Porta-vozes do neoliberalismo, famílias Marinho, Frias e Mesquita “sangram” o presidente, enquanto articulam terceira via com Tarcísio. Em editoriais, pedem cortes no salário-mínimo, educação e saúde.
Por Plinio Teodoro, compartilhado de Fórum
na foto: Francisco Mesquita Neto com Bolsonaro, Luis Frias e os irmãos José Roberto, Roberto Irineu e João Roberto Marinho.Créditos: Marcos Corrêa PR / Reprodução Youtube / Divulgação Globo
Financiados pelo sistema financeiro internacional como porta-vozes do neoliberalismo, os principais veículos da mídia liberal, capitaneados pelas famílias Marinho, Frias e Mesquita, aderiram a um novo golpe em editoriais uníssonos, com ameaças diretas a Lula.
O motivo, obviamente, é a política econômica, que busca uma melhor distribuição de renda, com aumentos reais do salário-
mínimo e os investimentos em saúde e educação públicas
O motim, no entanto, se formou em torno da decisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de devolver trechos da Medida Provisória 1227/24, que impunha restrições à compensação de créditos das contribuições ao Programa de Integração
Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins).
Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo não tem Plano B para compensar a arrecadação e denunciou a
preocupação do governo “porque identificamos fraudes nas compensações de PIS/Cofins. Então, vamos ter de construir também uma alternativa para o combate às fraudes”.
Estratégia do governo para aumentar a arrecadação – e cumprir o chamado arcabouço fiscal, imposto pelo sistema financeiro – a devolução da MP causou alvoroço na burguesia.
Nesta quinta-feira (13), Globo, Folha e Estadão se uniram ao coro golpista que parte da Faria Lima, de ruralistas e de seus representantes no Congresso Nacional, o centrão, capitaneados por Arthur Lira (PP-AL) em estreita relação com Jair Bolsonaro (PL) – leia artigo de Mauro Lopes sobre o tema.
Em editorial com o título “não dá mais para cumprir meta fiscal ampliando receitas”, O Globo, da família Marinho, faz uma ameaça
direta a Lula ao mandar o presidente “conter gastos e buscar eficiência no setor público”.
“A decisão final cabe a Lula. Se tiver bom senso, aceitará as sugestões para controle de despesas”, diz o jornalão carioca.
As “sugestões” d’O Globo miram, como sempre, as camadas mais pobres da população com o fim do aumento real do salário mínimo e a desvinculação dos investimentos em saúde e educação pública, acabando com o orçamento dos dois ministérios de maior importância do governo.
“Duas ideias deveriam ser prioridade. Primeiro, desvincular do salário mínimo os benefícios temporários pagos pelo INSS. Desde o ano passado, o mínimo passou a ser regido por uma lei que pressupõe aumento real, acima da inflação, semeando alta descontrolada nas contas da Previdência. Segundo, é preciso voltar a desvincular do aumento das receitas os gastos constitucionais obrigatórios com saúde e educação. Essa é mais uma fonte de crescimento acima da inflação, e gastos obrigatórios como esses pressionam todas as demais despesas discricionárias, de investimentos em infraestrutura a verbas para combater tragédias climáticas”, diz a família Marinho.
O texto ainda cita uma ameaça direta de um dos principais representantes dos ruralistas e das empresas petrolíferas internacionais, Rubens Ometto, da Cosan, que iniciou o novo levante golpista.
“Quando eles fazem um aumento de arrecadação, estão tirando dinheiro de quem trabalha com eficiência, de quem gera emprego, de quem produz — e passando para o Poder Executivo, que não tem essas habilidades”, disse o executivo, sócio da Shell.
Folha
Já a Folha foi direto ao ponto, dizendo já na chamada que “É Lula quem alimenta as tensões financeiras”.
