Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado
Lula, a grandeza que atrapalha. Muita gente, mesmo simpática a ele, se surpreendeu com a disposição mostrada por Luiz Inácio Lula da Silva na entrevista que concedeu a dois jornalistas na semana passada.
Não era absurdo supor que, diante da prisão injusta e das perdas recentes de gente querida, o ex-presidente demonstrasse abatimento. Mas o Lula que está confinado há um ano reapareceu em sua melhor forma. E mostrou que há dois mundos na política brasileira: com Lula e sem Lula.
O ex-presidente revelou na entrevista que acompanha atentamente o que está ocorrendo no governo do “bando de maluco”, tão bem definido por ele. E mantém a oratória única. Ninguém fala ao povo como Lula. E é justamente essa qualidade que, paradoxalmente, é hoje o maior entrave a uma possível saída do cárcere.
A extrema-direita lavajatista e a elite econômica sabem que o jogo mudaria completamente, e em pouco tempo, com Lula em liberdade. No período do cárcere injusto, Lula, que já havia perdido a esposa, ficou sabendo, e sofrendo, as mortes do irmão Vavá, do grande amigo Sigmaringa Seixas e, dor das dores, do amado neto Arthur.
Convenhamos, quase todos desabariam, e não sem motivos, Mas Lula parece se apegar à Política para sobreviver aos 73 anos. E a Política brasileira sente falta de Lula. É na verdade o único líder popular das últimas décadas.
E agora chegamos ao xis da questão: como tirar o ex-presidente da cadeia? Noticia-se que existiria a possibilidade de, na pior das hipóteses, Lula poder requerer prisão domiciliar ou regime semi aberto a partir de setembro. Alguns juristas até avaliam que ele já poderia reivindicar a saída do cárcere.
Antes de seguir, uma ponderação. Nos últimos dias circulou também a informação de que, apesar de contar com benefícios assegurados por lei para deixar a PF de Curitiba, Lula não aceitaria essa solução por entender que isso legitimaria seu processo, eivado de perseguições e falhas evidentes. É uma questão pessoal, só Lula pode decidir o caminho que será tomado, por mais que ele represente uma força política relevante.
Ainda no campo jurídico, é necessário ponderar que existem outros processos contra Lula. Alguém duvida que os prazos serão mais uma vez acelerados para que o notório TRF de Porto Alegre referende a condenação no caso do sítio de Atibaia a tempo de impedir a soltura de Lula?
Olhando para a vida real, nada indica que a sanha de perseguição do Judiciário permita a Lula julgamentos e decisões justas. Lula só poderá sair da prisão se houver um amplo movimento de massas exigindo sua liberdade.
O Judiciário é movido pela pressão de mídia, rede social e rua. Os barões da comunicação, sabemos todos, querem manter o líder popular da oposição longe do campo de jogo.
Assim, por mais difícil que seja mobilizar um país que parece em grande parte anestesiado, não há alternativa que não seja um amplo movimento social para libertar Lula.
Quer queiram ou não elite, governo fascista e até setores de oposição à extrema-direita, Lula é a grande e insuperável força dos que se opõem a Bolsonaro. Não haverá construção democrática que passe longe dele, como delira Ciro Gomes.
Aceitem. É verdade que Lula divide o País. Sim, ele representa o campo democrático contra os primitivos que o afastaram de uma eleição garantida em 2018. E é por essa grandeza, reafirmada a partir de uma entrevista a dois repórteres cercados por um ridículo aparato policial, que Lula assusta aos saqueadores dos poucos direitos dos pobres.
Há em curso um verdadeiro saque ao futuro do Brasil e seus habitantes. Os autores da pretendida chacina social sabem que Lula em liberdade é o maior obstáculo ao que desejam. Por isso, é nossa obrigação não deixar morrer a chama da luta pela liberdade de Lula. Lula Livre.