O jornal Libération desta terça-feira (11) trata de um assunto que vem preocupando pais, educadores e especialistas no país: o suicídio de adolescentes. Uma reportagem especial realizada pelo diário mostra uma forte progressão deste problema entre jovens, principalmente do sexo feminino, com um aumento de mais de 40% nos últimos dois anos.PUBLICIDADE
Compartilhado de RFI
Libération explica que 2020 e 2021 foram marcados por uma alta de suicídios e tentativas de suicídio de jovens que muitos especialistas atribuem aos efeitos dos lockdowns e da crise sanitária, em geral. No entanto, a amplificação deste fenômeno entre garotas com menos de 15 anos é classificado como “nova” e “preocupante”.
No hospital psiquiátrico Le Vinatier de Lyon, centro-leste da França, as hospitalizações por tentativa de suicídio deram um salto tão grande nos últimos tempos que a direção do estabelecimento precisou revisar seus dispositivos de acolhimento de emergência. O chefe do serviço de pedopsiquiatria do local, Nicolas Georgieff, afirma em entrevista ao Libération que jamais o setor havia sido tão solicitado.
A prática também vem se tornando mais violenta entre as meninas, com um aumento de gestos de agressão física contra si mesmas, dizem os especialistas entrevistados pelo jornal. Como o fenômeno ainda é novo, os médicos são cautelosos ao apontar os motivos destas práticas.
Meninas são mais abaladas pela pandemia
Angela Consoli, especialista de Psiquiatria da Criança e do Adolescente do Hospital Pitié-Salpetrière, em Paris, afirma ao diário que talvez as garotas tenham sido mais afetadas pelo estresse social da crise sanitária, pela sensação de insegurança e pela diminuição de relações familiares e sociais. No entanto, ela salienta que isso não significa que os meninos tenham sofrido menos durante o período, “mas talvez o estresse deles se manifeste de outra maneira”, diz.
Segundo a especialista, além do aumento de suicídios, uma alta massiva de depressões e problemas de ansiedade vêm sendo registrados entre os adolescentes franceses, independentemente do sexo.
Em um editorial intitulado de “pedido de socorro”, Libération afirma que parte do fenômeno pode ser explicado pela resistência na França em reconhecer a relevância da saúde mental das crianças e adolescentes. O texto salienta que a quantidade de profissionais especializados na questão é insuficiente, o que explica a superlotação dos serviços de pedopsiquiatria hoje no país.
Diante dos números preocupantes recolhidos e apresentados pela reportagem, “é urgente a necessidade de reforço destes setores e do estabelecimento de um serviço dedicado à saúde mental nas escolas”, diz o jornal.