“Haddad diz que levará ao presidente um plano de controle de despesas. Seria boa oportunidade de aplacar a balbúrdia, mas o
governo vem desperdiçando suas chances”, diz a família Frias, que pulverizou suas atividades e hoje tem o maior lucro justamente no sistema financeiro, com o PagBank, sob o marketing de PagSeguro.
O texto ainda fala em “limite” para Lula, em mais uma clara ameaça ao presidente, ao relatar a a recusa da MP pelo Senado.
“Tal estratégia, na esteira de uma exorbitante expansão do gasto público já no primeiro ano do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), parece chegar a um limite”, diz a Folha.
A Folha ainda fala que “desde o início do ano, Lula enfrenta mais dificuldades no Congresso”, sem citar no entanto a ação de
Lira e do bolsonarismo.
“O próprio governo cria turbulências. Assim se deu com as semanas de tumulto com a intervenção na Petrobras. A administração
petista conseguiu embaraçar-se até com uma equivocada importação de arroz”, diz, em eco aos ataques ao governo.
Estadão
Principal voz da burguesia financeira no país desde os tempos da escravidão, o Estadão, comandado pela família Mesquita, faz ameaças em duas frente e chega a aconselhar, em paralelo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que já teria sido convidado para o Ministério da Fazenda por Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo e principal aposta para ser o candidato da “terceira via” em 2026.
No editorial “cheiro de queimado”, o Estadão fala em “fritura sem precedentes” de Haddad com a devolução da MP pelo Senado e diz que “a medida tinha ‘o aplauso’ do presidente Lula”.
“O fato é que o ministro foi abandonado pelo presidente Lula em um dos momentos mais críticos de sua gestão”, emenda.
Colocando lenha na fogueira da relação entre Planalto e Congresso, o jornal controlado pela família Mesquita diz que “a impugnação de trechos da MP foi a imposição de uma derrota acachapante a Haddad e sua agenda econômica”
Em texto na mesma página de “opinião”, sugere a Roberto Campos Neto, que já teria sido convidado por Tarcísio para ministro da Fazenda em 2026, que se afaste de Bolsonaro – “é possível que tenha sido apenas uma coincidência, mas a desenvoltura de Campos Neto entre os bolsonaristas não ajuda a dissipar as dúvidas e desconfianças”, diz o jornal.
“Assim, roga-se a Campos Neto o mesmo que se espera de todo servidor público: prudência, discrição e impessoalidade”, diz a família Mesquita, já colocando o neto do ministro do Planejamento durante a Ditadura em um futuro governo da “terceira via”.
No entanto, coube a William Waack, que chegou a aceitar o convite para ser ministro de Relações Exteriores de Bolsonaro, a ameaça direta a Lula.
Se colocando como porta-voz dos “setores variados da economia [que] estão rompendo publicamente com o governo Lula 3”, Waack dá o recado em nome dos golpistas que, segundo ele, emitiram “repúdio unânime” à devolução da MP.
“A questão é saber como Lula e seu círculo político mais próximo entenderam a natureza dessa ‘unanimidade’”, dispara, logo no início do texto.
O jornalista ainda fala do descontentamento da burguesia com o que classifica como “direitos adquiridos”, uma fake news em relação à MP que desonerou por anos a folha de pagamento de 17 setores.
“O padrão que se verifica nas ações políticas é o de improvisação subordinada à necessidade de garantir a popularidade do presidente”, desfere.
Ao final, Waack volta a ameaçar o presidente, em nome da burguesia golpista, que busca sangrar Lula e esgotar quaisquer possibilidades de um novo governo progressista e popular no futuro próximo.
“A tal ‘unanimidade’ de setores da economia talvez não seja um definitivo “divisor de águas” em termos de apoio/repúdio político ao governo, e consequente busca de alternativas. Mas é preocupante para Lula 3 quando considerado o grau de resistência social que o governo não está sendo capaz de superar. Em política, expectativas frustradas são o mesmo que confiança traída”, ameaça Waack.