Globo, nada a ver com você e os fatos

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Por Angela Carrato, jornalista

OS FATOS QUE SE DANEM. Acredite se quiser. Num dia importante como este 1° de janeiro, em que prefeitos e vereadores em todo o país tomaram posse e no qual o Brasil assume a presidência do BRICS, a principal reportagem no Jornal Nacional foi sobre os 100 anos do próprio Grupo Globo, do qual é parte. Detalhe: os 100 anos só se completam em julho.




O último bloco do telejornal foi todo dedicado ao assunto, com uma longa reportagem (14 minutos), que mesclou alguns fatos verídicos com uma tonelada de mistificações e de mentiras.

A primeira delas, repetida várias vezes, é a do compromisso do Grupo Globo com o Brasil e com o povo brasileiro.

Nada mais distante da realidade.

Deve ser por isso que a reportagem omitiu fatos essenciais como a oposição do Jornal O Globo à instituição, por Getúlio Vargas, do 13° salário, o papel do jornal O Globo e da rádio Globo para o suicídio de Vargas e sua atuação na linha de frente do golpe civil-militar que, em 1964, depôs João Goulart e mergulhou o país numa ditadura que durou 21 anos.

A reportagem escondeu do seu respeitável público como o grupo Globo – a TV Globo em especial – se beneficiou da relação com a ditadura militar.

Foi Castelo Branco, o primeiro dos cinco ditadores daquele período, quem guardou na gaveta o resultado da CPI do Congresso Nacional que apontava ilegalidade na relação entre a TV Globo e o grupo estadunidense de mídia Time-Life.

Se na época o país vivesse tempos normais, era para a concessão da TV Globo ter sido cassada.

Não foi. O Grupo Globo respaldou o regime ditatorial e como recompensa recebeu uma série de benesses que possibilitou seu crescimento e o favoreceu em relação aos concorrentes.

Assis Chateubriand, que igual a Roberto Marinho nunca foi flor que se cheire, morreu denunciando as trapaças da Globo contra a TV Tupi, de sua propriedade.

A título de exemplo, o Jornal Nacional só foi ao ar, porque o país passou a contar com um sistema de microondas interligando todas as regiões. Uma espécie de presente dos militares para o amigo Roberto Marinho.

Quando da luta pela redemocratização, no início dos anos 1980, o grupo Globo tentou até o último momento ignorar a campanha pelas Diretas-Já. Cobriu o comício das Diretas, na Praça da Sé em São Paulo, como se fosse a festa de aniversário da cidade. Fato que se transformou em um clássico na história das mentiras e do mau-caratismo da emissora.

A lista de golpes contra o Brasil e o povo brasileiro em que a TV da família Marinho esteve e está medida é longa.

Basta lembrar do golpe, travestido de impeachment, contra a presidente Dilma Rousseff, do endeusamento da corrupta Operação Lava Jato, da campanha pela prisão, sem crime, de Lula e do apoio à candidatura e ao governo do golpista Jair Bolsonaro.

Já as sacanagens contra o terceiro governo Lula, de tantas que são, merecem abordagem à parte.

O Grupo Globo, como a maior parte da mídia corporativa brasileira, sonha com um governo como o do extremista de direita, Javier Milei, na Argentina, para o Brasil.

Tanto que em 2025 esta mídia, Globo à frente, promete superar seu próprio recorde em sacanagens contra um governo democrático e progressista.

Se o Grupo Globo quisesse realmente contar a sua história e não apenas fazer auto-promoção mentirosa, deveria ter entrevistado pesquisadores que estudam e acompanham a sua trajetória.

Mas o medo da verdade é tão grande, que ninguém fora da “Casa” foi entrevistado. Com a cara de pau de sempre, o JN ouviu o jornalista Pedro Bial (foto), tentando transformá-lo em autoridade no assunto. Chega a ser risível, por se tratar de um funcionário e notório puxa-saco dos Marinho. É de sua autoria uma biografia do “doutor” Roberto, que mais se assemelha a uma hagiologia.

Como não podia deixar de ser, uma das falas de Marinho, escolhida a dedo para ilustrar esta reportagem, o mostra com a voz embargada, quando da inauguração do Projac. Haja sensibilidade!

É a Globo sendo Globo.

P. S. Após o fim do JN deste primeiro dia de 2025, o telespectador ainda teve que aguentar mais cinco minutos do primeiro institucional destes 100 anos. Pelo visto, muitos outros virão.

Na Globo é assim: os fatos que se danem. Ela cria a notícia.

Até quando?”

Obs.: Título do post é do Bem Blogado

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