Por René Ruschel, publicado em Carta Capital –
Em coletiva no Paraná, senadora disse que STF recolocou processo penal nos trilhos ao inocentá-la de corrupção
A senadora e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, escolheu Curitiba para sua primeira entrevista coletiva após ter sido absolvida por unanimidade pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, na última terça-feira, 19. “Sou senadora pelo Paraná e a esse estado devo a maior prestação de contas da minha pública e das minhas ações” justificou.
Disse que recebeu a decisão do STF com muito alívio, embora desde o início das acusações, há quatro anos, sempre teve convicção que a sentença final não poderia ser outra. “Sei o que fiz e o que não fiz na vida. E uma certeza eu tenho: não cometi os crimes que me acusaram”.
Afirmou que toda a farsa foi uma trama organizada pelo doleiro Alberto Yousseff e seu advogado, Antonio Figueiredo Basto. “Eu estava sendo vítima do conluio de um doleiro conhecido de longa data aqui no Paraná, com um advogado que tinha militância política e hoje está sendo acusado de vender e manipular delações, que é o Figueiredo Basto. Foram quatro anos de investigação e tudo o que a procuradoria levou ao STF foi a voz desses delatores, orquestrada pelo Figueiredo Basto”, disse a senadora.
Para ela, a decisão também foi um duro golpe nas práticas adotadas pela Justiça Federal no Paraná na condução da Lava Jato, quase sempre baseada em delações premiadas. “Agora o STF confirmou isso e colocou nos trilhos, novamente, o processo penal, dizendo o que é óbvio para a sociedade brasileira: não se pode condenar alguém sem provas, não se pode condenar alguém por delação”, disse. “O que mais me deixa esperançosa é que foi uma decisão muito firme em relação às delações premiadas. Foi um duro recado à indústria das delações.
Ainda segundo Gleisi, as delações são importantes para qualquer processo investigativo, inclusive elas foram levadas a cabo por um projeto de lei sancionado no governo Dilma. “Elas são importantes para levantar indícios sobre situações que vão ser investigadas, mas elas jamais poderão substituir provas, se não, elas se transformarão em instrumento de utilização política ou para salvar aqueles que fazem delação. Com essa decisão, a gente restabelece as coisas: as delações têm um papel, mas não podem ser o fundamento da acusação”.
Manifestou-se esperançosa com a decisão do STF para que a corte reveja a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “A maioria dos processos iniciados na Vara de Curitiba são processos com alto índice de politização. Assim é o caso do presidente Lula e não tenho dúvidas que no STF ele terá o mesmo final, porque também se baseia apenas em delações. O caso dele é mais grave, porque já tem uma condenação, mas o Supremo iniciou esse resgate do processo legal. Espero que isso aconteça com o presidente Lula, que hoje é a maior vítima deste estado de exceção que vivemos no Brasil sob o pretexto de se combater a corrupção”.
Afirmou que não irá tentar a reeleição ao Senado, mas que é pré-candidata a deputada federal. “A decisão não é exclusivamente por conta do processo, mas passa sim por isso. Tive, durante quatro anos, uma desconstrução de imagens política devido às acusações e informações que vazaram. Eu não tinha o mesmo espaço para me defender”, declarou.
“Quando saiu a acusação, nem o benefício da dúvida foi me dado, passei quatro anos sendo tratada como envolvida na Lava Jato. E isso é óbvio que me custou, não só como cidadã, mas politicamente também. Quem vai me pedir desculpas por tudo que aconteceu? Quem vai me constituir os anos que tive com problemas na imagem pública? Dos insultos recebidos por minha família? Isso não tem recuperação, precisamos ser muito cautelosos com as pessoas que estão sendo acusadas. Precisamos ter cautela quanto a isso, não se pode condenar as pessoas antes do caso julgado”, concluiu.