Publicado no Jornal GGN –
Jornal GGN – Após ser um dos alvos de uma grande entrevista cedida por Venina Velosa ao Fantástico do último domingo (21), a presidente da Petrobras Graça Foster falou ao Jornal Nacional sobre as acusações de que sabia de irregularidades cometidas na estatal há muitos anos. Ao principal noticiário da Globo, Graça afirmou que Venina, em mensagens eletrônicas, nunca falou diretamente sobre corrupção, e tampouco o fez nos encontros presenciais que ambas tiveram.
Para a presidente, Venina enviou apenas um e-mail com mensagens “crifradas”, que não citavam cartel, desvio de dinheiro, propina ou fraude em licitações. Segundo Graça, Venina também nunca apresentou nenhuma denúncia formal aos demais membros da Petrobras.
Graça Foster também afirmou que Venina foi enviada ao Cingapura pela Petrobras em duas oportunidades. Na primeira, quando brigou com Paulo Roberto Costa, e não se sabe o motivo. Foi quando ela fez um curso. Hoje à imprensa, Venina diz que estudar foi imposição da Petrobras para que ela ficasse longe dos negócios da empresa. Na segunda oportunidade, segundo Graça Foster, a própria Venina pediu para assumir uma vaga que acabara de abrir em Cingapura. Ela foi com status de diretora-presidente e salário maior.
O JN procurou Venina para rebater as declarações de Graça Foster. Ela negou que tenha pedido para ser enviada ao Cingapura, reafirmou que a diretoria da estatal sabe de irregularidades cometidas na gestão da empresa há anos, e não explicou por que nunca falou diretamente sobre os casos de corrupção que diz ter tomado conhecimento.
Veja, abaixo, a entrevista completa:
JORNAL NACIONAL – Quando a senhora diz que recebeu os e-mails de Venina, a senhora diz que não entendeu. A Venina disse que um gestor, quando não entende, procura saber, procura entender se viu algo errado neles. O que a senhora tem a dizer a respeito disso?
Graça Foster, presidente da Petrobras – Os e-mails que eu recebi da Venina foram e-mails de feliz aniversário, e-mail relativo quando eu tomei posse na Petrobras. Um primeiro e-mail, que foi o primeiro que ela cita, que fala de abril de 2009, simples compreensão e este quarto e-mail, de outubro de 2011. Ele é um e-mail longo, bastante emocionado, cheio de preocupações dela e em quatro linhas ela faz alguns comentários, que me pareceram assim bastante cifrados, quando ela fala em ‘licitações ineficientes’. Ontem, ela explicou o que é o projeto esquartejados e tal. Em nenhum momento, nenhum momento, ela fala em corrupção, fraude, conluio, cartel. São palavras muito simples de serem entendidas.
JN – A senhora não se preocupou, mesmo que mal entendidas, aquelas palavras, ou mesmo usuais, como a senhora diz, que fosse investigada aquela denúncia que ela estava fazendo?
Graça Foster – Nós tínhamos feito já vários… Ela não fez uma denúncia
JN – A senhora não entendeu aquele e-mail como uma denúncia?
Graça Foster – Não. Aquele e-mail não foi uma denúncia. Ela chamava a atenção e ela ainda dizia assim: ‘Poxa. Tarde demais para entrar em detalhes’. Isso está no e-mail, alguma coisa parecida com isso. E eu logo que assumi a presidência, a Venina quis falar comigo e veio. E nós conversamos sobre vários desafios que eu tinha pela frente.
JN – Quando ela esteve com a senhora, ela não fez nenhuma denúncia?
Graça Foster – Nenhuma denúncia. O que nós conversamos muito era sobre custos de projetos mais altos do que os previstos. Prazo de projetos muito mais longos do que os previstos e das atitudes que eu precisava tomar para que a gente pudesse ir por um outro caminho. E essa foi a grande parte da nossa conversa. Custos e prazos.
JN – Agora, no caso da comunicação do abastecimento, houve uma comissão e houve uma punição. E ela fez essa denúncia. Não é?
Graça Foster – Ela fez essa denúncia.
JN – Se nesse caso se chegou a uma conclusão, se encontrou o problema, se houve punição, por que não se deu mais crédito ao que ela falou depois? Mesmo que ela não tenha usado palavras mais taxativas? Por que você não deu crédito à Venina quando ela falou de outros assuntos?
Graça Foster – Não é que eu não tenha dado credito à Venina, a Venina falou de assuntos que eram da nossa agenda do dia a dia. Da nossa agenda. De que os projetos precisam ser conduzidos de forma diferenciada, monitorados, gerenciados, coordenados de forma diferenciada e isso já era dezenas de trabalhos de grupo, na busca desses processos.
JN – Ela diz que além de mandar e-mails e de lhe falar pessoalmente, ela também encaminhou para a diretoria estas denúncias, onde a senhora tinha e tem assento, obviamente. Não são avisos suficientes, presidente?
