Por Washington Luiz de Araújo – 

Gonzaguinha, um batalhador contra a ditadura, pelas causas sociais, aqui no vídeo do programa Ensaio, do grande “baixo” Fernando Faro, e cantando no disco “Recado, Gonzaguinha”.

Infelizmente, o que Gonzaguinha dizia em 1990 sobre os duros anos 60 e 70,  depois de cantar “Comportamento Geral”, nos traz para os dias de hoje:
“Incoerência das coisas. A gente acreditava numas coisas que as pessoas não acreditavam e a gente lutava pelo que acreditava.
Eles não queriam, mas a gente fazia. (…)  A gente continuava, na verdade, lutando por uma qualidade melhor de vida, por um relacionamento melhor entre as pessoas, acabar com os desequilíbrios sociais (…), trabalhando por isso tudo…”

Gonzaguinha faleceu no ano seguinte, mas nos deixou um legado de luta.
Aqui, na base da ironia, ele diz que o povão merece, mas era só um desabafo sarcástico, muito peculiar no grande músico e batalhador pelo social:

Você deve notar que não tem mais tutu
e dizer que não está preocupado
Você deve lutar pela xepa da feira
e dizer que está recompensado

Você deve estampar sempre um ar de alegria
e dizer: tudo tem melhorado
Você deve rezar pelo bem do patrão
e esquecer que está desempregado

Você merece, você merece…

Pelas redes sociais, pelas ruas, às vezes a gente se excede e diz que o povão merece, devido sua complacência, mas na verdade ninguém merece. Muito menos quem nasce sem recursos financeiros, com risco de fome e de morrer cedo por ser pobre.

Tudo isso para dizer que a Proposta de emenda Constitucional, PEC 241, que congela por 20 anos  recursos para Saúde e Educação entre outros é uma vergonha, é um crime. Tirar das pessoas pobres o pouco que tem para sobreviver é de uma covardia sem tamanho.

Gonzaguinha, sei que você dizia isso na base da ironia, pois este povo não merece, mas torço para que ele se conscientize de que ele tem um bem, o voto, que é só dele e que com este bem ele poderia fazer o melhor para si próprio. Voto que lhe foi tirado com o golpe contra a presidenta Dilma. Voto pelo qual é ludibriado para dar a qualquer um que não está nem aí com o  bem estar do povão, mas sim só se locupletar.
Você mesmo, Gonzaguinha, que usou da ironia para falar da complacência do nosso povo, também escreveu e cantou:

Craque mesmo é o povo brasileiro
corre em campo, se esforça o tempo inteiro
Via pra ponta e centra e cabeceia
e ele mesmo é o goleiro que escanteia
e o gandula que apanha no fosso a pelota
e a galera que a equipe incendeia

Craque mesmo é o povo brasileiro
carregando esse time de terceira divisão
nesse jogo sem gol, mas que emoção,
couro cru também é um mata fome!
Sempre um bamba se esquece
e a bola come
sempre um morre, é fatal a indigestão.

Aqui, os vídeos com depoimento de Gonzaguinha e ele cantando “Comportamento Geral” e “E por falar no rei Pelé”.