Por Bepe Damasco, compartilhado de seu Blog
Uma das mais conhecidas chagas brasileiras é o ódio devotado por grande parte da elite aos pobres e negros.
Foto: Polícia Militar do Estado da Bahia – Divulgação
Duvido que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, dissesse que “não há operação policial sem efeito colateral”, caso as forças de segurança tirassem a vida de moradores dos Jardins, do Morumbi ou de Higienópolis.
Para início de conversa, chega a ser inimaginável a ocorrência de operações policiais em bairros de luxo não só de São Paulo, mas de quaisquer outras cidades do país, embora se saiba que muitos barões da droga e do crime organizado morem em endereços elegantes.
Não há qualquer surpresa, portanto, quando vemos num dia um governador fascista camuflado de direitista civilizado defender chacinas e, no outro, um colega seu, igualmente mandatário de uma unidade poderosa da federação, fomentar a divisão do Brasil e dos brasileiros, opondo o Sul e o Sudeste ao Nordeste.
O problema que salta os olhos é o silêncio do atual governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, e dos ex-governadores Rui Costa (ministro da Casa Civil do governo Lula) e Jaques Vagner (senador e líder do governo no Senado) sobre os recordes funestos de matança protagonizados pela polícia militar da Bahia.
Abre parênteses: depois de derrotar o carlismo, o PT baiano inaugurou um virtuoso ciclo de desenvolvimento social e econômico no estado, que conta com amplo reconhecimento da população. Tanto que 2023 marca o 17º ano de gestões petistas consecutivas: oito anos de Jaques Vagner, oito de Rui Costa e, agora, Jerônimo Rodrigues. Fecha parênteses.
Contudo, os incontáveis militantes petistas da causa dos direitos humanos e a sociedade em geral têm o direito de saber por que diabos a polícia baiana não é de hoje lidera o ranking da letalidade. Suas vítimas preferências se enquadram naquele padrão conhecido: jovem, pobre e preto.
É de conhecimento público que a base de toda esta tragédia é a guerra às drogas, uma estupidez que ceifa vidas em profusão, aterroriza as favelas e superlota as cadeias sem colher nenhum resultado em termos de diminuição do consumo e do tráfico de entorpecentes.
Que Tarcísio e Cláudio Castro se pautem por essa política de extermínio, e não recuem mesmo questionados pela imprensa, MPs e ouvidorias de polícia, é algo pra lá de previsível, afinal, carregam em seus DNAs a ojeriza ao povo.
Mas, é inadmissível que os ex-governadores petistas e o que está no exercício do cargo se mantenham calados enquanto suas polícias seguem puxando o gatilho na direção dos alvos de sempre. Se eles não controlam suas polícias, insubordinação comum no Brasil, não teria chegado a hora de enfrentar essa aberração institucional de peito aberto?
Fico pensando: quais são os fundamentos teóricos e programáticos para a implementação de políticas de segurança pautadas na morte dos mais humildes?
Com toda a certeza, nada disso tem respaldo nos programas, deliberações e resoluções do PT sobre o assunto.