Fotógrafo documenta sua depressão em retratos inquietantes

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Por Eduardo Ruano, Conti Outra – 

O americano Edward Honaker, hoje com 22 anos de idade, foi diagnosticado com depressão em 2013. Como forma de expressar e enfrentar sua condição adversa, ele desenvolveu uma série de autorretratos nebulosos que revelam a angústia de conviver com a doença que representa a maior causa de incapacidade em todo o mundo.




As fotos monocromáticas de Edward transformam a depressão em algo visualizável, esperançosamente compreensível. Além do mais, elas solidarizam outras pessoas que também sofrem dessa doença, através de uma rede de compartilhamento empática.

Após se ver engolfado em subsequentes sensações de melancolia, procurar ajuda profissional e, por fim, ser diagnosticado com depressão, muita coisa mudou na vida de Edward: para pior, quando compreendeu que teria que lidar com esse fantasma durante a vida toda; e para melhor, quando percebeu que não estava sozinho, e soube que seria testado a usar ambas criatividade e perseverança para elaborar planos de combate à doença. Um desses planos envolve arte que, para muitos, como Edward, é uma forma eficaz de terapia.

Essas fotos emblemáticas se destinam a retratar a impotência e insignificância sentidas por quem está lutando contra um transtorno depressivo. As fotografias incitam uma reação visceral; são inquietantes em essência.

Em entrevista para o jornal The Huffington Post, Edward disse:

“Tudo que eu soube é que eu me tornei ruim para as coisas que eu costumava ser bom, e eu não sabia porquê. Sua mente é quem você é, e quando ela não funciona adequadamente, é assustador.”

Edward só pôde entender o que se passa em sua mente após receber o diagnóstico clínico de depressão. Foi então que ele resolveu se fiar a uma de suas paixões, a fotografia, pegando sua câmera para transformar suas emoções em algo tangível. O resultado é uma sequência de autorretratos que demonstram sua experiência pessoal com a depressão.

“É meio difícil sentir qualquer tipo de emoção quando você está deprimido, e eu acho que a arte pode, definitivamente, mover as pessoas.”

Enquanto está em uma crise depressiva, Edward – assim como a maioria dos depressivos – gosta de ser apenas ouvido, não julgado.

O americano espera que suas imagens desconcertantes abram discussões solutivas sobre depressão e também outras doenças mentais incapacitantes. De fato, não há uma só pessoa que não é (ou será) acometida por alguma desordem mental. Essa não é uma profecia pessimista, apenas uma projeção realista de algo que, até hoje, não foi (nem pode) ser desmentido.

Edward mantém a expectativa de que suas fotos possam ajudar outros depressivos não só a externalizar aspectos de sua doença mental, mas também que façam isso de forma a aceitá-la como parte de si mesmos.

“Quando estava fazendo este meu portfólio, eu me perguntei se eu era o tipo de pessoa a quem os outros se sentiriam confortáveis de conversar se estivessem passando por um momento difícil. Na verdade, na época, eu acho que não era. Eu ainda tenho um bom caminho a percorrer, mas toda a experiência me fez muito mais paciente e compreensivo para com os outros.”

Essa iniciativa artística e terapêutica de Edward é um avanço significativo, visto que há um resistente estigma da depressão: nem todas os depressivos se sentem confortáveis em compartilhar emoções obscuras, tendências retroativas e pensamentos suicidas, por exemplo. O americano foi corajoso ao decidir não manter seus espectros malignos presos dentro de si.

“Eu acho que uma maneira realmente útil para acabar com o estigma em torno de uma doença mental como essas é estar presente para aqueles que podem estar sofrendo. Você nunca sabe o que os outros estão passando, então o que você realmente pode fazer é ser gentil, não julgador.”

A depressão afeta, diretamente, 121 milhões de pessoas no mundo inteiro, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Nos Estados Unidos, 14,6 milhões de pessoas (15% da população) sofrem de depressão e, a cada ano, novos 6 milhões vêm descobrindo a doença no país, de acordo com o National Institute of Mental Health. No Brasil, a estimativa é de que pelo menos uma em cada dez pessoas sofra de depressão. Isso sem contar todos aqueles que escondem a doença por trás da vergonha e do silêncio.

Na verdade, a depressão é um mal que todos nós compartilhamos: em alguns ela se manifesta; em outros, permanece adormecida.

Diferentes pessoas lidam com a depressão de formas diferentes, mas, em geral, todas elas experimentam uma espécie de subtração emocional que decorre, principalmente, da incapacidade de lidar com seu vazio existencial. Assim, depressivos sentem-se temerosos e incompreendidos, pois estão, eles mesmos, presos em um vórtex de confusão e medo. As pessoas acometidas pela depressão têm muitas percepções delirantes, assumem perspectivas pessimistas; elas imaginam como se estivessem olhando para um precipício no qual, a qualquer momento, podem derrocar. Como dizia Nietzsche, “quando você olha muito tempo para o abismo, o abismo olha para você”.

Confira abaixo os autorretratos de Edward Honaker, os quais oferecem uma ótica simbólica acerca da depressão. Eles são um poderoso lembrete de que, embora a experiência de cada depressivo seja pessoal, há sentimentos oriundos dessa doença que são universais:

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