“Quando perdermos a capacidade de nos indignar contra atrocidades cometidas contra outros, perdemos o direito de nos considerarmos Seres Humanos Civilizados”.
Por Ivo Herzog, compartilhado de Construir Resistência
Esta frase de meu pai, Vladimir Herzog, fala muito sobre o momento que estamos passando no mundo neste momento.
Minha família é sobrevivente do holocausto, da perseguição aos judeus na 2ª Guerra Mundial. Meus avós migraram para o Brasil na década de 40 e aqui se estabeleceram.
Viram de longe a criação do Estado de Israel e deram a sua contribuição financeira, com a esperança da constituição de um lar seguro.
Temos que lembrar que o Estado de Israel foi criado em 1948 no lugar onde já existia a Palestina.
Desde então, há um contínuo processo de opressão e esmagamento do povo palestino no território que historicamente habitaram. São décadas de violência que afetam diretamente sua população.
Que fique claro: nada apaga os crimes do Hamas – seus atos terroristas têm que ter repulsa de todos nós. Porém, nada disso justifica o tratamento desumano à população inteira, tratada como se fosse um inimigo fictício, legitimando sua opressão.
O que está acontecendo em Gaza neste momento não é uma guerra. É o massacre de uma população civil. Massacre através da violência das bombas. Massacre através da imposição da fome. Massacre pelo veto à ajuda humanitária.
Já temos milhares de mulheres e crianças inocentes mortas. Temos mais milhares submetidas à crueldade imposta pelo Estado de Israel. Diversos organismos internacionais classificam o cenário descrito como de crime contra a humanidade.
Isso não é uma mera opinião: é uma constatação diante das evidências. A fome imposta. A destruição deliberada de infraestrutura civil. O impedimento de ajuda humanitária. O massacre de civis. A impunidade.
O terrorismo do Hamas, com seus ataques covardes a civis, seus sequestros e seu uso da própria população como escudo, é um dos maiores entraves à paz.
Mas ele não representa todo o povo palestino. Assim como o atual governo de Israel, com sua política de vingança e cerco, também não representa toda a sociedade israelense que tem em sua história vozes críticas, justas e comprometidas com os direitos humanos.
Por tudo isso, declaro minha solidariedade ao Povo de Israel. Por tudo isso declaro minha solidariedade ao Povo Palestina.
Não podemos nos calar frente a tudo que está acontecendo. Como dizia meu pai, temos que nos indignar ou, então, perderemos o direito de nos considerar seres humanos civilizados.
Ivo Herzog é presidente do Conselho
Instituto Vladimir Herzog