Por Armando Rodrigues Coelho Neto, compartilhado de Jornal GGN –
Os crimes eleitorais são genéricos e dependem de resposta a uma questão: a fraude teve condão de desequilibrar o pleito?
Resolver tudo na bala e ou na porrada. A regra é (era?) essa nas cidadelas e republiquetas. Até que, num avanço civilizatório, trocaram balas e porradas por votos, para atender os interesses das famílias em luta pelo poder. Para isso, foi preciso convencer o povo de que o voto era/é bom para ele (povo).
Não tenho ilusões democráticas, nem fé nas instituições. Tanto quanto o voto, aí estão para resolver os conflitos delas – das famílias do dinheiro, da bala e da porrada. A justiça serve para resolver herança, dirimir conflitos civis (deles), com Direito Civil para rico e Direito Penal para pobre. A polícia? Serve para dar porrada no povo.
Em escala maior, basta trocar a palavra famílias por grandes conglomerados, que com guerras comerciais, dumping, sabotagens, golpes de estado e mísseis resolvia tudo. Nesse caso, justiça, polícia, Ministério público a serviço das famílias/conglomerados e ou dos grandes grupos políticos aos quais servem.
Nesse pretenso estágio civilizatório, há casos em que abrem mão dos recursos drásticos para influenciar o voto. Mas, para isso, é necessário dizer ao povo que votar é bom para ele. Para os “esclarecidos”, a ilusão do voto como cidadania, participação política, direitos humanos, processo civilizatório, coisa e tal.
Vamos sair da republiqueta. Volto no tempo e entro num sítio na cidade de Santa Isabel/SP. Minha sobrinha Analu (oito anos) me deu uma lição. Quando perguntei se acreditava no Coelho da Páscoa, respondeu: “acreditar, acreditar… Mas a fantasia, a brincadeira é tão bonita”. Ela não queria abrir mão da ilusão de fantasia.
Como Analu, não quero abrir mão das instituições, mesmo não crendo nelas. Sei quem as move: a elite. Mas, se preciso entro na Justiça, chamo a polícia. Quem sabe? Na minha fantasia, defendo a legalidade, instituições, Constituição e abraço utopias. Sem ilusões puristas ou falso moralismo. Sonho é sonho, né Analu?
Pouco importa que digam que defendo corruptos, que direitos humanos são coisas de bandido. Mas, não vou distribuir flores na guerra, enquanto Moros, Marinhos, Malafaias, Bozos e milicos sem princípios e traidores disparam tiros contra o povo. Helenos, Ajaxes, Mourões e Villas Boas sabem que Brasil tem dono, e “não é nóis”.
Ratos fugindo do porão, vejo que a febre aftosa afetou o gado, e o rol de comunistas aumentou: Malta, Bebiano, Frota, Janaina, Kataguiri, Joice, Bivar, Dória, Witzel, Mandetta, Caiado. A lista dos comediantes também: Fagner, Lobão, Gentile, Weintraub e o marido da “conja”. Todos com a honrosa chancela “Já vai tarde”.
O lobo de plantão no STF usa peruca. Como disse uma jornalista, o que esperar de alguém que não assume uma simples carequinha? Tanto quanto o Fachin, o Peruca também é deles. Portanto, neles, “We Trust”, não é Moro e Dallagnol? A corrupção acabou, as queimadas, a pandemia e a vergonha na cara também. Cara de pau!
Eis o país da fraude eleitoral. Protógenes Queiróz (exilado na Suíça) leu nosso texto da semana passada e disse que fraudaram a eleição de 2014. Urnas onde teriam votos certos advindos de pessoas certas, para ele, sumiram. Protógenes contatou dois procuradores eleitorais e ambos constataram a fraude. Mas, deu em nada.
Desculpa: ir em frente abalaria o pleito majoritário, detonaria isso e aquilo. Se Protógenes foi demitido é porque tocou na ferida. Já Moro, foi preservado pois só quebrou o Brasil e garantiu a cor da bandeira. Mas, quis ser mais realista que o rei e levou rasteira do Bozo. Fico imaginando a vaidade caipira “freviando nos juízo”.
Fraude eleitoral. O professor NIldo Ouriques pergunta: como acreditar num processo eleitoral que não pode ser auditado? Até a Venezuela, onde tem voto eletrônico, os resultados podem ser auditados pois têm recibo, diz ele. Aqui, as urnas desmentem institutos de pesquisa na cara de pau, e os institutos calam, aceitam a mágica.
Esse texto, a rigor, é extensão e ou continuação do artigo da semana passada, no qual resumidamente ficou demonstrado que nenhuma providência específica foi tomada para garantir eleições limpas. Nenhuma medida foi tomada pelo TSE para demonstrar a lisura do pleito, e nós temos que acreditar que é por que é …
Para urnas intocadas e inauditáveis, fake news caem como luva. A ineficiência do processo já tem a desculpa ideal. Não há lei para um fato novo e grave capaz de destruir a democracia. Empresas continuam vendendo disparos em massa, enquanto veículos fiscalizáveis, como rádio e televisão, tiveram o tempo reduzido.
Não há medidas para julgamentos urgentes. Os crimes eleitorais são genéricos e dependem de resposta a uma questão: a fraude teve condão de desequilibrar o pleito? Mas, qual a dúvida de que os atos de Moro e Globo contra o PT desequilibraram o pleito? E a disseminação do discurso de ódio? E a grana?
– Não, não misture, leitor! A “fakeada” merece texto à parte. É preciso ler um pouco sobre Odorico Paraguaçu, personagem de O Bem-Amado (TV Globo).
O TSE age como se roubar pouco não fosse roubo porque não quebrou o banco. Se é fraude, mas não desequilibra a eleição, não é fraude. Como diz Dilma sobre a Vaza Jato, “se há vazamento foi um hacker. Se houve vazamento e foi um hacker, o vazamento não tem importância”. Se há fraude e há hacker não tem importância.
Nada ou quase nada foi feito contra fraude. Como juntar os mesmos números e esperar resultado diferente? O TSE se limitou a transferir ao povo a responsabilidade de descobrir aquilo que é dever da PF e do Ministério Público combater. Aquilo que cabe à grande mídia denunciar. Aquilo que é dever do Estado impedir que ocorra.
É como transferir ao doente o dever de ler as letrinhas miúdas de uma bula gigante antes de tomar o remédio. É como mandar o povão ler (e entender) as artimanhas de um contrato draconiano num banco; de uma loja que vai cobrar dele quatro vezes o valor do celular, geladeira, brinquedo da criança. Assim tudo bem, né TSE?
Falo de descrença nas instituições burguesas, de fraude eleitoral porque nada mudou. O inquérito de fake news ganhou força porque o grupo ameaçou o Supremo e porque o gado rachou. Não por que haja interesse em desmascarar a farsa de 2018 que levou os militares ao poder. Não por que prenderam que iria vencer.
Falo de descrédito nas instituições burguesas. Mas que não sirva de desânimo, e sim de pilha para a luta. Mesmo desacreditadas elas representam em si um avanço, quando comparadas a um tempo em que sequer existiam, e tudo era resolvido na bala e na porrada. Ainda que bala e porrada para alguns soem como solução.
E a democracia, ó!
Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-integrante da Interpol em São Paulo.