Globo e advogado de Youssef combinam narrativa

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Por Miguel do Rosário, para O Cafezinho – 

Dias atrás, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, confirmou que houve golpe eleitoral contra Dilma Rousseff, perpetrado através do advogado de Alberto Youssef, o doutor Antonio Figueiredo Basto.

Janot lembrou que Basto era ligado intimamente aos tucanos.




Como era o golpe?
Não apenas Basto vazava trechos dos depoimentos de Youssef, como o advogado orientava o doleiro para fazer um recorte político de sua delação premiada.

Um recorte cuidadosamente elaborado para gerar impacto político contra o PT.

Entretanto, a mídia não conseguirá esconder que Alberto Youssef é uma cria essencialmente tucana, conforme eu já escrevi no post “A história do doleiro que a mídia não contou“.

Há documentos e reportagens mostrando que ele operou para as campanhas de FHC e Serra. Essa é uma informação importante para entender a teia de relações construída pelo doleiro, e explicar o que ele é hoje.

Ora, se ele quer delatar, então terá de contar também o que sabe sobre as falcatruas tucanas que ele operou.

Se olharmos a manchete do site do Globo de hoje, a coluna de Merval e a entrevista do advogado do doleiro, constata-se facilmente que a armação midiática já encontrou uma linha de ação bem definida.

O advogado do doleiro posa, na entrevista concedida ao Globo, de “analista político”.

Pior, de “indignado”!

Segundo ele, assim como para Merval, não se trata apenas de corrupção, mas de uma estratégia para se manter no poder.

Igualzinho fizeram com o mensalão.

Ao invés de tratarem o caso como ele era, um esquema de caixa 2, o que permitiria ao Brasil, desde aquela época, discutir a questão do financiamento de campanha, inventaram um monstro que desmoralizou o STF e criou dois palhaços: Ayres Brito, hoje com uma sinecura de luxo na Globo, e Joaquim Barbosa, cujo filho ganhou emprego também na Globo.

O PT achava que enfiando a cabeça bem fundo num buraco, no caso mensalão, poderia virar a página.

Não é assim.

A mídia tenta agora repetir a farsa.

Não é corrupção, diz Merval. Corrupção é normal, acontece todo dia, explica ele.

O que acontece é algo muito pior. É o PT do mal, o PT dos infernos, em ação novamente.

É o mensalão 2, insistirá a Globo, com ajuda de um novo Roberto Jefferson, encarnado agora na figura do doleiro e seu esperto advogado.

O juiz Sergio Moro, que escreveu a decisão de Rosa Weber na Ação Penal 470, que impressionou o mundo jurídico pela sua desfaçatez (“não tenho provas contra Dirceu, mas vou condená-lo porque a literatura assim me permite”), também não parece nada preocupado em evitar a politização do processo.

Os vazamentos saem de sua vara aos montes, sem que ele faça uma admoestação contra delegados, promotores ou advogados que possam estar por trás dos mesmos.

Uma reportagem investigativa da Agência Pública, publicada em junho deste ano, mostrava que as quatro principais empreiteiras do país, as “quatro irmãs”, operam juntas, em cartel, desde a ditadura militar. Assim como a Globo, elas se consolidaram durante o período autoritário, que favoreceu concentração do capital, num ritmo maior do que o mercado naturalmente faria, e na contramão de qualquer orientação anticartel ou anti-oligopólio que toda democracia deve assumir.

As empreiteiras dão financiamentos a campanhas eleitorais, favorecendo sempre os times vencedores, quaisquer que eles sejam, em busca de blindagem contra investigações que possam criar obstáculos à manutenção de seu cartel.

Que se entenda bem: acabar com o cartel não é acabar com as empresas, que são importantes para o país, e sim dar fim a um esquema de combinação de preços e pagamento de propina a servidores e partidos, que sangra os cofres e prejudica a democracia.

É evidente que a Globo fará de tudo para transformar o escândalo da Petrobrás num jogo político para ampliar seu próprio poder.

O cálculo é fácil. Se as instituições políticas estão desmoralizadas, em quem o brasileiro poderá confiar?

Na mídia, claro!

Só que a mídia fará isso não para melhorar o tratamento à coisa pública, mas para chantagear a democracia e ganhar mais dinheiro.

Ela quer um governo fraco e acuado, para que ele não tenha condições de aprovar as reformas necessárias, as quais são as seguintes:

1) Uma reforma política, que não precisa reinventar a roda, até porque isso representaria um perigo de retrocesso. Cumpre, sobretudo, propor mudanças no sistema de financiamento de campanha, chancelando politicamente e aprimorando a decisão que sairá em breve do STF, de proibir doação de empresas. Outros pontos interessantes que podem ser discutidos são a ampliação da participação social junto às decisões de Estado. Criação de ouvidorias, ombudsmans, referendos, orçamentos participativos, etc.

2) A reforma tributária, reduzindo impostos que incidem sobre os mais pobres e aumentando as alíquotas máximas sobre os mais ricos. Deve-se discutir também um imposto sobre a herança, nos moldes do modelo norte-americano, e o aumento dos tributos sobre o consumo de luxo.

3) A reforma agrária. Uma série de medidas para democratizar a terra no Brasil teria um profundo impacto psicológico e político em nosso país, ativando entusiasmos e forças que andam paradas.

