O homem que transformou o futebol em arte e filosofia
por Bruno Assis, compartilhado de Bola Clássica
Gentil Cardoso, um nordestino de origem humilde, tornou-se uma lenda do futebol brasileiro. Com carisma, criatividade e talento nato para liderar, marcou sua trajetória como treinador inovador e frasista inesquecível, conquistando títulos e amizades por onde passou.
Nascido na primeira década do século XX, em Recife, a capital do frevo, Gentil Alves Cardoso cresceu em um contexto de desigualdade, onde as elites dominavam o comércio e as exportações.
Serviu à Marinha, onde aprendeu disciplina. Tinha um jeito único de se comunicar e sabia conquistar as pessoas, sendo respeitoso, carismático e afetuoso, características que cultivou desde a infância, quando trabalhou como engraxate, garçom e pedreiro, lidando com diferentes tipos de pessoas e compreendendo o valor do trabalho em equipe.
Embora simples, Gentil era apaixonado por futebol, assistia aos jogos e gostava de fazer suas previsões. Seu gosto pela leitura também o diferenciava, sendo admirador de Rui Barbosa e capaz de traduzir conceitos complexos de forma simples e profunda.
Ser negro e nordestino poderia ter sido um obstáculo para Gentil no futebol, mas sua genialidade e jeito afável conquistaram seu espaço. Começou no Bonsucesso, no Rio de Janeiro, e depois treinou o Vasco da Gama, onde sua carreira meteórica impressionou. Porém, foi no Fluminense que seu nome ganhou notoriedade nacional, principalmente por ter descoberto o goleiro magricela, Carlinhos, que mais tarde seria conhecido mundialmente como Castilho.
Inovador e autêntico, Gentil adorava criar novas ideias para o time e usava megafones nos treinamentos para se comunicar com os jogadores. No Fluminense, ele profetizou a conquista do Campeonato Carioca de 1946, ao afirmar: “Dêem-me o Ademir que lhes darei o campeonato.” Ademir de Menezes foi decisivo na vitória, e a profecia de Gentil se cumpriu.
Após outras passagens, retornou ao Vasco, onde revitalizou o time do “Expresso da Vitória” e conquistou o Campeonato Carioca, apesar das críticas da imprensa. Depois, treinou o Botafogo, onde fez surgir o fenômeno Garrincha, que mais tarde seria um dos maiores jogadores da história do futebol.
Gentil também passou por outros times de Pernambuco, sendo campeão pelo Náutico, Santa Cruz e Sport. Famoso por suas frases marcantes, ele respondia com humor e sabedoria às situações do futebol. Quando chamado apenas em momentos de crise, ele brincava: “Só me chamam para o enterro! Ninguém me convida para comer bolo de noiva.” E, quando seus jogadores optavam por chutões, ele dizia com carinho: “Meus queridos filhos, vocês sabem o que comem os bois? Capim. Então coloquem a bola para rolar no capim e parem de dar chutão.”
Seu legado como treinador vai além dos títulos conquistados: ele uniu simplicidade, humanidade e genialidade, deixando para o futebol brasileiro um exemplo de carisma e liderança, além de frases que eternizaram sua história.