Publicado no Portal Vermelho –
Chega a ser inacreditável o que a mídia hegemônica é capaz de fazer para atingir seus objetivos políticos. Sob uma capa mal ajambrada de imparcialidade, incentivam a instabilidade política e o ódio ao campo popular e democrático. Mas agora O Globo resolveu que mesmo a fina e quase invisível camada de prudência desapareceu e convoca abertamente para o golpe.
A imagem acima poderia ser perfeitamente um panfleto do PSDB ou do DEM, mas é um mailing list (provavelmente com milhões de endereços) enviado pelo sistema Globo a não assinantes do jornal. A desculpa para o envio da mensagem é a promoção de uma campanha de assinaturas, mas a mensagem política, destinada a atingir um público que em princípio não lê O Globo todo dia, é clara demais, até para os padrões já deformados da mídia hegemônica: “Em tempos de mudança, uma boa fonte de informação faz diferença” e com grande destaque uma foto onde pessoas protestam e um cartaz em primeiro plano exige: “Graça (ex-presidente da Petrobrás), abre a boca! Conte tudo!!”. No campo “assunto” do e-mail O Globo pergunta com desfaçatez: “Onde vai acabar esta crise? Descubra com a gente”. O Globo deixa claro como vai acabar (ou como ela deseja que acabe): com a “mudança” e com um novo período de trevas e retrocesso.
Propagando o ódio
Manchete de O Globo desta quarta-feira (25): “Inflação dispara e protesto nas estradas é nova ameaça”, e sob o pretexto de abordar uma confusão com meia-dúzia de provocadores coloca o título: “Sem paz e amor” sob duas fotos com militantes vestidos com camisa vermelha desferindo chutes em um dos pretensos “manifestantes” (isso lembra o Jornal Nacional mostrando um dos sequestradores de Abílio Diniz sendo preso com a camisa da propaganda do Lula, pouco antes da eleição de 1989). Agora, depois de a mídia hegemônica promover por meses uma campanha terrível de ódio, que contamina muita gente, a ponto do ex-ministro Guido Mantega ter saído sob ameaça de um hospital ao acompanhar a mulher para um tratamento de câncer (leia reportagem do 247), o movimento popular convoca um evento em defesa da Petrobras que foi um sucesso, reunindo mais de mil pessoas, entre eles importantes intelectuais e com Lula convocando a resistir ao golpe. Mas o que os jornais destacam foi a presença de menos de 10 pessoas “protestando”, claramente provocadoras, que conseguiram o que queriam, dar para a mídia hegemônica a desculpa que ela precisa para alimentar a fogueira do ódio e esconder o fato principal de que o ato foi um sucesso. Fazem isto com o conforto de quem se acostumou na história brasileira a vencer através da ditadura, das prisões e da tortura, instaladas através da instrumentalização e manipulação do sentimento de parcelas importantes da população. Desta vez, no entanto, a história pode ser – e será – diferente. Como disse o Lula, vamos para as ruas.
O ato na ABI – o que fazia um agente da PF no local entre os “manifestantes”?
Ontem, ainda no ato em defesa da Petrobras na ABI, no Rio de Janeiro, as pessoas já se perguntavam: o que vai sair na imprensa amanhã? Não era difícil de imaginar e ficou claro nos jornais de hoje (25) e nas versões on line: as brigas ocorridas na rua antes do evento. As manchetes parecem que já estavam prontas: “Ato em defesa da petrobras tem troca de socos…(Globo on line)”; “Ato em defesa da Petrobras tem briga de militantes pró e contra PT no Rio (G1)”; “Ato com Lula em defesa da Petrobras tem confusão no Centro (O Dia)”. O G1 chega a falar em “minipanelaço“. Eram apenas DUAS pessoas com panelas. O Globo fala em “grupo“, O Dia diz que era um “pequeno grupo“, com “35 integrantes“. Com certeza bem menos que isso. Após o auditório ficar lotado, muitas pessoas ficaram na rua em frente ao local. O trânsito chegou a fechar. Mas o destaque era para os provocadores, com os abutres da imprensa ávidos para ver o circo pegar fogo. Nas capas dos jornalões, além de O Globo, O Estado de S. Paulo e a Folha de S. Paulo publicaram fotos dos petistas confrontando os provocadores. O jornalO Dia chega a registrar que: “Os militantes pró-PT também apontaram a presença de um homem com distintivo da Polícia Federal e com um soco inglês e um bastão retrátil. Perguntado pela reportagem do DIA, o homem que se identificou como Leonardo Coelho disse que estava apenas tentando acalmar os ânimos”. Faltou perguntar o que esse PF fazia no local.
Pelo jornalista Marcos Pereira Fernandes.