Graça Foster – Jamais nas reuniões de diretorias que eu participei, e olha que eu, para faltar a uma reunião de diretoria, é difícil, não houve denúncias em nenhuma das reuniões de diretoria da Petrobras. Diretoria da Petrobras, presidida pelo Gabrielli, presidida pela Graça, no pouco espaço de tempo que teve a Venina aqui comigo, é, porque ela ficou lá em Cingapura, então, não teve denúncias. O que a Venina diz, e eu espero muito que ela tenha todos estes documentos e deve ter, porque ela é bastante organizada, todos estes documentos, ela vai ajudar muito a Petrobras, se ela tiver todos estes documentos. Eu tenho certeza de que ela vai ajudar muito ao Ministério Público Federal, vai ajudar muito a tudo que a gente espera de positivo desta Operação Lava-Jato. Sobre esse e-mail pretendido dela de 2011, a gente conversou algumas atividades correlacionadas a este e-mail, ela poderia ter falado comigo qualquer coisa naquele momento.
JN – Ela teve oportunidade para fazer as denúncias, falar com a senhora e não o fez?
Graça Foster – Ela poderia ter feito, mas ela não fez. Não fez denúncia para a diretoria, ela não fez. Mas ela não fez denúncia para a diretoria, ela não entrou na sala, fez uma apresentação e denunciou, ela não fez isso.
JN – Por que ela não está falando a verdade?
Graça Foster – Eu não sei, ela está com cinco anos, segundo ela, de documentos nas mãos e que ela preferiu, ela deu depoimento na CIA da Rnest, na comissão interna de apuração da Rnest, ela deu depoimento na comissão interna do Comperj, ela falou tudo o que ela quis falar, ela levou para casa o relato dela, o depoimento dela, ela mandou outras informações, ela anexou outras informações, isso tudo ela fez, de fato.
JN – No caso de Cingapura, ela se disse perseguida. Disse que foi mandada para Cingapura para ficar longe da Petrobras. E disse que isso foi literal, foi como ela ouviu. Ela foi punida por denunciar?
Graça Foster – A Venina teve 2 momentos em Cingapura, um momento com Paulo Roberto que é esse momento que os dois romperam a relação profissional deles, eles brigaram de fato, se desentenderam, ficava patente isso. Eu não sei porque. A Venina era uma pessoa que trabalhou como eu disse anos e anos com Paulo e o Paulo Roberto admirava a Venina e mostrava a Venina, os feitos da Venina e tudo mais. E aí, eles se desentenderam e a Venina foi fazer essa pós-graduação ou mestrado, na Universidade de Chicago, em Cingapura tem um campus e eles foram, foi uma decisão do Paulo Roberto e dela. Ela foi para lá.
JN – Ela disse que chegando lá foi avisada que não ia trabalhar que era para procurar o curso.
Graça Foster – Olha, eu só te falando o que eu sei. Ela não trabalhava comigo. Normalmente, quando a gente sai para fazer mestrado, doutorado, pós-graduação, que a gente sai e vai para outro país, a gente não trabalha, a gente fica estudando. Aí, tem a segunda vez da Venina em Cingapura. A Venina terminou o curso, voltou, foi trabalhar no IMC, o marketing de comercialização, com o Paulo Roberto, que era o presidente, com o Pereira, que era o chefe dela. E, depois que eu assumi, a presidência da Petrobras, passou um tempo assim, uns dois meses, a pessoa que estava em Cingapura saiu de Cingapura e a Venina pediu ao Cosenza se ela poderia voltar para Cingapura. Aí voltaria como diretora-presidente ou diretora-geral, era o cargo máximo, número 1 lá de Cingapura. Cingapura, não sei se você já teve a oportunidade de ir lá, é primeiro mundo, supermoderno, superorganizado. E foi com salário muito bom, porque ela tinha o topo.
JN – A senhora disse que a Venina era uma boa funcionária mas ela foi afastada depois dessa comissão. A senhora mudou a opinião sobre ela? Por que?
Graça Foster – Como assim? Ela é uma boa funcionaria, ela foi afastada porque todos, ela foi uma boa funcionaria, sim, em Singapura. Todos os dirigentes de empresas que foram apresentados pela comissão com algum nível de não conformidade, eles foram afastados.
JN – A senhora pode explicar o que é nível de não conformidade?
Graça Foster – Você tem na companhia, por exemplo, é muito importante colocar, nós não temos todas as ferramentas que o Ministério Público tem, que a Polícia Federal tem, a gente não faz escuta de telefone, a gente não tem identificação de que tivesse havido conluio, que tivesse havido má fé, que alguém tivesse recebido propina, nada disso. Mas os procedimentos da companhia, eles não foram seguidos à risca.
JN – Isso significa que ela agiu de maneira antiética?
Graça Foster – Talvez tivesse sido necessário mais prudência, tivesse sido necessário um envolvimento de mais tempo na discussão daqueles tópicos que ela estava tratando.
JN – Ela cometeu irregularidade?
Graça Foster – Eu não chamo de irregularidade. São não conformidades de procedimentos.
JN – Presidente, a Venina fez ontem um apelo a todos os empregados da Petrobras para que venham a público denunciar casos de corrupção. A senhora faria um apelo semelhante?
Graça Foster – Olha, eu tenho dito que a Petrobras não são, nós somos 85 mil empregados. Eu tenho dito isso sistematicamente. E eu coloquei, inclusive na entrevista que você deu a honra de estar, no nosso café da manhã, que é muito ruim você chegar num avião e você ver pessoas olhando para você, desconfiando de você. A família fica superpreocupada e tal. Então, o apelo que eu faço à companhia é que enfrente essa situação, que enfrente essa situação com retidão, com disciplina, com determinação e use a Ouvidoria e use a Auditoria da Petrobras.