Greve dos professores paulistas: enfim um pesadelo para Geraldo Alckmin?

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Por André Cristi, Daniel Martins e Roberto Brilhante, em Carta Maior – 

Eles prometem fechamento de rodovias em todo o estado nesta quinta-feira (9) e mais de 30 mil professores cercando o Palácio dos Bandeirantes na sexta.

Roberto Brilhante/Carta Maior

Quando Paulo José da Silva começou a lecionar na rede pública do estado de São Paulo, o professor ganhava em torno de 10 salários mínimos. Foi em 1988. “Hoje quem ganha 4 mínimos ganha muito”, lamenta.




Paulo dá aulas de história para cerca de 500 estudantes. “Quanto mais estudante na sala, pior fica a aula. Por mais que você tenha compromisso como professor, não vai conseguir. Com sala superlotada não tem como fazer um bom trabalho”, afirma.

A greve dos professores do Paraná deste ano já barrou o pacote neoliberal de Beto Richa, provocando uma debandada na base aliada tucana e índice de desaprovação recorde. Em São Paulo já são 140 mil professores de lousas apagadas e braços cruzados. A greve atingiu cada um dos 645 municípios paulistas e os mais recentes atos dos grevistas chegaram a contar com 50 mil manifestantes.

A última declaração pública de Bebel, presidente da Apeoesp, sindicato dos professores da rede pública, sugeria que o governo de Alckmin anda “pouco cuidadoso”. Eles prometem fechamento de rodovias em todo o estado nesta quinta-feira (9) e assembleia estadual com mais de 30 mil professores no Palácio dos Bandeirantes para sexta.

A secretaria de educação de Geraldo Alckmin começou o ano fechando mais de 3400 salas de aula. O resultado é professor desempregado e salas superlotadas – há turmas com mais de 60 estudantes matriculados. O reajuste salarial previsto foi de 0%: o que, junto da inflação beirando 8%, significa arrocho salarial.

Camila de Moraes Afonso, professora de Filosofia de cerca de 600 estudantes do bairro dos Pimentas em Guarulhos, não sai de greve sem reajuste salarial e reabertura de salas. “Ficou muita gente desempregada”, recorda.

Camila considera um privilégio ter em média 38 estudantes por sala. “Minha média é essa só porque a direção da minha escola é engajada e resiste à superlotação”.

Outra política tucana que inquieta os professores é a lei 1093. Aprovada em 2009, quando o governo do Estado ainda pertencia a José Serra (PSDB), a lei prevê contratações de professores para um apenas um ano letivo. São os professores “Categoria O”. Ao contrário do resto da categoria, eles não têm direito a aposentadoria pública, não podem faltar mais que duas vezes por ano, não têm direito de utilizar o Hospital do Servidor Público. Após um ano letivo, são postos na duzentena – ou seja, ficam um ano sem poder dar aula e sem receber.

É o caso de Gabriel Costa que, apesar de concursado, está sem escola e sem salário este ano: “eu não sei se sou ou estou professor, é uma incógnita pra mim”.

 O “Categoria O”, ele explica, “é o soldado raso que cobre ausências”. Professores entram em licença ou se aposentam e o governo do Estado prefere o recém-formado ou o aluno de segundo ano da faculdade em vez do professor já concursado.

Gabriel trabalha como professor há 15 anos. “Só tive decréscimo. Todo ano eu penso em desistir da carreira. Mas aí eu encontro um aluno na rua, ele me cumprimenta, percebe que fiz parte do seu crescimento”, conta emocionado.

Lucas Rodrigues Cavalcanti
deve ser um dos que mantém motivados professores como Gabriel.

Estudante do 3 ano do Ensino Médio e militante do grêmio da escola Dr. Francisco Borges Vieira, na Vila Alpina (zona leste da capital),  acompanha as mobilizações dos professores. “A greve é muito legítima”, defende. “O amparo do estado é nulo, a estrutura escolar não me preparou em nada para a vida. Graças à força de vontade dos professores que tive que eu me formei como pessoa”.

Enquanto uns estão sem salas de aula, outros têm que educar mais de 20 turmas. É o caso de Regiane Oliveira dos Santos, professora da escola Ministro Oscar Dias Correia, noroeste da capital. A menor de suas 23 turmas conta com 33 estudantes; a maior, 61. “Minha escola ficou com os alunos que vieram de outras que tiveram salas fechadas”.

“O sistema educacional do estado de São Paulo é muito atrasado: faz a gente perder a credibilidade perante os alunos e desmotiva”.

Bianca Martins dos Reis é parte dos estudantes que compreenderam que a culpa não é dos professores: “os professores têm muita vontade de ensinar, mas o problema da educação e da falta de estrutura ainda é maior do que eles”.

Formada por uma escola estadual no Jardim Paineira, zona leste da capital, Bianca conhece os efeitos do projeto educacional do governo do Estado. “A gente não tem o mesmo direito que o estudante de escola particular tem, de entrar numa faculdade pública”, protesta.

Jarino Júnior Martins, professor de Filosofia da escola Waldomiro Mariani, de Cubatão,explica como essa exclusão se dá em sua escola: “Eu aposto na educação como caminho para transformar a sociedade. Mas são mais ou menos 45 alunos por sala. Eu não consigo atender todo mundo, não consigo tirar dúvida. A maioria fica para trás”, afirma.

Créditos da foto: Roberto Brilhante/Carta Maior

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