Por Washington Luiz de Araújo –
Uma das maiores contradições do mundo em que vivemos é a culpabilização da vítima de estupro, principalmente quando a mulher é pobre.
– “Ah, mas também, com uma saia curta destas…”
– “Você não viu que ela anda com os peitos quase de fora? E a calcinha? Assim, chama atenção mesmo”.
Esse absurdo de inversão de culpa, que dá razão total ao estuprador, já é caso corriqueiro. Vou fazer aqui um paralelo ao lembrar das acusações contra o PT por ter se coligado a partidos de direita para se viabilizar no poder e proporcionar uma verdadeira revolução na justiça social brasileira durante 13 anos. Depois do golpe jurídico-parlamentar-midiático, a “culpa” do PT é escancarada todos os dias pela direita e por parte da esquerda.
Os políticos de direita buscaram o mote da corrupção, num conluio com a mídia e o judiciário, passando a ideia de que quem inventou o dolo foi o Partido dos Trabalhadores. Já uma parte da esquerda prefere apontar o dedo e acusar o PT de ter se iludido com a conciliação de classes. Ou seja, andou mostrando as pernas e os peitos de forma tão escandalosa que o estuprador não teve outra saída a não ser estuprá-lo. Outra parte da esquerda, se autoimola, se chicoteia, entra no discurso do erro pelo erro.
Simone de Beuvoir dizia que o “opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos”. Nem que sejam cúmplices involuntários.
Vivemos um momento em que parte da esquerda, em vez de constatar que o golpe viria de toda a forma e que o governo só o sofreu em razão de suas virtudes, e não pelos defeitos tão sobejamente apontados, de ter se coligado com partidos de direita em busca de uma maioria para se manter no poder, une-se aos opressores e faz do Partido dos Trabalhadores a Geni da música de Chico Buarque. E haja pedra e haja bosta.
As virtudes, como a de tirar o Brasil do mapa da fome, colocar pobres nas universidades em escala nunca antes alcançada, unir-se à Rússia, Índia, China e África do Sul em busca de uma nova correlação de forças contrária aos Estados Unidos, valorizar o Mercosul e contribuir para o seu “empoderamento” e nacionalizar o pré-sal, entre outras conquistas, estão sendo esquecidas para que, tão somente, pedras sejam jogadas.
Mas onde estavam essas pessoas de esquerda quando os governos Lula e Dilma trabalhavam para reduzir um pouco da desigualdade que data de mais de 500 anos?
É verdade, alguns estavam, mesmo com as vitórias contra a miséria, apontando o dedo, mas a maioria posicionava-se ao lado do governo. Agora, se não com a direita, estão na zona de conforto de acusar os meios, tendo se beneficiado dos fins. Estavam naquela de “vai com ele, vai Geni, você pode nos salvar, você vai nos redimir”. E Agora se esgoelam na base do “maldita, Geni!”.
E tem gente de esquerda que ainda vibra e torce para que o PT se estraçalhe de vez, de olho no legado. Falam tanto em unidade da esquerda, mas são os primeiros a lhe dar as costas. Os votos são bem-vindos, mas que não venham carimbados com a marca do Partido dos Trabalhadores e do Partido Comunista do Brasil. Geni, nem pensar.
Querem se mostrar puros, mesmo sabendo que não há pureza ideológica numa urna. Enquanto a direita se delicia e resolve tudo explodir, parte da esquerda higienista prefere acusar e buscar o inimigo dentro de sua própria trincheira. Maldita Geni. Quem mandou andar com a calcinha enfiada no meio da bunda?