Por Ruben Bauer Naveira, compartilhado de Jornal GGN –
Com o SUS desmantelado e sobrecarregado, aos brasileiros só resta informarem-se o melhor sobre como prevenir e tratar a doença, por conta própria
“A razão de existir de um país é prover bem-estar aos seus habitantes”.
Me dá vergonha ver-me compelido a iniciar este texto enunciando tamanha obviedade.
Porém, se no passado o Brasil até possa ter sido um lugar que merecesse ser chamado de “país”, hoje a sua classe dominante sequer faz mais questão de fingir isso. Se há algo profilático que possa decorrer dessa pandemia de Covid-19 (que chamaremos simplesmente de “covid”), é ver liquidada qualquer pretensão a se manter aquelas aparências:
– No Brasil, os leitos de UTI dos hospitais públicos são em menor número que os da rede privada, porém o Estado se exime e se omite de acionar os mecanismos (que existem) para requisitar os leitos privados vagos, virando as costas para milhares de mortes por mera falta de atendimento médico;
– O Brasil responde por 38% do total de mortes de profissionais de saúde por covid em todo o mundo (a grande maioria auxiliares de enfermagem, a categoria mais precária dentre eles), tragédia que grita as péssimas condições de trabalho desses profissionais, em especial na rede pública;
– No Brasil, o auxílio emergencial às pessoas mais necessitadas é recusado a 37 milhões de requerentes, o que impõe a essas pessoas arriscar-se ao contágio nas filas às portas das agências da Caixa; mães de família cadastradas no programa Bolsa Família têm esse provento suspenso, ainda sem que o auxílio emergencial lhes tenha sido aprovado; a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do MP denuncia haver pelo menos 40 mil casos de auxílios arbitrariamente negados pelo simples fato de a pessoa ter um familiar preso; e o presidente da república veta a extensão do auxílio a categorias como a de catadores de lixo reciclável.
É neste não-país que se abate sobre os seus habitantes a epidemia da covid.
Já é sabido que, quando a pessoa chega ao ponto de passar a sentir “falta de ar”, é porque ela já está com pneumonia há dias – a “falta de ar” é sintoma do agravamento dessa pneumonia.
Também já se sabe que a pneumonia da covid, mesmo quando a pessoa acaba curada sem chegar a precisar ser internada em hospital, deixa alguma sequela em termos de redução da capacidade pulmonar; somente no futuro é que se saberá se essas sequelas se revertem com o tempo, ou se serão permanentes.
É nesse contexto que as recomendações à população se resumem a essas cinco:
1.) Fique em casa;
2.) Se precisar sair, use máscara;
3.) Lave as mãos com frequência (quando não puder, use álcool em gel);
4.) Se tiver febre, use paracetamol;
5.) Somente procure um hospital ou posto de saúde se começar a sentir a “falta de ar”.
As três primeiras, se a pessoa contrair a covid, somente servirão para ela não propagar a doença, porém não para ela se tratar; a quarta tampouco servirá, porque apenas mitiga um sintoma (e ainda suprimindo uma resposta do organismo à doença, algo que é no mínimo discutível).
A quinta recomendação, tardia porque a pneumonia – que deixa sequelas – já começa a atingir um estágio avançado, a cada dia que passa vai-se tornando inócua para a população de mais e mais cidades, cujos hospitais já não dispõem mais de capacidade de atendimento.
Se a pessoa, no que se dirige a um hospital sentindo falta de ar, encontrar leito para internação; se ela, caso complique, encontrar UTI; se ela, caso piore na UTI, encontrar ventilador; se, ainda assim, ela vier a óbito, então fazer o quê, é da vida, é aceitável que ela tenha morrido de covid desde que tenha recebido o devido atendimento.
Inaceitável é quando a pessoa NÃO morre de covid – ela morre é de falta de leito para internação, de falta de UTI, de falta de ventilador.
Inaceitável é que tudo o que se possa fazer se limite a isolar-se, lavar as mãos, usar máscara, tomar paracetamol e rezar para que a doença não chegue ao ponto da falta de ar. Se hospital não vai haver mesmo, então do lado de fora do hospital tem de ser possível alguma alternativa de tratamento.
Este texto se baseia em levantamentos sobre a covid e sobre as possibilidades para se lidar com a doença, e ele contém indicações terapêuticas que as pessoas podem adotar e praticar elas próprias, e que as suas comunidades podem abraçar em prol dos seus membros. Tratamentos que devem ser empregados tanto por quem contraiu a covid quanto por quem não contraiu mas busca se precaver.
Se os brasileiros não podem mais contar com o Brasil (muito pelo contrário, têm de se defender dele), então somente resta aos brasileiros contar uns com os outros.
