Em entrevista ao Jornal da Fórum, ator explica por que defende uma ministra negra no STF e rebate acusações de ser um “identitário do Leblon”
POR IVAN LONGO, compartilhado da Revista Fórum
A ator e humorista Gregório Duvivier, nos últimos dias, vem sofrendo ataques nas redes sociais por estar puxando uma campanha para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indique uma mulher negra ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Em outubro, a ministra Rosa Weber se aposentará e Lula terá mais uma indicação para fazer à Corte. A pressão para que o presidente escolha uma mulher negra aumentou após o mandatário indicar Cristiano Zanin para a vaga deixada por Ricardo Lewandowski, principalmente após o novo ministro mostrar posições conservadoras diante de algumas pautas em votação.
Duvivier defendeu que o presidente indique uma mulher negra ao STF no seu programa Greg News, veiculado pela HBO, e divulgou uma abaixo-assinado, intitulado “Toma um café com elas, Lula!”, em que propõe um encontro entre o chefe do Executivo e as juristas negras Lívia Sant’Anna Vaz e Soraia Mendes, defendidas por movimentos sociais e antirracistas como possíveis indicadas para a Corte.
Alguns petistas, então, passaram a acusar Duvivier de querer chancelar as escolhas de Lula, e boa parte das críticas são no sentido de tachar o humorista como um “identitário do Leblon” – uma tentativa de descredibilizar sua opinião pelo fato de ser uma pessoa supostamente da “elite” e que defende “pautas identitárias”.
Em entrevista exclusiva ao Jornal da Fórum, da TV Fórum, nesta terça-feira (5), Duvivier reforçou sua defesa por uma mulher negra no STF e rebateu as críticas, dizendo que há uma falsa dicotomia nessas discussões entre identitarismo e trabalhismo.
“As pessoas que me acusam de ser identitário também me acusam de ser um rico do Leblon. Quem acusa isso está sendo, precisamente, identitário. O mais louco é as pessoas usando a cartada do identitário para me descredibilizar”, afirmou.
“Essa dicotomia que apontam entre uma classe dominante identitária e uma classe dominante comprometida com os trabalhadores é falsa. O [Cristiano] Zanin é da classe dominante e sempre defendeu a classe dominante”, prosseguiu o humorista.
Duvivier, na entrevista, ainda criticou a pecha de identitarismo atribuída às lutas sociais, como as travadas contra o genocídio da população negra e o encarceramento em massa.
“Volta e meia colocam no saco identitário lutas por sobrevivência. Você chamar pessoas que lutam contra o encarceramento em massa ou o genocídio de uma população, pelo direito à vida, como no caso dos povos indígenas, lutam só pelo direito das pessoas de serem o que elas são, acho um puta desserviço. É uma guerra falsa”, pontuou.
Segundo o humorista, o governo Lula não pode se limitar à diversidade no campo simbólico, e a indicação de uma mulher negra ao STF seria uma forma de colocar esse pluralismo pregado na campanha eleitoral em prática.
“Lula subiu a rampa com a diversidade, a população se viu naquela rampa e foi muito importante simbolicamente. Mas não pode se limitar ao simbólico. Se tem algo que não é simbólico é o STF. Um ministro no STF vai durar 30 anos. É poder de fato que se dá para uma pessoa negra, não é só subir a rampa”, destacou.