4) A reforma urbana. Os brasileiros nas cidades grandes estão acuados por grandes empresas, que tomaram o setor imobiliário e de transportes. É preciso discutir regras, como fazem todas as metrópoles modernas do mundo, mais democráticas para a questão dos aluguéis e dos financiamentos à casa própria nas áreas urbanas. A mobilidade urbana, outro tema essencial, entra nesse capítulo.

5) A reforma da mídia. O governo tem de entrar nisso de cabeça erguida e língua afiada. A mídia já começou, desde o final da eleição, ou mesmo antes dela, uma campanha de mentiras que não tem sido rebatida pelas forças políticas eleitas pelo povo justamente para fazer isso: para responder.
*
O governo não foi eleito apenas para governar. Elege-se o governo também para ser um representante político. Por isso, a sociedade lhe dá tantos instrumentos e recursos. Para que ele possa participar do debate público como um de seus atores mais influentes.

Onde estão os ministros políticos do governo? Onde está seu porta-voz?

Onde está o blog do Planalto, ou da Petrobrás?

Mercadante, ao qual já fiz tantas críticas, mostrou, em entrevista recente, que tem a língua afiada, e pode fazer uma contraponto importante em matéria de debate econômico.

Por que não faz mais? Porque se limita a aparecer na TV fechada do programa da Miriam Leitão?

Um ministro pertence ao povo, não à Globo!

Falta encontrar quadros que possam fazer o mesmo, no campo da comunicação, da política propriamente dita, e, agora, do combate à corrupção.

Os setores progressistas dentro e fora do governo não poderão agora fugir à luta de construir uma contranarrativa à mídia corporativa.

No caso do Brasil, a questão tornou-se mais importante que a política.

É uma questão de honra!

A campanha golpista da mídia atinge a honra de milhões de eleitores que votam na esquerda com orgulho, e não querem, novamente, passar pela humilhação de serem associados à falta de ética.

A construção dessa contranarrativa passa também por continuar a rever os erros da Ação Penal 470.

De qualquer forma, não será possível, à mídia, repetir o que fez no mensalão: achacar ministros do STF, não importa se indicados pelo PT ou não, criar uma atmosfera de linchamento, bancar erros e crimes de procuradores, e forçar condenações sem provas.

Por outro lado, a direita é criativa. Já está desenhado como será conduzido o golpe do “petrolão”: forçar delações premiadas, sempre orientadas politicamente; e, sobretudo, produzir muita mentira.

Fernando Brito, do Tijolaço, já andou se perguntando, com propriedade: não é estranho que Alberto Yousseff tenha adquirido essa importância toda junto às empreiteiras e à Petrobrás? Ele não tinha sido preso poucos anos antes, não estava sob investigação da justiça desde o início dos anos 2000?

Quem seria maluco de entregar milhões em mãos de uma figura totalmente queimada como Alberto Youssef?

Essa história está mal contada.

Porventura estão tentando transformar Youssef em algo maior do que ele era? E por que? Seria porque o vêem como um “aliado”, como alguém disposto a mergulhar de cabeça no jogo da mídia e da direita?

Enfim, temos uma situação infernal, que nos exigirá a convocação de muitos Virgílios para nos conduzir à saída.

Uma investigação dessa magnitude teria de ser conduzida sem politização, com total objetividade, o qu será impossível diante do processo político brasileiro, que é fundamentalmente midiático.

De um lado, temos um PT com suas lideranças sempre meio apalermadas pelo barulho, mas sustentadas politicamente por uma base social ainda traumatizada com lembranças ruins de governos anteriores.

De outro, uma mídia com forte penetração no Judiciário, no Ministério Público e, agora descobrimos, também na Polícia Federal. Uma mídia extremamente astuta, absolutamente inescrupulosa, e detentora de uma máquina demolidora e quase indestrutível de moer reputações e sustentar teorias mentirosas.

A primeira grande batalha, as eleições, impôs uma dura derrota à mídia e seus lacaios golpistas.

Não dá mais, porém, para governar em silêncio.

Agora mesmo, por exemplo, fala-se que o novo ministro da Fazenda será Luiz Carlos Trabuco, o presidente do Bradesco, ou alguém parecido.

Trata-se de algo que havíamos previsto: um movimento estratégico de recuo em relação ao mercado.
Ótimo, a gente compreende. Política é o campo onde nos sentimos mais à vontade, e gostamos quando o governo entra no jogo com astúcia.

Só que esse movimento, sem um outro, paralelo e simultâneo, de mais ousadia em política e comunicação, sem um gesto à esquerda, provocará dano ao governo, que, mais que nunca, precisa de apoio de suas bases sociais.

Para isso, bastaria haver um porta-voz, um blog, qualquer coisa, que pudesse ao menos emitir um sinal político!
“Olha gente, estou nomeando um ministro da Fazenda vindo do lado de lá, mas não esqueci o lado de cá, tanto que pensei nisso e naquilo que podemos fazer”.

Qualquer coisa que sugerisse que o governo não depende da mídia para se comunicar! E que não esquece a sua base de apoio!

Depois do que aconteceu com Sérgio Cabral e quase aconteceu com a própria Dilma, após junho de 2013, ficou bem claro que popularidade de instituto de pesquisa não adianta nada.

Quando não se tem apoio da grande mídia, é preciso ter base orgânica, popular, para poder ir adiante e não ser tragado pela primeira crise.

O jogo já começou, e as peças estão se movendo muito rápido.

Um dia de silêncio corresponde a um dia de derrota.

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