Golpe e ditadura são lembrados todos os dias

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Por Janio de Freitas, publicado em Jornal GGN – 

“Ser apoiador da ditadura foi, desde 64, uma condição humana especial, com poderes e direitos acima de todos os códigos e convenções do convívio civilizado”.

“A ordem de comemorações é só provocação redundante”, avalia Janio de Freitas sobre a determinação do presidente Jair Bolsonaro para que o Ministério da Defesa celebre 31 de março que, neste ano, marcam 55 anos do golpe civil-militar de 1964.

Na coluna deste domingo (31), na Folha de S.Paulo, Janio faz uma breve análise da vida de Bolsonaro mostrando que as suas provocações são uma constante.




“Muitos milhares têm a agradecer o que receberam da ditadura, por via direta ou pelas circunstâncias. Por isso mesmo, também para esses beneficiados os dias são derivações do golpe. Entre os beneficiados, está Bolsonaro. Em posição particular e, por ironia, conquistada por meio da ditadura já na incipiente democracia”, pontua Janio.

Ele lembra que, já no governo de José Sarney (o primeiro teoricamente democrático após o final da ditadura, em 1985), o então tenente Jair Bolsonaro tramou ataques terroristas, numa tentativa de forçar o governo a aumentar o salário dos militares.

Na época, um repórter da revista Veja foi convidado à casa de Bolsonaro para um “assunto importante”. Mas, ao chegar lá não foi recebido pelo tenente, mas sim por sua mulher que fez o papel de porta-voz. A partir da revista, Bolsonaro fez suas ameaças terroristas: “ou o governo aumentava o salário (“soldo militar”) dos tenentes, ou o abastecimento de água do Rio seria cortado pela explosão de bombas em um ponto crítico das adutoras. Foi oferecido para fotografia um croquis, bastante tosco, da linha de adutoras e das localizações”, lembra Janio.

O governo não cedeu ao aumento. Então Bolsonaro ameaçou com um segundo plano que seria a explosão de bombas em quartéis. Mais uma vez ele foi ignorado. Abriu-se um inquérito para julgá-lo. O processo chegou até o Superior Tribunal Militar. O incoerente foi o resultado de todo o trâmite judicial, e as consequências contra o tenente desordeiro.

Bolsonaro foi absolvido e sentenciado a passar para a reforma. “O que ainda lhe rendeu, como bonificação dada na época aos reformados, promoção ao posto seguinte (por isso o “capitão Bolsonaro”) e o soldo correspondente e integral”.

A explicação para Janio que resultou nesse “final”, para um soldado que fez ameaças terroristas, é que Bolsonaro sempre apoiou a ditadura.

“Ser apoiador da ditadura foi, desde 64, uma condição humana especial, com poderes e direitos acima de todos os códigos e convenções do convívio civilizado”.

Após ser reformado, Bolsonaro venceu a primeira eleição ao candidatar-se como vereador do Rio.

“Foi eleito pelos militares e suas famílias, que depois lhe asseguraram sucessivas posses como deputado federal. Uma vida fácil e improdutiva na Câmara ou fora dela, assim como a eleição presidencial, que Bolsonaro só teve graças à ditadura”, destaca Janio.

O colunista pontua que não apenas “a continuidade do tribunal militar de índole ditatorial” ajudou Bolsonaro no seu início de carreira política, como também a imprensa, que “temia soar como provocadora e revanchista”, silenciando-se diante do julgamento final do tenente terrorista e sua “impunidade premiada”.

“Além dos restos de 21 anos anticivilizatórios, imagens de Jair Bolsonaro são lembranças diárias daquela desgraça nacional. A ordem de comemorações é só provocação redundante”, pondera Janio. Para ler sua coluna na íntegra, clique aqui.

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