Por Cynara Menezes em Socialista Morena –
Ferramenta foi excluída por “incitar, na escola, o clima de denuncismo e perseguição”, reconheceu a Gazeta, admitindo estar correto o argumento dos sindicatos
O jornal Gazeta do Povo, sediado na República de Curitiba, resolveu tirar do ar a “plataforma X9” que criou com o objetivo de denunciar professores por supostamente “doutrinarem” seus alunos. Espécie de Escola Sem Partido do jornalismo, a plataforma gerou protestos de entidades de professores por ressuscitar as perseguições do macarthismo. A ferramenta foi excluída do site por “incitar, na escola, o clima de denuncismo e perseguição”, reconheceu a Gazeta, admitindo estar correto o argumento dos sindicatos de classe contra a ideia. O jornal também disse ter sido influenciado pela reação de “parte dos leitores, professores, advogados e empresários”. Quer dizer, é possível que o recuo tenha sido motivado por medo de processos na Justiça.
“A reação nos levou a refletir se a ferramenta era condizente com o papel da comunicação, a finalidade editorial e a personalidade da Gazeta do Povo. Se contribuía efetivamente para a construção de um ambiente permanente de debate cordial e construtivo. Se nos colocávamos de forma amiga, respeitosa e inspiradora para fortalecer a educação brasileira. Se estávamos, de fato, cumprindo o propósito de dar poder às pessoas para compreender e transformar para melhor o seu ambiente. Se colocávamos, nesta ferramenta, a comunicação a serviço do desenvolvimento de nossa terra e nossa gente, como é missão deste veículo”, escreveu o jornal.
Estimular a quebra de confiança é capaz de ferir mortalmente a democracia e a busca pelo bem comum. O dano é amplificado quando se trata de crianças e jovens sem maturidade para avaliar se a postura de quem está diante de si é adequada ou não
A Gazeta, que pertence ao mesmo grupo da Globo local, reconheceu ainda que estimular o denuncismo em sala de aula seria, como disseram as entidades dos professores, estimular a quebra de confiança mestre-aluno. “Um dos grandes males da sociedade é a quebra de confiança. Estimular essa ruptura, no segmento que for, é capaz de ferir mortalmente a democracia e a busca pelo bem comum. O dano é amplificado quando se trata de crianças e jovens ainda sem maturidade para avaliar corretamente se a postura de quem está diante de si para ensiná-los é adequada ou não.”
O “mea culpa” vai além e o jornal se insurge contra os próprios princípios do famigerado projeto Escola Sem Partido, ao admitir que é impossível separar o professor daquilo que acredita enquanto cidadão, seja ele de direita ou esquerda. “Entendemos, ainda, ser impossível que se prescinda totalmente de que se acredita. Nossos valores e visão de mundo são pano de fundo para nossos atos e manifestações. É algo inafastável da realidade humana. Naturalmente, vale também para docentes. Portanto, torna-se utópico querer que, em sala de aula, o professor apresente um conteúdo sem que isso seja influenciado por aquilo em que ele acredita.”
Infelizmente, a Gazeta, ligada à direita paranaense, insiste em ver “abusos” no conteúdo propagado pelos professores, sem que exista evidência disso e se coloca no absurdo papel de querer julgar o que é “certo” ou “errado” em educação
Infelizmente, a Gazeta do Povo insiste em ver “abusos” no conteúdo propagado pelos professores nas escolas, sem que exista qualquer evidência disso. Novamente, o jornal, ligado à direita paranaense, se coloca no absurdo papel de querer julgar o que é “certo” ou “errado” em educação. “Não concordamos com situações de abuso. Elas existem e têm se tornado muito frequentes, tanto com a manifestação recorrente de opiniões de caráter partidário quanto com a exposição de temas moralmente inadequados”, diz o texto. O que é “moralmente adequado”, Gazeta do Povo? Submeter criancinhas ao ensino religioso obrigatório?