Por Camilo Vannuchi –
Jornalistas Da revista Época pedem demissão.
O conselho editorial do Grupo Globo divulgou um pedido de desculpas à coach Heloísa Wolf Bolsonaro e aos leitores de Época. A nota trata a reportagem publicada no último fim de semana como um “erro”, um “equívoco” resultante de “uma sucessão de eventos na cadeia que vai da pauta à publicação de uma reportagem”.
O erro da matéria, segundo o conselho editorial, não foi entrevistar a terapeuta de forma escondida, passando-se por cliente, ou gravar a conversa sem informar a personagem que ela estava sendo gravada. O erro consistiu em tomar a coach por uma pessoa pública, coisa que, segundo a nota, Heloísa não é.
Abre aspas. “O erro da revista foi tomar Heloisa Bolsonaro como pessoa pública ao participar de seu coaching on-line. Heloisa leva, porém, uma vida discreta, não participa de atividades públicas e desempenha sua profissão de acordo com a lei. Não pode, portanto, ser considerada uma figura pública. Foi um erro de interpretação que só com a repercussão negativa da reportagem se tornou evidente para a revista.”
Nesta tarde de terça-feira, a cúpula editorial da Revista Época pediu demissão, informa o Portal dos Jornalistas. A demissão coletiva foi, tudo indica, uma reação dos profissionais envolvidos na produção da matéria à ingerência desrespeitosa do conselho editorial, publicada muito provavelmente sem diálogo anterior com a diretora e o editor.
Não apurei, admito. Não sei os detalhes. Não telefonei para ninguém na redação. Pergunto se a decisão teria sido a mesma se o presidente Jair Bolsonaro e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, não tivessem estrilado contra a matéria e ameaçado a publicação e seus profissionais de processá-los. Pergunto também se filhos e noras do ex-presidente Lula, bem como a ex-primeira-dama Marisa Letícia, ou a ex-primeira-dama Marcela Temer e seu filho Michelzinho, ou o neto Gabriel da ex-presidenta Dilma Rousseff, se todas essas eram pessoas públicas, diferentemente de Heloísa. Talvez, para usar os termos apresentados na nota, levassem vidas pouco discretas ou participassem de atividades públicas. Não eram, portanto, recatadas o bastante para merecer a complacência do Grupo Globo.
Conclamo todos aqueles que foram erroneamente tratados como pessoas públicas em reportagens produzidas e publicadas pelo Grupo Globo a também cobrarem do conselho editorial um pedido de desculpas. Nenhum jornalismo deve se submeter ao papel de extensão do poder político. Pau(ta) que dá em Chico também deve dar em Francisco. Mesmo quando o sobrenome de Chico é Silva e o de Francisco é Bolsonaro. E vice-versa.
Obs: Titulo do Bem Blogado