de três em três meses faziam um inventário geral em todas as lojas, contando todas as mercadorias que existiam nelas. Como não podiam fechar as lojas para isso, o balanço era feito depois que acabava o expediente, à noite.

O pessoal trabalhava a noite inteira, e de manhã já continuava trabalhando ali mesmo. Desta vez, segundo dizia, tivemos sorte, pois o dia do inventário caiu num domingo. Então não precisaríamos trabalhar a noite toda, porque na época os supermercados não abriam aos domingos e o inventário seria nesse dia. E foi logo me convocando para estar lá às oito da manhã em ponto. Meu primeiro pensamento foi dizer que não podia, inventar que tinha compromisso. Mas resolvi ser honesto e falei:

— Não venho.

Ele esbravejou:

— Todo mundo é obrigado a vir. Não é permitida falta de jeito nenhum.

— Não venho. — respondi.

E continuamos a conversa:

— Por que? Qual é seu compromisso pra amanhã?

— Descansar.

— Então… Você vai ficar em casa?

— Vou. Coçando o saco.

— Então tem que vir.

— Não venho.

Houve discussão e ameaças. Não fui trabalhar e não aconteceu nada comigo, a não ser ver caras feias durante uns dias — caras feias de gente que eu já achava feia, porque nunca gostei de puxa-sacos.

Pelo menos uma coisa ficou clara: às vezes o empregado permite que montem nele. Como dizia um velho que conheci, se há explorador é porque existe gente disposta a ser explorada. Não é sempre assim, mas às vezes é.

Então, peitemos os patrões e os puxa-sacos.

Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos.

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