Vou voltar ao assunto das obras no estádio do Pacaembu porque essa situação está me incomodando muito mesmo.
Por Walter Casagrande Jr., compartilhado de Construir Resistência
Na sexta-feira passada escrevi um texto sobre a vergonha que a empresa Allegra, responsável pelo complexo, nos fez passar com o cancelamento forçado e necessário do show de aniversário de 83 anos do Rei Roberto Carlos. Queriam realizar esse evento sem a mínima segurança para as pessoas, no meio de obras, andaimes, tudo que não faz parte de um show. A lista de irregularidades é enorme e mesmo assim essa empresa ia desrespeitar a ordem da prefeitura. Com lucidez, o município agiu rápido e interditou o Pacaembu para impedir um evento que poderia terminar em tragédia.
Depois disso, o Juca Kfouri escreveu sobre outros danos que essa empresa está criando no complexo inteiro. Rachaduras, vazamentos no Museu do Futebol, com a Praça Charles Miller virando um depósito de entulho.
Fui ao Pacaembu e voltei com o coração apertado. Bem, hoje, sexta-feira, acordei cedo e fui ver pessoalmente as obras e os danos que tudo isso está causando.
Fiquei perplexo com a falta de cuidado, o descaso, o desrespeito com um lugar histórico para a cidade e para todos os paulistanos. Essa empresa colocou todos os banheiros químicos na frente da entrada do museu, que hoje recebe 50 pessoas aproximadamente. É um absurdo.
Conversei com pessoas do museu e da loja de esportes que tem no local. Havia vários ônibus de escolas e excursões de todos os lugares para se deliciarem com a história do nosso futebol. Mas hoje, por causa do desleixo da empresa Allegra, já não tem uma entrada atrativa.
Fui na loja e comprei duas camisas retrô. Uma do Flamengo e outra do Vasco de 1973, número 10. Aproveitei e perguntei o quanto as obras estão afetando negativamente a loja. Gente, é desesperador o que as pessoas da loja me falaram. Caiu demais o número de clientes e de interesse para pelo menos entrarem para ver essas lindas camisas antigas.
A Praça Charles Miller, que é um cartão postal da cidade, com a arquitetura da entrada do estádio do Pacaembu ao fundo, virou um lugar de destruição e não de construção. A grama linda ao redor da praça, que na minha adolescência ficava com meus amigos sentados ali admirando a lindeza do estádio iluminado à noite, virou um matagal. O mato está altíssimo, feio parece mais um terreno baldio do que a linda praça que sempre foi.
A feirinha tradicional está lá encaixotada por entulhos, banheiros químicos, escritórios de madeira. Enfim, a empresa não tem a mínima preocupação, sem nenhuma ligação emocional com esse símbolo da nossa cidade. Está tudo atrasado e no desespero de mostrar algum resultado e também querer jogar na cara dos críticos, como eu, que tudo está andando.
Porém, o preço está sendo muito alto. Em nome de uma “modernidade discutível” estão destruindo a nossa história e tudo que tem ao redor. O aspecto do Pacaembu é de um local que foi vítima de um terremoto de nove pontos escala Richter.
Não estou inventando e aumentando nada porque estive lá nessa manhã.
Dá uma dor enorme no coração. Ouvi pessoas emocionadas me agradecendo por estar chamando a atenção para essa destruição desde o início. Alguém pode me perguntar assim: “Casão, você acredita que o Pacaembu ficará do jeito que a empresa Allegra está dizendo?” Bom, eu acredito até porque estão pressionados a deixar o estádio moderno e confortável. Mas qual será o preço que a Praça Charles Miller e tudo por ali vão pagar?
Queremos um belo Pacaembu e com tudo que o local nos oferece intactos. Nós não queremos só o estádio. Queremos a praça, o museu, a loja, a banca de jornal, a feirinha e a grama do jeito que sempre foi – ou melhor.
Sou paulistano e não vou sossegar. Vou ficar em cima dessas obras até ficarem prontas. Não sou contra a modernidade. Sou contra o descaso, a falta de respeito e de consideração que a empresa Allegra parece ter com a nossa cidade. Amo São Paulo com tudo que ela tem. Devemos nos unir para cobrar proteção à Praça Charles Miller e tudo de cultural que ela nos oferece.