Viomundo –
Zanin destaca escuta ilegal de advogados
No lançamento da campanha Stand With Lula (Estamos com Lula) ontem, em Nova York, o advogado Geoffrey Robertson afirmou que o caso da Lava Jato contra Lula se tornou “político” e que, por isso, o juiz Sérgio Moro não tem capacidade de dar um julgamento justo ao ex-presidente.
Nascido na Austrália mas com boa parte da carreira desenvolvida no Reino Unido, Robertson tem ao mesmo tempo o dom da oratória e o tradicional sarcasmo britânico.
Ele disse que Moro é egomaníaco, “não particularmente inteligente”, que é “malevolentemente inclinado” contra Lula e que se acha um Eliot Ness — o agente do Fisco dos Estados Unidos que enfrentou Al Capone.
Robertson é respeitadíssimo em todo o mundo pela defesa dos direitos humanos.
Representou o escritor Salman Rushdie, Julian Assange e a Anistia Internacional.
Denunciou o genocídio na Armênia, representou os aborígenes da Tasmânia e advogou pela Human Rights Watch num caso contra o ditador Pinochet.
Foi presidente do Tribunal Especial da ONU que julgou violações de direitos humanos em Serra Leoa. É um dos três juristas do conselho de justiça interna das Nações Unidas.
Também representou os diários Guardian, Washington Post e Wall Street Journal em ações relativas à liberdade de imprensa.
Ontem, Robertson mencionou a Globo pelo menos três vezes, uma delas como “inimiga midiática” de Lula. Lembrou que Moro deu publicidade a grampos telefônicos através da Globo — o que definiu como “grotesca invasão da publicidade” — e que um jornalista da Globo escreveu um livro laudatório sobre o juiz de Curitiba.
Robertson vai atuar paralelamente à campanha internacional que, segundo o recém-lançado site Lula.com, é promovida pela Confederação Sindical Internacional (ITUC/CSI).
A ITUC/CSI representa 180 milhões de trabalhadores sindicalizados de 162 países. A entidade é dirigida por João Felício, ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores. No evento de ontem, Felício disse que a perseguição a Lula será denunciada em todos os continentes.
Ao lado dele estavam os sindicalistas Tefere Gebre e Sharan Burrow. Gebre é vice-presidente executivo da AFL/CIO, a principal central sindical dos Estados Unidos, que abriga 56 sindicatos com 12,5 milhões de associados. Sharan foi a primeira mulher presidente do Conselho Australiano de Sindicatos e é secretária-geral da ITUC/CSI.
A ideia da defesa de Lula é aproveitar a Assembleia Geral das Nações Unidas, que acontece até o dia 26 em Nova York, para denunciar o que está acontecendo no Brasil através de encontros com diplomatas, autoridades e delegados.
Os principais argumentos de Geoffrey Robertson para denunciar a investigação de Lula pela Lava Jato:
1. a operação usa prisões para obter delações premiadas, o que ele considera uma espécie de extorsão jurídica;
2. a Força Tarefa fez escutas telefônicas de Lula, da família e até de advogados; ao se tornarem públicas por determinação do juiz Moro, houve violação do direito de defesa;
3. Moro atua ao mesmo tempo como promotor e juiz, um “juiz de ataque” que já considera Lula culpado.
Para Robertson, no futuro Moro será tido pelos brasileiros como “um desastre”, da mesma forma que promotores italianos hoje se lembram da Operação Mãos Limpas, que inspira o juiz curitibano: “O principal suspeito, Silvio Berlusconi, se livrou” para assumir o poder depois do terremoto político, relembrou o britânico.
Por sua vez, um dos advogados brasileiros de Lula, Cristiano Zanin Martins, destacou em sua fala que até a defesa do ex-presidente teve seus telefones grampeados, uma notícia que certamente causará espanto em interlocutores internacionais, especialmente nos advogados e juristas.