Publicado em Jornal GGN –
Haddad ainda disse que a gestão do novo MEC é tão ruim que “quanto menos fizerem, melhor”. “Torço pra que eles não tomem nenhuma atitude. (…) Porque é uma coisa espantosa esse ministério da Educação atual”
O ex-presidenciável do PT e ex-ministro da Educação Fernando Haddad disse em entrevista ao Estadão que o governo Bolsonaro tem a universidade pública como inimiga porque é onde há pensamento crítico. Para o petista, a chamada “Lava Jato da Educação” encontrará uma maneira de tentar enquadrar professores e outro acadêmicos.
“Na minha opinião, o que eles estão tentando esboçar em relação às federais, livre-docência, liberdade crítica de expressão, é uma coisa muito parecida com o que já estão fazendo com alguns jornalistas”, disse Haddad, lembrando que Bolsonaro usa “matilhas virtuais” para atacar repórteres escolhidos a dedo.
“Quando você tem um governo que é entreguista, é contra a soberania popular e nacional, um governo intimidatório de minorias políticas, há toda razão para esse governo ter medo das [universidades] federais.”
“Eu acho que eles ainda estão tateando como vão fazer com as universidades o que estão fazendo com a imprensa, por exemplo. Não é diferente.”
Quando à possibilidade da “Lava Jato na Educação” se tornar um operação política para perseguir e incriminar Haddad por sua passagem no MEC, ele respondeu: “Já fui escrutinado e continuo sendo normalmente. Me parece uma atitude de intimidação das universidades públicas. Acho que são elas o real alvo dessa operação.”
Haddad ainda disse que a gestão do novo MEC é tão ruim que “quanto menos fizerem, melhor”. “Torço pra que eles não tomem nenhuma atitude. (…) Porque é uma coisa espantosa esse ministério da Educação atual.”
Na visão de Haddad, o ministro Ricardo Velez deveria ser investigado por improbidade administrativa após o memorando às escolas pedindo que crianças sejam obrigadas a cantar o hino e citar o slogan de campanha do governo Bolsonaro.
MUDANÇA DE REGIME
Questionado sobre a guinada conservadora no País com o último resultado eleitoral, Haddad avaliou que “há uma tentativa de mudança de regime.”
“Gesta-se uma democracia de tipo não-liberal no Brasil, com uma forte carga plebiscitária sobre qualquer tema, e que coloque em risco direitos civis e políticos. Ainda não está consolidada, ainda há reações.”
Para o ex-ministro, oferecer ensino médio de qualidade é o desafio do MEC.
“O Brasil não conseguiu fazer chegar ao ensino médio a qualidade que já pode ser observada no ensino fundamental. E isso frustra os brasileiros, com toda a razão. Nós temos que entender qual a razão dos mecanismos utilizados com sucesso no ensino fundamental não terem tido os mesmos resultados no ensino médio.”