Há algo de podre no Principado de Curitiba

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Por Armando Rodrigues Coelho Neto, publicado no Jornal GGN – 

Delegados da Polícia Federal alardearam recentemente o corte de verbas na instituição, fato que não atingiria apenas a PF, mas sim a todos os setores, mas que se pretendia sugerir ser ingerência na farsa da Operação Lava Jato.




Irritados com o que seria a farsa sobre a farsa, um grupo de policiais lançou um documento denominado “Carta Aberta aos Policiais Federais”, um documento que não foi contestado, mas tão somente desacreditado e ou desautorizado por segmentos internos daquela instituição.

De acordo com o documento “censurado”, o problema da PF seria de gestão e não de falta de recursos. A propósito, tenho aqui reafirmado que nunca a PF teve tantos recursos. Mas, para os autores da carta-bomba, o problema seria de gestão, leia-se, culpa dos delegados federais, gestores oficiais do órgão.

Ainda que a queixa censurada integre a guerra interna entre delegados e outras categorias, o tema merece reflexão. Afinal, a exemplo do Principado de Curitiba (dizem), a legalidade não importa, mas sim o conteúdo. O grampo contra a Presidência da República fala por si. Noutras palavras, tudo vale quanto o tema é golpe, inclusive quando revestido da farsa da legalidade.

Antes que eu me perca volto à carta. Os federais inquietos dizem: imagine um proprietário de uma empresa de cerca de 12.000 funcionários, cujo patrimônio tem mais de 150 imóveis, 4.000 carros, aviões, helicópteros, lanchas, etc. Além disso, dizem, do Oiapoque ao Chuí há que se prover e gerenciar combustível, insumos outros, etc. Mas, para gerir tudo isso, basta ser bacharel em direito. Nenhuma experiência a mais. Dizem.

No final da década de 90, a PF vivia na penúria e as duas maiores unidades do Brasil, Rio de Janeiro e São Paulo, a solução encontrada teria sido um rodízio das viaturas disponíveis entre as delegacias. Algo assim: pela manhã viaturas da Delegacia Fazendária, à tarde a de Entorpecentes, até “estourar o limite de cota de combustível”. Sem contar o corte de linhas telefônicas, cópias, conforme divulgado pela imprensa.

Conforme a peça-denúncia, em 2002, com verba de um financiamento feito pela França, em 1997, viaturas de uma montadora francesa foram compradas para rodar do Oiapoque ao Chuí, mas inúmeras localidades não havia sequer assistência técnica. De quebra, os criminosos reconheciam as viaturas pela marca, por serem as únicas a circularem em certas cidades.

Dizem ainda que bens da União teriam sido sucateados, entre eles binóculos da marca Sophie – adquiridos por 80.000,00 dólares, lanchas blindadas, equipamentos de mergulho e o veículo aéreo não tripulado (VANT) – anunciado “com pompa e circunstância para combater o crime organizado”.

As queixas estendem-se à aviação na PF, pois segundo os autores do documento, a Agência Nacional de Aviação Civil teria realizado uma fiscalização e interditado, em época recente, todas as aeronaves por problemas de manutenção. Em 2013, queixam-se, o maior avião da corporação ficou “no chão por pelo menos 4 meses” (falta de inspeção) e um helicóptero modelo AgustaWestland AW139 que custou 29 milhões de reais, oi apelidado de “paralelepípedo”, porque não saia do chão.

Ousados, os autores da carta dizem que até o juiz Sergio Moro teria “caído da lábia dos péssimos gestores e enviado dinheiro para o pagamento de despesas da Superintendência Regional do Paraná, sem que houvesse necessidade de tal repasse”. Eles dizem que a PF daquele estado teria devolvido R$ 3 milhões de reais ao Orçamento da União pela sua não utilização.

Como se pode ver, a PF tem problemas que vão muito além da operação “Farsa-a-Jato” e que só o tempo irá revelar os bastidores do Principado de Curitiba, nesse momento do que se afigura um golpe de estado. Afinal, se procedentes as denúncias, a PF mostrou muita eficiência ao colaborar com o golpe e pouca ou nenhuma em termos de gestão. Fica no ar a questão: a quantas andam demais investigações?

E aí, o “Japonês da Federal”, o mais legítimo símbolo do golpe, estaria para a PF, assim como Cunha está para a Câmara. Já o juiz Moro…. Bom, o Moro é o Moro, morou? De todo modo, ficou algo de podre no Principado de Curitiba.

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

 

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