Depois de quase 40 anos, meu divórcio com o jornal Folha de São Paulo consumou-se, oficialmente, em 27 de agosto de 2015.
Depois de dois meses de não pagamento, mensagens com ofertas promocionais, ameaças de interrupção da entrega, trocas de e-mail entre mim, a ombudsman e o diretor de redação, jornalista Sérgio D’Ávila, a separação foi inevitável.
Às minhas críticas sobre como a Folha conduz suas linha editorial e noticiário, o jornal argumentou com o equilíbrio de posições entre seus colunistas.
Sérgio D’Ávila tem uma balança de dois pratos. Neles equilibra Marx e Olavo de Carvalho. Acaba de perder Ricardo Melo e manterá Ronaldo Caiado, um Panamax da direita, que precisaria de toda a militância dos PCO (Partido da Causa Operária) e PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados) para compensar.
De minha parte, confesso certa dor. Sinto a falta do barulho do calhamaço impresso, sobrevoando o portão de minha casa, e caindo sobre o chão da garagem, invariavelmente pesado com alguma desgraça nacional.
Por mais que houvesse dubiedade em sua atuação nos anos de chumbo, um ar de oposição, rebeldia, modernidade, me atraía diante da escassez de opções. Assim a Folha ganhou notoriedade e expressão diante dos demais.
Que outro jornal, que não fosse o hebdomadário “O Pasquim”, me traria Tarso de Castro, Sérgio Augusto, Paulo Francis, Ivan Lessa?
Quem começaria a mostrar-me os novos caminhos da cultura se não Matinas Suzuki, Miguel Pereira, Pepe Escobar, Luís Antônio Girón, os Andrés, Forastieri e Barcinski, Álvaro Pereira Jr., Gilberto Vasconcellos?
A falta de Cláudio Abramo foi logo amenizada pela seriedade de Clóvis Rossi. A criatividade dos Ottos, Carpeaux e Rezende, por Cony, e na Folha, aprendi a não largar de Luís Nassif.
Pois é, de repente, acabou, e vocês sabem como e porquê.
A desistência da assinatura não significa que perderei o que escrevem Jânio de Freitas, Clóvis Rossi, Vinícius Torres Freire, enquanto por lá continuarem. Vez ou outra, Elio Gaspari valerá a pena. No cada vez mais tímido caderno de esportes, as colunas do combatente Juca e do tático Tostão.
Como o farei?
Simples. Caminhando, em dias certos, até a banca e perguntando: “Seu João, a Folha já chegou”?
JABÁ: Não deixem de ler todos os domingos neste blog; segundas, terças-feiras, nunca, sei lá, neste GGN, o “Dominó de Botequim”. Pode ser divertido.