Geovane sonha, Neymar tem um pesadelo

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Por Roberto Salim, publicado no Blog do Trajano – 

“Houve uma briga na Justiça. E praticamente a história de Geovane como menino de ouro empacou bem aí. Já Neymar, todos sabem o que aconteceu”




Estava escrito nos campos por onde se exibia a equipe de base do Santos: aqueles dois meninos iriam reeditar o sucesso de Diego e Robinho. Seus nomes: Geovane e Neymar, também conhecido por Sagui no ambiente dos bastidores alvinegros. Ninguém duvidava de que seriam os novos ídolos do glorioso clube de Pelé.

Tanto que jogavam pela Seleção Brasileira.

Geovane era a estrela maior da dupla. Tinha o maior salário entre aqueles jovenzinhos bons de bola. Tinha 10 gols com a camisa da Seleção e, mais que promessa, era uma realidade. Esteve em todas as convocações dos 15 aos 17 anos e jogou ao lado de Alisson, Casemiro, Wellington Nem, Philippe Coutinho e Neymar.

Seu futebol atraiu até o interesse do técnico Arsène Wenger, e o Arsenal tentou tirá-lo da Vila Belmiro.

Houve uma briga na Justiça.

E praticamente a história de Geovane como menino de ouro empacou bem aí.

Já Neymar, todos sabem o que aconteceu.

Vingou.

Transformou-se num ídolo santista, num ídolo mundial, num craque da Seleção Brasileira, num fenômeno de vendas para os patrocinadores.

Eu encontrei Geovane em abril de 2015, quando ele, aos 23 anos, tentava se reerguer na carreira jogando pelo Foz de Iguaçu Futebol Clube, no Campeonato Paranaense.

“Estou buscando uma nova chance”, ele me falou, quando nos encontramos visitando o espetáculo das águas maravilhosas de Foz do Iguaçu. Os mais antigos dizem que sua energia ajuda na mudança das existências, das vidas. Dos destinos.

Depois da visita, ele, pelo time local, enfrentou o J. Malucelli, pelas semifinais do torneio, e venceu por 3 a 1, com um gol de Geovane, que entrou quase no final do jogo.

Ele deixou o campo revitalizado.

Era um recomeço.

Desde então, nunca mais tinha visto Geovane e o seu futebol de meia inteligente, toques desconcertantes e passes perfeitos.

Aqueles passes que ele dava para o companheiro Sagui mais de 10 anos atrás.

Pois nesta última segunda-feira eu acompanhava o noticiário sobre o “Caso Neymar”, na verdade, um verdadeiro furacão. Gravações, denúncias, desconfianças em todos os noticiários, de todas as TVs. Houve agressão? Foi estupro?

Polícia na Granja Comary.

Tite falando como Adenor Leonardo Bacchi e não como técnico do time do Brasil.

Eu via a Seleção levada para os noticiários do mundo todo pela vida atribulada de Neymar fora dos campos.

Foi nesse furacão, que nada tem a ver com futebol, que me lembrei do Geovane. E pensei: por onde será que anda? Será que continua jogando? Como estará sua vida?

Consegui seu telefone e liguei para o interior de Minas Gerais.

Abaixo segue nossa conversa.

E aí, Geovane, depois de jogar no Foz do Iguaçu, como seguiu sua carreira?

Depois que saí de lá, assinei contrato de um ano e meio com o Mogi Mirim. Depois, fui jogar na Guatemala, pois era importante para mim ter uma sequência de jogos, readquirir a confiança em meu futebol. E foi muito bom ter jogado lá em 2017 e 2018. Meu time não chegou às finais, mas a campanha foi boa.

E hoje, está jogando onde?

Na verdade, tenho mantido a forma com o Sérgio, preparador físico, quando estou em Santos, que é onde passo a maior parte do tempo. Mas hoje estou com minha família em Teófilo Otoni, a terra do Fred. Aqui, jogo bola com os amigos e treino a parte física com um personal. Não me descuido. Estou à espera da concretização de uma proposta muito provavelmente da Tunísia. Hoje mesmo mantive contato com a CBF, pois preciso de um documento que mostre que participei da Seleção Brasileira de base. Isso valoriza muito o jogador e é uma das exigências do clube que quer me contratar. Mas há outras propostas da Ásia e do Mundo Árabe. Há também do futebol nacional. Em 10 dias devo definir o local para onde vou.

Quando você olha para trás, fica pensando: “Poxa, o que será que deu errado na minha carreira”?

Olha, sempre que falo com meus parentes e amigos, digo que quero voltar ao alto nível. Tenho 27 anos e é o momento de subir degrau por degrau. Sei que não é fácil. Há a recusa de muitos clubes em virtude das inverdades que falam a meu respeito. O que aconteceu realmente é que eu quis sair do Santos na época. Achei que era importante para mim. Houve a questão jurídica com o Santos. Eu queria ir para a Inglaterra. E talvez isso tenha sido um erro. Hoje aos 27 anos, vejo que forçar a saída me prejudicou. Mas não me arrependo.

Naquela época, você e o Neymar faziam planos para o futuro na Seleção e no Santos?

Passávamos muitos momentos juntos: no clube e na Seleção. Tínhamos muito entrosamento, tentávamos repetir na Seleção tudo o que fazíamos no Santos. A gente procurava fazer o máximo e nossa força ofensiva era muito grande: nosso ataque tinha Wellington Nem, Neymar e Philippe Coutinho. Teve um torneio na Espanha em que fui muito bem, creio que marquei sete gols. Na Seleção, joguei mais de 20 partidas.

Como você se mantém hoje? Tem negócios fora do esporte?

Eu vivo do futebol. Ganhava muito bem no Santos. Tinha um salário muito alto. E tenho fé de que retornarei a um grande clube ainda. Não imaginava essa reviravolta em minha vida. Mas sonho com a volta, sim. Quantos jogadores não se destacam e voltam a jogar no altíssimo nível? A vida é imprevisível.

Sem dúvida. Não é só o futebol. Veja o caso do Neymar: um ídolo, agora envolvido nessa polêmica toda…

É complicado. Nós não somos assim grandes amigos, principalmente pela distância. Mas, quando nos encontramos, conversamos. E vida pessoal cada um tem a sua. Todo mundo sabe o que faz. De alguma forma, você sempre vai arcar com o que fez. Assim é a vida. Tudo tem um preço, e no caso de uma pessoa famosa como ele, o preço é alto. O preço é alto para você ser um Neymar.

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É isso: cada um dos meninos promissores de ontem tem o seu desafio a enfrentar. Enquanto Geovane sonha com a retomada do passado glorioso, Neymar tem seu pesadelo particular.

Assim é a vida!

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