Por Luciano Martins Costa, jornalista e escritor, Facebook
Hoje, lendo a Folha diariamente, me dou conta, num estalo, de que a maior parte das palavras impressas é exatamente o que, com precisão, poderíamos chamar de um jornalismo que, visto de perto, é apenas um amontoado de manchas na tela. Visto de longe, compõe o quadro da desolação cultural que nos assola.
Estou pensando em Ronaldo Antonelli, que foi redator da Folha Ilustrada, de quem tive a honra de publicar dois romances: “O Crepúsculo das letras” e “Os Dias do condor”. Ainda vejo sua figura frágil, no meu “escritório-café” da Livraria Martins Fontes, e me lembro de sua alegria ao folhear pela primeira vez sua obra.
Lembro também de sua família, preenchendo de alegria aqueles seus últimos dias. Fizemos um lançamento, com outros autores, no salão da Academia Paulista de Letras, e ali estavam seus amigos, e amigos de amigos.
Então penso como a literatura brasileira se desvanece sob a cortina do cinismo-fashion que domina a imprensa cultural no Brasil desde que a Folha de S. Paulo decidiu que o “velho jornalismo” era por demais engajado, uma espécie de “jornalismo impressionista”, fosse lá o que isso significasse.
Hoje, lendo a Folha diariamente, me dou conta, num estalo, de que a maior parte das palavras impressas é exatamente o que, com precisão, poderíamos chamar de um jornalismo que, visto de perto, é apenas um amontoado de manchas na tela. Visto de longe, compõe o quadro da desolação cultural que nos assola.
O mundo dos livros virou um mercado de oportunidades, uma espécie de “day trade”, onde nada perdura.
Saudade de gente como Ronaldo Antonelli, que chorava de alegria ao reler o que havia escrito, a se perguntar em voz baixa: “Eu criei isto?”