Por Rodrigo Gomes, compartilhado de RBA –
Rafaela de Ávila Cardoso, professora da EMEF Luiz Olinto Tortorello, relatou que voltou a trabalhar por pressão e acabou contaminada pela covid-19
São Paulo – Com apenas 10 dias da volta às aulas presenciais obrigatórias, a professora Rafaela de Ávila Cardoso, grávida de 8 meses, começou a apresentar sintomas de covid-19. Ela foi internada ontem (22) na Unidade de Terapia Semi-Intensiva do Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo, monitorando sinais vitais dela e de sua bebê, tomando corticoide, anticoagulante e outros medicamentos. A docente trabalha na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Luiz Olinto Tortorello, em São Caetano do Sul, e relata que voltou à escola no dia 5 fevereiro por pressão, já que não teve seus pedidos para manter-se em home office aceitos.
“Minha bebê está bem, mas o médico decidiu pela internação, pois disse que a piora nestes casos pode ser muito rápida. Voltei a trabalhar por pressão. Não consegui preencher a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), mesmo com o atestado de 14 dias com o CID de covid-19. Durante quase 11 meses estive em casa e não peguei nada. Foi só voltar duas semanas e já fiquei doente”, relatou Rafaela.
Sintomas
Segundo a professora, temendo voltar à escola em meio à pandemia de covid-19, ela solicitou à direção da unidade o afastamento no dia 5 de fevereiro, o que lhe foi negado. “Pedi para a direção da escola e eles me disseram que não seria possível nenhuma liberação a não ser que eu entrasse de licença”, afirmou. Entre os dias 5 e 10 de fevereiro, foram realizadas atividades de planejamento na escola. A partir do dia 11, a professora começou a receber alunos.
A professora diz ter sido informada que no dia 9 seria publicada uma normativa sobre o sistema de home office para servidores dos grupos de risco à covid-19. No dia 15, ela sentiu o primeiro sintoma: falta de ar, ao subir uma rampa na escola e ao ler trecho de um livro para seus alunos. No começo, ela pensou ser reflexo da própria gravidez. Nos dias seguintes, passou a sentir cansaço, dores, tosse e febre. No dia 21, já apresentando sintomas há alguns dias, a professora recebeu a confirmação do teste positivo para covid-19. A portaria que lhe garantiria a atuação em home office só foi publicada hoje (23).
Necessidade, insegurança, medo
A professora comentou que entende a necessidade de retomar as aulas presenciais, já que tem sido muito difícil manter o interesse e o aprendizado das crianças nas aulas online. Ao mesmo tempo, avalia que a volta foi cercada de insegurança e medo, já que a pandemia de covid-19 vem piorando desde o final do ano passado. Hoje, São Paulo tem o maior número de pessoas internadas em UTI com covid-19 de toda a pandemia.
“É muito difícil e cruel se sentir pressionada a fazer alguma coisa em que você está muito insegura e com medo de fazer. Voltar as aulas presenciais no momento em que estávamos de uma possível 2°onda. E, após 5 dias com os alunos e 9 dias no ambiente escolar, me vi com o que eu mais temia, testando positivo para covid-19. Com uma sensação de impotência, pois neste momento não tenho mais o que fazer a não ser tratar os sintomas e torcer que nada demais grave ocorra comigo e com minha filha. Enquanto meus amigos seguem correndo o risco em sala diariamente”, disse Rafaela.
Levantamento organizado pelos servidores públicos da prefeitura de São Caetano, até ontem (22), mostra que as escolas de São Caetano do Sul já registram 36 casos confirmados de covid-19. Destes, 34 professores e funcionários e dois estudantes. Além de 46 casos suspeitos, sendo 44 de docentes e funcionários e dois entre alunos. Todos os servidores tiveram de retomar suas atividades, mesmo maiores de 60 anos, doentes crônicos ou grávidas.
A RBA pediu posicionamento do governo do prefeito interino Anacletto Campanella Júnior (Cidadania), mas não obteve resposta até a publicação da reportagem.