Este texto se destina assim especialmente a pessoas imbuídas de um espírito coletivista, que generosamente assumam a tarefa de organizarem-se comunitariamente, de modo a fazer chegar a todas as pessoas das suas comunidades essas possibilidades de enfrentamento da doença.
Nesse sentido, são dez as recomendações:
– Não pire;
– Enxágue as narinas e a garganta;
– Beba mais água;
– Deite de bruços;
– Meça sua saturação (oxigenação do sangue);
– Turbine a sua máscara de tecido;
– Previna as microtromboses;
– Previna a tempestade de citocinas;
– Se você for diabético, capriche no controle; e
– Soberania sobre a própria vida e saúde não se delega.
- Não pire:
Não é verdade que oitenta por cento dos casos de covid sejam casos leves, e que os outros vinte por cento compliquem. Isso não é verdade porque também existem os casos assintomáticos, em que a pessoa nem fica sabendo que está com covid. Justamente por serem assintomáticos eles não entram nas estatísticas, e assim o percentual de casos que complicam é seguramente menor do que vinte por cento (sendo que nem todos eles necessitarão de hospitalização, e ainda menos necessitarão de intubação).
É claro que saber disso não garante ninguém, porque alguns irão mesmo complicar. Mas, tenha sempre em mente essas chances de um desfecho favorável de modo a manter a sua paz interior, por uma razão muito simples: o estresse eleva os níveis no sangue de uma substância chamada cortisol, que é um corticoide. Se você pegar covid, o principal fator que fará diferença entre você ter apenas sintomas leves ou complicar será o estado geral do seu sistema imunológico. E corticoides debilitam o sistema imunológico.
Parêntesis: pacientes hospitalizados com covid podem vir a receber corticoides, mas isso será porque a inflamação nos pulmões já chegou a tal ponto – justamente pela reação descontrolada de um sistema imunológico em pane – que não há mais outro jeito senão combater a inflamação mesmo à custa de comprometer o que ainda reste de resposta imunológica à doença. Fecha parêntesis.
Há tempos que se tornou comum médicos receitarem placebos aos seus pacientes sem contar-lhes isso, e os pacientes mesmo assim se curarem. Isto ocorre porque a medicina entendeu que, em muitas doenças, os fatores psicossomáticos são preponderantes, e assim a autossugestão faz efeito. No caso da covid, em que o desfecho de complicar ou não dependerá do sistema imunológico, não se deixar dominar pela angústia e ansiedade após começar a sentir os primeiros sintomas pode sim fazer diferença.
Além de evitar o estresse, os demais fatores que favorecem o sistema imunológico são: pratique atividade física; tenha uma boa qualidade de sono; hidrate-se (abordaremos adiante); tenha uma alimentação saudável; e evite o consumo de bebida alcoólica.
Ação comunitária: pode-se fazer campanhas educativas quanto à importância do autocuidado para com o sistema imunológico. Como o isolamento em si tende a ser estressante, a comunidade pode desenvolver formas de apoio para aliviar essas atribulações. Para quem pegou covid e não está conseguindo manter um autocontrole, uma palavra amiga (tomados os cuidados para evitação de contágio) pode ajudar muito.
- Enxágue as narinas e a garganta:
Asseguramos que enxaguar as narinas e a garganta com água salinizada previne a covid. Mas, o que significa “prevenir”? Dentre os significados do dicionário, constam: “Dispor as coisas buscando evitar um mal, um dano: ‘é melhor prevenir do que remediar’; precaver-se, acautelar-se, preparar-se: ‘preveniu-se para encarar o inverno’ ”. Então, “lavar o nariz e a garganta para prevenir a covid” não significa que isso garanta que não se vá contrair a covid. Significa que se está adotando bons cuidados (assim como isolar-se, lavar as mãos, usar máscara etc.) para evitar contraí-la.
Gargarejos com água morna, sal e vinagre para prevenção da covid já foram desqualificados como fake news, devido a não haver comprovação científica inequívoca (de toda forma esqueça o vinagre, por favor). Mas são muitos os médicos que prescrevem aplicação de sprays de água salgada nas narinas para quadros de gripe ou sinusite – porque esse enxágue remove a camada de muco que recobre as mucosas das narinas, enquanto que o gargarejo a remove na garganta (nas narinas a camada de muco retém ainda poeira). É claro que água salgada não matará o vírus, mas a camada de muco facilita a aderência do vírus às mucosas, e assim a sua remoção “dificultará a vida” do vírus.
O Dr. Albert Sabin, criador da vacina contra a poliomielite, apregoava a limpeza das vias aéreas superiores como fator de prevenção das doenças respiratórias virais; a esse respeito, vale a pena assistir ao vídeo com o depoimento de um médico brasileiro que conviveu com o Dr. Sabin: https://www.youtube.com/watch?v=vRInuPdjiV8.