Por Eliete Cascaldi, Conti Outra –
Deveras se vê que o viver da gente não é tão cerzidinho assim?
João Guimarães Rosa
“Gente é um bicho complicado”, dizia meu Avô! Vive confuso e arretado…
Às vezes, sorri quando quer chorar e chora em momentos de alegria. Sente-se medroso por pouco, e em situações difíceis, enfrenta um leão com o peito aberto.
Não sabe se vai ou se fica; se guarda o dinheiro ou se gasta com a viagem de seus sonhos. Quando sai quer voltar, se fica quer ir.
Meu Avô sempre repetia: “Eta bicho complicado que é o homem”!
Canta emocionado cantigas de amor, porém pouco oferece desse amor a quem, de fato, diz amar.
Não deseja ir àquela festa, no entanto, fica arrasado por não ter sido convidado. Quer nadar, mas não quer molhar o cabelo, que comer e não engordar, quer brincar na chuva e não se resfriar.
Assovia, canta no chuveiro, põe seu gato no colo e o coça sem parar. Come sem ter fome, compra o que não precisa, faz promessas e não cumpre, liga a T.V. para dormir.
Sente-se cansado quando trabalha, deprime-se quando fica à toa.
Gente é um bicho estranho!
Arrota, boceja, transpira, ronca, tem pedras no rim e coração mole!
Dança, inventa, faz sexo, reza e grita no trânsito…
Ah! Meu querido Avô, gente é um grande paradoxo, isso sim!
É um ser finito sonhando com o infinito…
Tem suas superstições e suas devoções …
Tem corpo e alma…
É besta e santo…
Afeta e é afetado…
Ser gente é ser inacabado, e em travessia!
Isso não explica um pouco nossas incoerências, Vovô?