Por Washington Luiz de Araújo
A grande mídia está em transição para o novo governo. A transição vem desde agosto de 2016, quando Dilma Rousseff foi retirada do poder sem nada que justificasse. Mas a fase crucial da mudança é agora, com a eleição de Jair Bolsonaro. Com isso, a chamada grande imprensa está colocando na prática um novo “manual de redação”.
De agora em diante, algumas palavras serão banidas para não “constranger” o novo governo. Por exemplo: ‘aparelhamento’, tão utilizada de 2003 a até meados de 2015, quando se falava das autoridades que se encontravam no poder, pode esquecer.
Nada de mencionar que ministros são indicados por evangélicos, empresários do agronegócio e banqueiros e, num futuro bem próximo, apaguem tudo que for sobre protecionismo do público para o privado.
Nepotismo? Nem pensar. Dizer que os filhos do “Coiso”, os “coisinhos”, são beneficiados pelo poder. Esquece que as “crianças” falam pelos cotovelos, atropelam e trazem constrangimentos ao país.
A palavra corrupção, usada e abusada há muito tempo, agora vem com ressalvas. Se for para acusar o PT, mesmo sem nenhuma prova, que use a gosto, sem moderação alguma. Por outro lado, dobre a língua antes de falar de corrupção do ministério do “Coiso”, dos políticos ligados ao mesmo.
Caixa 2? Que palavra mais em desuso! Proibido abrir a caixa preta do caixa 2 da campanha do “Coiso”. Risco de ser encaixotado.
Censura? Que censura? Mesmo se a redação receber ordem para não citar nomes de apaniguados com gordas contas bancárias na Suíça, a ordem é ficar quietinho. Nem pensar em publicar receita de bolo no espaço onde a informação deveria constar. Censurados, porém capachos.
E assim vai. Haja reunião de pauta para pautar o que não deve ser publicado. Intimamente, jornalistas podem até suspirar de saudade da época em que tinha liberdade de expressão, de até inventar offs, de publicar sem apurar. Até o momento, liberdade de suspiro ainda existe.