Fome de ciência: a política de exclusão das mulheres negras na academia

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Mulheres negras são as principais vítimas das desigualdades no ensino e na produção científica dentro da universidade

Por Luizete Vicente*, compartilhado de Brasil de Fato




Pesquisa do Instituto Nacional de Saúde (NIH) dos EUA aponta que desigualdade entre mulheres negras e brancas na pesquisa acadêmica prejudica diretamente a inovação e o desenvolvimento científico – Shutterstock

Ao pensar o tema do artigo passei por diversos questionamentos, pois temos fome de muitos direitos no Brasil. Fome de Justiça, de Educação, de Saúde, de Trabalho e tantos outros direitos que são retirados do povo negro, indígena, quilombola, das mulheres, jovens periféricos e demais pessoas que vivem marginalizadas. 

No entanto, um tema tem me acompanhado ultimamente. Uma questão que vez ou outra aparece através de perguntas. O que você vai fazer agora que terminou o doutorado? Quer ser professora? Vai continuar pesquisando? Perguntar seguidas de uma pressão por ter finalizado o maior nível de formação acadêmica. 

Com tudo, essas questões são logo respondidas quando vejo os dados sobre a participação de mulheres negras, pretas e pardas, na produção científica brasileira. Dados alarmantes que começam no acesso a uma graduação, pois segundo o Censo da Educação Superior de 2016, estima-se que apenas 10,4% das mulheres negras têm acesso ao ensino superior e menos 3% conseguem fazer parte das atividades de ensino e pesquisa nas instituições acadêmicas.

Na pós-graduação os dados pioram. De acordo com as informações da área de Tecnologia da Informação do CNPq, das bolsistas de doutorado-sanduíche vigentes no país, apenas 4,9% das mulheres negras são bolsistas, enquanto as brancas são 30,9% e não há nenhuma indígena beneficiada. 

Essa desigualdade permeia a caminhada das mulheres negras que, assim como eu, estão na busca por qualificação e melhores condições de vida. Apesar das mudanças recentes, com a ampliação das bolsas e editais que promovem o seu acesso, a participação dessas sujeitas sociais ainda é bastante desigual. 

Os obstáculos são grandes e só podem ser superados quando existem políticas de Estado que garantam o acesso às populações historicamente excluídas, a exemplo, as cotas nas Universidades, bolsas específicas para pessoas negras e o aumento de investimentos na ciência brasileira.
 

*Luizete Vicente é militante do movimento negro, jornalista e doutora em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). 

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Fonte: BdF Ceará

Edição: Camila Garcia

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