Guga: a saga de um grande brasileiro contada num grande livro

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Por Washington Luiz de Araújo, jornalista

gugaTerminei de ler o livro Guga – um Brasileiro, autobiografia de Gustavo Kuerten em depoimento a Luís Colombini. Sou daqueles que quando gostam de um livro saem por aí falando, contando passagens. E não foi diferente com o livro de Guga. Virei um chato. Daqueles que mudam de assunto só para falar da obra do momento.

O livro me fez chorar algumas vezes. As histórias do tenista desde a infância, a formação familiar, a perda do pai quando este contava apenas com 41 anos e Guga com oito, o carinho, a dedicação e a firmeza da mãe Alice, a cumplicidade e apoio administrativo do mano Rafael e a amizade com o meio que substituto do pai, aguerrido e competente treinador Larri Passos, mostram para a gente que a vida, mesmo dura, pode nos levar a grandes vitórias.




Entrevistei Guga para a Revista Brasileiros em 2011. No bate-papo mais do que agradável em sua sala de troféu e de reunião, Kuerten me falou sobre a solidão do tenista, lembrando que, no seu caso, isso se dava muito mais nos treinos, quando ficava mais de quatro anos praticando, do que na quadra, na hora do jogo.

No jogo, Guga diz que a visão de uma bandeira do Brasil, a audição de um grito “Vai Guga”, ou “Allez, Gugá!” (pronunciado pela sua segunda torcida querida, a francesa em Roland Garros), ou então o “Vai, Cavalo” (de Larri Passos) não o deixavam só. Havia ainda as presenças, mesmo que esporádicas dado as dificuldades para transportes e hospedagens da mãe, da avó (a quem se refere como Oma, vó em alemão) e do irmão Rafael.

Sobre o mano e a importância da afetividade nas quadras, Guga contou uma história curiosa aos leitores de Brasileiros. Num jogo importante, o tenista se sentia incomodado, algo não ia bem. Estava perdendo o jogo devido a este incômodo que não identificava. Num intervalo, sentado na cadeira, fitou o irmão na arquibancada, que perguntou:

– O que está havendo?

De pronto, Guga respondeu:

– Estou com vontade de fazer xixi.

– Então vai logo, poxa!

– É verdade. Vou, sim.

Foi, voltou e ganhou a partida. Guga diz que sem o irmão por perto não identificaria o incômodo e perderia o jogo.

O tenista dedica páginas também para o outro irmão, Guilherme. O Gui, como se refere, nasceu com paralisia cerebral e sobreviveu até os 28 anos, tendo falecido em 2007. No capítulo “O Gaurdião das Taças”, Guga fala do “efeito Gui”: “Aquele (momento) que faz com que a gente valorize uma coisa de cada vez e extraia o máximo de cada situação e cada instante. Eu fui aos céus quando ganhei o primeiro campeonato infantil no clube, do mesmo jeito que vibrei quando conquistei o estadual. Ser o número 1 do Brasil me deixou tão radiante quanto no dia em que venci o primeiro torneio da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais).”

E Guga também dedica muitas páginas para os seus momentos em quadra. Começa contando como ganhou o seu primeiro Grand Slam, em Roland Garros (1997). Fala da ansiedade, da incerteza de cada jogo e como foi cada momento pisando o saibro. Os três Roland Garros, inúmeros outros grandes torneios, o problema no quadril, as operações e a hora de ter que parar de fazer o que mais gostava, está tudo lá, em “Guga, um Brasileiro”.

Cada game, cada set, cada jogo, perdidos ou vitoriosos, as manhas dos adversários, Guga narrou e narrou como só ele poderia narrar, trazendo para o livro sua vida naqueles momentos em que contribuiu para que brasileiros levantassem o astral e se orgulhassem não só pelos títulos mundiais de futebol, de vôlei, de automobilismo, de natação, mas também de tênis.

Allez, Gugá!.

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