“Tenho um Everest de lembranças cálidas de Pablito”, conta Eric Nepomuceno sobre Pablo Milanés
Compartilhado de Brasil 247
Por Eric Nepomuceno, para o 247
Eu sempre disse e redisse que em Cuba, minha segunda pátria, tenho quatro fraternos amigos: dois escritores, Senel Paz e Eduardo Heras León, e dois compositores, Silvio Rodríguez e Pablo Milanés.
Um deles, Pablo, o Pablito, foi-se embora na manhã desta terça-feira, em Madri. Há pouco mais de cinco anos ele morava na Espanha, para tratar de uma doença que os hospitais espanhóis tinham mais e melhores recursos que os cubanos. Foi para lá, aliás, a conselho dos próprios médicos do seu país.
Conheci o Silvio em agosto de 1978, em minha primeira viagem à Ilha. E Pablo na segunda, um ano depois. Nossa aproximação foi imediata, e para sempre. Anos depois, Pablo e Silvio, que eram como irmãos, um grudado no outro, se afastaram. Os dois tinham críticas contundentes e mais do que justas a vários aspectos do governo de Fidel.
A diferença é que Silvio seguia o conselho de Carlos Fonseca Amador, um dos fundadores do falecido Sandinismo, “criticar na frente e elogiar pelas costas”, enquando Pablo fazia críticas públicas, com a intenção – respeitável – de usar seu prestígio e sua popularidade para defender direitos dos mais frágeis.
Continuamos fraternos amigos. Eu era dos raríssimos casos – Eduardo Galeano era outro – de quem almoçava com um e jantava com o outro às vezes no mesmo dia.
Jamais – jamais – comentamos seu afastamento. Lembro que há muitos anos, quando meu filho Felipe era garoto e estava em Cuba frequentando a Escola de Cinema de San Antonio de los Baños, ele também frequentava um e outro.
Tenho um Everest de lembranças cálidas de Pablito. Gestos solidários, generosos, um oceano de afeto em permanente maré alta. Um sorriso que iluminava o mundo e a vida.
E agora tenho na alma uma grota imensa, um vazio escuro e cheio de dor.
Hasta siempre, hermanito. Hasta siempre.