Guerra Civil domina as bilheterias e levanta debates sobre jornalismo e identidade nacional

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O longa discute o papel fundamental do jornalismo em uma época de desafios éticos e profissionais

Por Isabella Vilela, compartilhado de Mídia Ninja




Foto: Divulgação

Oi, eu vou querer um ingresso pro filme do Wagner Moura, por favor”, foi a frase mais escutada na bilheteria do último fim de semana. Eu sei, porque eu cheguei cedo demais para a sessão e fiquei ao lado do balcão de vendas. 

“Guerra Civil”, dirigido e escrito por Alex Garland e produzido pela A24, se mantém como o filme mais assistido nos Estados Unidos pelo segundo fim de semana consecutivo, enquanto sua estreia garantiu o primeiro lugar aqui no Brasil. O longa arrecadou mais de US$ 11,1 milhões na bilheteria norte-americana e R$ 6,5 milhões na brasileira, com mais de 260 mil ingressos vendidos no mercado nacional durante o fim de semana de estreia.

Estrelando Kirsten Dunst, Cailee Spaeny e Stephen Henderson, a obra narra a história de jornalistas e fotojornalistas que atravessam os Estados Unidos durante um período de guerra civil. Na trama, os estados se separam da união e o presidente enfrenta a iminência de um assassinato pelas forças opositoras.

Uma aula de jornalismo

Em entrevista ao Cine NINJA, o ator, que possui formação em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), compartilhou sua perspectiva sobre o atual cenário da profissão.

“Eu acho que o jornalismo é fundamental. Você pode discordar de uma linha editorial de um jornal, mas você não pode esquecer que ali têm jornalistas que estudaram e se formaram, cuja a natureza do que eles aprenderam é ser imparcial, é checar os fatos e ouvir os dois lados”, diz. “Isso está acabando e é algo assustador. Eu não canso de dizer, o que mais me assusta no mundo hoje é a ideia de que a verdade, tal qual nós conhecemos, acabou. Existem as bolhas de narrativas e o fato está deixando de ser importante. O jornalismo como negócio está ruindo. As pessoas não querem mais ler. Se informam por vídeos rápidos e eu acho isso muito perigoso”.

Lee Smith, interpretada por Kirsten Dunst, é uma fotojornalista de guerra conhecida que enfrenta uma crise existencial em relação ao seu trabalho diante dos eventos que testemunha. Ela compartilha que, ao documentar os horrores da guerra, sua intenção era enviar as imagens de volta para sua terra natal como um aviso para que eles não chegassem a esse extremo. Isso nos leva a questionar como a população dos Estados Unidos, um país que nem nome possui, pode encarar um recado como esse.

Ao pensar no contexto brasileiro, durante toda a exibição, foi inevitável questionar o que ocorreria hoje se de fato estivéssemos vivendo uma guerra civil, principalmente diante do sucateamento da classe jornalística e dos ataques enfrentados nos últimos anos.

A reflexão que fica para os brasileiros

Presenciar Wagner Moura na telona sempre traz uma sensação reconfortante e vê-lo atuando em outro idioma parece revitalizar completamente o seu personagem. Não que isso seja um problema, já que o testemunhamos hablando español perfecto em Narcos, uma língua que, apesar de distinta, é familiar e a história já era conhecida.

Embora as expressões em inglês tenham causado um impacto mais marcante, um momento curioso ocorreu na sessão durante a cena em que o grupo de jornalistas chega ao acampamento voluntário e Joe, personagem interpretado por Wagner, começa a pular corda com as crianças. Os risos entre os espectadores ecoavam em conjunto, e suspeito que nos Estados Unidos, uma cena tão simples não tenha provocado tal comicidade. Porque por algum motivo, ali estava Wagner Moura, o talentoso ator brasileiro, dando vida a um personagem estadunidense.

A adaptação dos maneirismos norte-americanos domina as cenas até o encontro com o supremacista interpretado por Jesse Plemons. Quando ele pergunta a Joe ‘que tipo de americano ele é’, os espectadores sentiram um nó na garganta coletivo, e de repente estávamos todos em perigo também. “Fala que é do Tennessee“, sussurrou a senhora atrás de mim.

No final das contas, é importante ter um ator com a magnitude de Wagner estrelando em um filme como esse, justamente para fazer a ponte de reflexão aqui no Brasil. Em períodos eleitorais, frequentemente surgem debates sobre a vasta quantidade de partidos políticos brasileiros com aquele típico comentário: “lá nos Estados Unidos é muito mais fácil. Eles tem os Democratas e os Republicanos e pronto!”. E aí, eu te pergunto: onde essa polarização os levou? 

Vá até o cinema, peça um ingresso para “o filme do Wagner Moura” e encontre a resposta.

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