Guerra noticiosa na campanha eleitoral pode ser um tiro no pé

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Por Carlos Castilho, Observatório da Imprensa – 

O segundo turno das eleições presidenciais tem tudo para ser uma guerra entre governo e os três maiores jornais do país, cujas simpatias pela candidatura oposicionista ficaram expressas claramente já na campanha para o primeiro turno.




Os antagonismos entre governantes e donos de jornais não é uma novidade na América Latina, um continente onde a inexpressividade dos partidos acabou fazendo com que a luta política deixasse de ser travada na arena parlamentar para acontecer no espaço midiático. Trata-se de um confronto entre quem manipula as finanças e os empregos públicos contra os que controlam o fluxo de informações para a população.

Aparentemente trata-se de um confronto desigual porque os governos têm a força militar, ma,s se levarmos em conta que as autoridades precisam do apoio da opinião pública para atender egos e projetos políticos, a luta na arena midiática tende a ser mais equilibrada, porque a imprensa sabe como manipular fatos, versões e dados em seu favor.

A radicalização do conflito de interesses entre governos e empresas de comunicação tem seus exemplos mais recentes nos casos da Venezuela, Equador e Argentina. A fragmentação e a perda de consistência ideológica levaram os partidos a transferir boa parte de sua função oposicionista para a imprensa conservadora. Esta, por seu lado, dissimula a sua ação político-partidária por meio do discurso de defesa da liberdade de expressão, um conceito que as páginas editoriais transformaram em arma ideológico-partidária sem qualquer vinculação com o exercício de um direito fundamental das pessoas.

Nos últimos anos tive a oportunidade de acompanhar de perto a radicalização da batalha midiática na Venezuela e Equador na qualidade de consultor de organizações preocupadas com o desarmamento ideológico, e pude verificar in loco como o processo acaba empurrando os dois lados para um beco sem saída.

Para enfrentar a manipulação de notícias por parte dos jornais oposicionistas, os governos de tendência populista têm grande dificuldade para escapar do autoritarismo, o que acaba minando a sua imagem interna e externa. A imprensa, por seu lado, recusa-se a aceitar a perda de privilégios, alguns deles francamente ilegais, confundindo intencionalmente liberdade de empresa com liberdade de expressão.

Nas circunstâncias atuais, a posição da imprensa está fragilizada pela crise por que passam jornais, revistas e telejornais em consequência das mudanças provocadas pela internet no modelo tradicional de negócios no segmento. Em muitos casos, a agressividade antigovernamental é também uma cortina de fumaça para encobrir dificuldades financeiras.

A primeira consequência, fácil de avaliar, é a mútua perda de credibilidade. Os cidadãos acabam confusos diante do tiroteio informativo, com fatos e versões contraditórios que tendem a transformar o debate numa batalha quase pessoal, enquanto o público vai lentamente refluindo para uma atitude passiva.

descrédito cobra seu preço no médio prazo na imprensa porque o refluxo do público se materializa na redução da vendagem, que somada à inevitável queda da publicidade causada pelo instinto de sobrevivência dos anunciantes acaba solapando as bases financeiras de jornais, revistas e emissoras de radio ou televisão. A vulnerabilidade econômica da imprensa torna-se ainda mais letal nesta fase de transição de modelos analógicos para os digitais, quando tudo é incerteza.

Na Venezuela, no Equador e na Argentina os grandes grupos midiáticos perderam força diante do embate contra governos interessados em quebrar a histórica hegemonia de grupos midiáticos familiares. Empresas fecharam, como no Equador, ou estão sendo vendidas a outros grupos econômicos, como na Venezuela.

A agonia lenta e aparentemente irreversível dos grandes impérios jornalísticos em vários países latino-americanos deixará transitoriamente um vácuo informativo na população, porque a mão forte do governo, endurecida durante a batalha midiática, tende a preservar a centralização e o controle. É uma consequência da inércia gerencial e da incompreensão do papel da diversidade informativa no desenvolvimento de percepções e conhecimentos.

cegueira provocada pelo passionalismo político na batalha eleitoral tende a provocar prejuízos graves na imagem dos governantes, na estabilidade empresarial dos veículos de comunicação e também no público, que fica privado de uma informação confiável, diversificada e orientada para os seus interesses.

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