Publicado no Portal Terra –
O primeiro atlas para esclarecimento sexual foi um pequeno escândalo na sociedade da Alemanha Ocidental. Hoje a escola é uma das principais fontes de informação para os jovens, também reparando o que a internet distorce.”Vamos falar das abelhinhas e as florezinhas”: assim costumava começar a educação sexual na Alemanha Ocidental, até a década de 1960 – se é que ela acontecia. Até que foi dada a partida para uma pequena revolução: em 10 de junho de 1969 chegava às escolas o Sexualkunde-Atlas (Atlas de educação sexual).
Publicado pela Central Federal para Esclarecimento de Saúde (BZgA), o primeiro livro escolar oficial sobre o tema tinha aparência modesta: em formato horizontal, a capa branca trazia grafismos circulares coloridos que não revelavam muito de seu conteúdo. Vendido também livremente nas livrarias, ele em breve se tornou um best-seller.
Era a época dos filmes de “esclarecimento sexual” de Oswald Kolle, na fronteira do soft porn, assim como do movimento estudantil, o qual propagava, entre outras revoluções, o “amor livre”. Mas educar crianças e adolescentes sobre sexo? Para muitos pais, isso era atravessar a “linha vermelha”.
Assim, uma pequena bomba caiu em meio à sociedade alemã-ocidental, quando, em 1968, a conferência dos ministros da Educação lançou um primeiro decreto sobre o esclarecimento sexual nas escolas. A Alemanha Oriental, sob governo comunista, era mais desinibida nesse aspecto e já tinha a matéria em seus currículos desde 1959.
Alguns estados alemães ocidentais – como Hessen, desde 1967 – já tinham regulamentos relativos à educação sexual, “mas, de resto, não havia qualquer esclarecimento nas escolas”, relata a pedagoga e pesquisadora sexual Renate-Berenike Schmidt, de Freiburg. Em geral o tema ficava a cargo dos padres ou professores de religião: “Esclarecimento não estava em primeiro plano, tratava-se de educação e modéstia.”
Nestes 50 anos, houve grandes avanços, em ondas sucessivas, mas ainda há muito espaço para melhorar. Embora a matéria esteja firmemente ancorada no currículo de Conhecimentos Gerais e Biologia, ela ainda é encarada com certo desdém, lamenta Schmidt.
O fato surpreende, pois, em seu estudo de 2014-15 sobre sexualidade juvenil, a BZgA confirmou que a escola continua sendo importante para a educação sexual, ao lado do meio familiar: 80% dos jovens consultados afirmaram ter obtido seus conhecimentos sobre sexualidade, contracepção ou gravidez nas aulas. Para os meninos, essa foi até a principal fonte de esclarecimento.
Beate Proll, relatora para fomento da saúde e prevenção na conferência dos ministros da Educação, considera o esclarecimento sexual nas escolas até mesmo mais importante hoje em dia do que nunca. “A questão é também retificar aquilo que as redes sociais apresentam de forma distorcida. E sempre enfatizar que o que se vê nos sites pornô da internet ou em outras mídias, por exemplo, não é uma representação fiel de amor e sexualidade, nem um ponto de referência verdadeiro.”
Para Proll, uma abordagem contemporânea seria combinar a aquisição clássica de saber ao aprendizado social. “É, por exemplo, adquirir palavras para expressar os sentimentos. E perceber quando uma situação parece esquisita, e então falar a respeito.”
A escola deveria criar espaços comunicativos para os temas amor, amizade e sexualidade, prossegue a relatora. “Pois hoje em dia as imagens de parceria bem-sucedida e satisfação na sexualidade costumam ser marcadas pela mídia, e não raramente associadas a uma mentalidade de desempenho: ‘Eu tenho que estar bonita/o, tenho que posar.’ Muitas vezes se trata de ter o corpo perfeito, até as partes íntimas.”
Isso estressa os adolescentes, e em meio à avalanche informática atual é importante transmitir um volume de conhecimentos gerais nucleares, enfatiza ela, que é também diretora de departamento no Instituto Estadual de Formação de Professores e Desenvolvimento de Escolas, em Hamburgo.
Igualmente importante é comunicar quais são as fontes sérias e confiáveis na internet, como a BZgA. A meta é tornar os jovens futuramente capazes de moldar suas relações amorosas, explica Proll, e “isso também é importante no contexto da violência sexual e da formação de parcerias não violentas”.
AV/dpa
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