Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado
Naturalmente, a eleição presidencial quase que monopoliza a atenção de população, militantes, mídia etc. No próximo pleito, a luz estará ainda mais focada em Brasília, principalmente pelo desastre que o governo genocida vem impondo ao País. Mas, mesmo dentro da limitação estabelecida pela questão de vida ou morte que é tirar Bolsonaro do Palácio do Planalto, é necessário enxergar que, no quadro atual, o PT e as forças democráticas têm uma chance rara de disputar com chances reais a administração de São Paulo, o mais importante polo econômico e político do Brasil, além de ser o Estado mais populoso da Federação.
De acordo com as pesquisas mais confiáveis, o ex-ministro Fernando Haddad lidera a corrida paulista, desde que confirmada a saída de Geraldo Alckmin do páreo. Mesmo com o ex-governador concorrendo, o petista se sai bem.
Resumindo, é muito provável mesmo que Haddad esteja no segundo turno paulista. E, na hipótese de Lula já estar eleito presidente da República ou mesmo estar disputando a rodada final como favorito destacado, não é nenhum exagero supor que a possibilidade de Haddad triunfar é um delírio.
Seria um feito inédito para o PT e as forças progressistas no Estado.
Para se ter um olhar realista sobre o que será a eleição paulista, é bom apostar que Rodrigo Garcia (PSDB) não ficará muito tempo mais com os modestíssimos índices que as pesquisas atestam atualmente. Garcia terá a máquina administrativa a seu favor e, não nos esqueçamos, será durante a campanha o governador em exercício, o dono do cofre e da caneta, já que Doria promete seguir em sua inglória pretensão presidencial.
Assim, o mais lógico é que Garcia, em disputa na raia confinada à direita e extrema-direita, ultrapassará o candidato do genocida e tem plenas condições de estar no segundo turno.
No campo popular, Haddad ao que tudo indica enfrentará a concorrência de Guilherme Boulos (PSOL) e, pode ser, Márcio França (PSB) — registre-se que a inclusão de França aqui deve-se tão somente ao fato de seu partido ter origem no setor de esquerda, já que o possível candidato tradicionalmente trafega em outros campos.
O PSOL tem capilaridade muito menor que o PT e Boulos é, na verdade, candidato para tentar arrastar na fidelização partidária a eleição de deputados. E França, sem a máquina administrativa que contou em 2018, já provou que não vai muito longe.
Assim, salvo imprevistos durante a campanha, Haddad tem tudo para chegar ao segundo turno e, no mínimo, fazer com a direita a discussão política sobre a necessidade de encerrar o longo período de domínio tucano no Estado de São Paulo.
Até pelas razões eleitorais lógicas expostas acima, soa como excessiva e até impertinente a exigência do PSB de retirada da postulação de Haddad em nome do projeto pessoal de França.
Mais ainda, pode se tornar um tiro no pé, já que muitos eleitores petistas tendem, sem candidato próprio do partido, a marchar com Boulos, que seria assim beneficiado mais uma vez por escolha equivocada do PT.
Nada justifica desperdiçar a janela que se abre em São Paulo para o PT.
Haddad não é garantia de vitória, a realidade ensina. Mas é hoje a maior chance em anos que o PT tem de concorrer para valer pelos votos paulistas.
Lula não depende do apoio oficial do PSB para vencer a eleição nacional, embora obviamente a unidade do campo progressista seja o ideal no campo político de confronto com os fascistas.
O eleitorado do PSB em Pernambuco, por exemplo, não deixará de sufragar o ex-presidente por nenhuma questão. Abrir mão de São Paulo por uma conveniência inexistente seria um erro histórico do PT.
O cavalo paulista está passando encalhado. É montar ou montar.