O papel do jornalista é estar em campo, e falar com as pessoas, para sentir o ambiente e relatar os eventos, e não apenas com um porta-voz
Do blogue Chacoalhando, compartilhado de GGN
Tradução por Ruben Rosenthal
Ao impedir jornalistas de irem até Gaza, Israel não apenas evita a cobertura e o relato dos horrores da guerra, mas também prejudica a verificação em tempo real das reclamações do Hamas, algo que é realmente do interesse israelense.
Com 11 meses de guerra, pode-se dizer que as circunstâncias que Israel usou como justificativa para barrar a mídia em Gaza não são mais válidas, e que a entrada de jornalistas estrangeiros deve ser permitida para cobrir a guerra adequadamente.
Como resultado do controle por Israel das travessias na fronteira, que se tornou ainda mais limitante desde a captura de Rafah, nenhum jornalista estrangeiro pode colocar os pés na Faixa [de Gaza] sem aprovação do Estado. O total banimento da entrada de jornalistas estrangeiros sem a escolta de um porta-voz da unidade do IDF [as Forças de Defesa de Israel], prejudica enormemente a capacidade de se noticiar de forma independente, bem como o direito do público em Israel e pelo mundo de saber o que está ocorrendo em Gaza.
O papel do jornalista é estar em campo, e falar diretamente com as pessoas, para sentir o ambiente e relatar os eventos, e não apenas com um porta-voz, [que fala] em nome de determinados interesses. Não existe comparação entre relatar sem intermediários e através de uma terceira parte, conduzir entrevistas por telefone ou conduzir análises com ajuda projeção de imagens ou vídeo.
Ao impedir jornalistas de irem até Gaza, Israel não apenas evita a cobertura e o relato dos horrores da guerra, mas também prejudica a verificação em tempo real das reclamações do Hamas, algo que é realmente do interesse israelense.
Quando Israel impede que jornalistas estrangeiros cubram o que está ocorrendo em Gaza, devemos perguntar: o que o Estado tem a esconder? Como ele se beneficia dos jornalistas não entrarem em Gaza? O resultado de impedir os jornalistas estrangeiros de fazer seu trabalho é que o trabalho difícil recai nos ombros dos jornalistas palestinos, que estão eles mesmos sofrendo da guerra e das duras condições [lá vigentes].
De acordo com dados do Comitê de Proteção a Jornalistas, pelo menos 111 jornalistas palestinos e trabalhadores de mídia foram mortos durante a guerra (3 deles, ativistas do Hamas ou da Jihad islâmica, de acordo com os militares israelenses) – o que torna a necessidade de mais jornalistas entrarem em Gaza ainda mais urgente.
De qualquer forma, é precisamente durante o período guerra que existe maior importância de permitir a entrada de jornalistas que não sejam parte do conflito: pessoas que podem cobrir os eventos, sem receio de pressão de sua própria sociedade ou governo. Hoje, em tempo de guerra, quando qualquer imagem traz o risco de poder ter sido gerada por inteligência artificial, o papel do jornalista em campo é mais importante que nunca.
Não existe verdade na afirmação dos militares [israelenses] que autorizar [apenas a entrada de] jornalistas que estejam integrados com as forças israelenses seja uma alternativa adequada ao acesso independente. Nada pode substituir a entrada independente, em que jornalistas possam ter liberdade para falar com residentes locais e viajar para áreas que sejam de interesse do público e da mídia.
Não podemos aceitar a situação na qual os militares ditem a natureza da cobertura jornalística. Israel deve permitir que jornalistas entrem na Faixa de Gaza, para possibilitar que se possa melhor entender o que está ocorrendo lá, e assim possibilitar que a névoa que encobre a guerra possa ser dissipada, mesmo que um pouco.
Ruben Rosenthal é professor aposentado da UENF, responsável pelo blogue Chacoalhando e pelo programa deentrevistas Agenda Mundo, veiculado no canal da TV GGN e da TV Chacoalhando.
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