Gonzaguinha “fala” sobre o golpe de 2016

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Por Washington Luiz de Araújo, jornalista que conhece Gonzaguinha desde criancinha

Leia, ouça e assista!

Acordei no último dia de 2016 recebendo de um amigo um vídeo com Gonzaguinha, cantando uma de suas músicas que falavam da ditadura, cada vez mais atual. Gonzaguinha não está mais fisicamente entre nós, mas está em sua música. Em razão disso, resolvi criar uma entrevista imaginária com essa grande figura que ficou eterno com suas letras e sua luta.

Vamos ao “papo” com Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior.




Gonzaguinha, sobre o  golpe de 2016, que tirou do poder a presidenta Dilma Rousseff, o que você tem a dizer?

A gente não tem cara de panaca.  A gente não tem jeito de babaca. A gente não está com a bunda exposta na janela. Pra passarem a mão nela…

 

E vemos, Gonzaguinha, o judiciário se aliar ao golpe, na omissão e, em algumas vezes, na ação

A gente quer viver pleno direito,  quer viver todo respeito quer viver uma nação, quer é ser um cidadão

 

Sim, meu amigo, mas tem gente que não está percebendo isso, que não liga o golpe de primeiro de abril de 64 com o golpe de maio de 2016. Gente que é oprimida, explorada e não percebe ou não quer perceber.

Você deve notar que não tem mais tutu e dizer que não está preocupado. Você deve lutar pela xepa da feira e dizer que está recompensado.

Você deve estampar sempre um ar de alegria e dizer: tudo tem melhorado. Você deve rezar pelo bem do patrão e esquecer que está desempregado.

Você merece, você merece. Tudo vai bem, tudo legal. Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé se acabarem com o teu Carnaval?

Você deve aprender a baixar a cabeça e dizer sempre: “Muito obrigado”.

São palavras que ainda te deixam dizer por ser homem bem disciplinado. Deve pois só fazer pelo bem da Nação tudo aquilo que for ordenado.

 

Atenção coxinhas, o que o Gonzaguinha diz acima é pura ironia. Certo?

Mas, Gonzaguinha, já estão vindo com censura. Censura apoiada por um judiciário que age de forma seletiva.

Se me der um beijo eu gosto. Se me der um tapa eu brigo. Se me der um grito não calo. Se mandar calar mais eu falo.

 

E como combater esses golpistas, como lutar pela volta do estado de direito.

Melhor se cuidar. No campo do adversário é bom jogar com muita calma, procurando pela brecha, pra poder ganhar.

 

Mas a porrada está comendo solta, Gonzaga. É só se manifestar nas ruas para tomar cacetada, tiro de borracha e gás de spray de pimenta na cara

 Eu acredito é na rapaziada, que segue em frente e segura o rojão. Eu ponho fé é na fé          da moçada, que não foge da fera, enfrenta o leão.
 

Eu vou à luta com essa juventude, que não corre da raia a troco de nada. Eu vou no             bloco dessa mocidade, que não tá na saudade e constrói  amanhã desejada.

Aquele que sabe que é negro o coro da gente e segura a batida da vida o ano inteiro.

Aquele que sabe o sufoco de um jogo tão duro e apesar dos pesares ainda se orgulha de     ser brasileiro.

 

É, mas vemos ao lado dos golpistas atuais muitos que deram as costas para quem lutou contra o golpe de 64 e alguns outros que se diziam contra a ditadura.

Chega de tentar dissimular e disfarçar e esconder, o  que não dá mais pra ocultar e             eu não quero mais calar, já que o brilho desse olhar foi traidor.

 

E tem muito a ver o hoje com o ontem…

Memória de um tempo onde lutar por seu direito é  um defeito que mata. São tantas       lutas inglórias. São histórias que a história qualquer dia contará. De obscuros personagens, as passagens, as coragens são sementes espalhadas nesse chão.

De Juvenais e de Raimundos, tantos Júlios de Santana. Uma crença num enorme coração, dos humilhados e ofendidos, explorados e oprimidos, que tentaram encontrar a solução. São cruzes sem nomes, sem corpos, sem datas.

E tantos são os homens por debaixo das manchetes, são braços esquecidos que fizeram os heróis. São vidas que alimentam nosso fogo da esperança. O grito da batalha, quem espera, nunca alcança.

 

E  há esperança nisso?

 Quando o Sol nascer é  que eu quero ver quem se lembrará. Quando amanhecer é                 que eu quero ver quem recordará.

Não quero esquecer essa legião que se entregou por um novo dia e eu quero é cantar essa mão tão calejada que nos deu tanta  alegria.

Viver e não ter a vergonha de ser feliz. Passado é um pé no chão e um sabiá, presente         é a porta aberta e  futuro é o que virá, mas, e daí?

 

Ouçam aqui algumas das músicas de Gonzaguinha cujas letras fizeram parte da “entrevista”.

É \  O que é o que é

Recado

Comportamento Geral

Geraldinos e Arquibaldos

https://www.youtube.com/watch?v=kpuiD2S7jQY

Com a perna no mundo

Explode Coração, com Maria Bethânia

E vamos à luta

https://www.youtube.com/watch?v=bH3DCvDUdBg

Pequena memória para um tempo sem memória

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