Por Adriana do Amaral, jornalista
“Hebe mudou de casa”. Com esta frase singela, como num anestésico alentador, foi comunicada oficialmente a morte de Hebe de Bonafiti, na página oficial da Associação Mães da Praça de Maio, no domingo (20). Complementada com um vigoroso “Hasta la victoria siempre, Hebe”.
Com uma tristeza infinda recebi a notícia. Não podia acreditar… As nossas heroínas não podem perecer.
Hebe era uma mulher, uma mãe, uma pessoa humana. Viveu com uma coragem descomunal.
Mulher anônima que transformou sua dor pessoal em luta comum. Visibilizou ao mundo não apenas o desaparecimento dos dois dois filhos e nora, mas o desaparecimento de 30 mil argentinos: pais, filhos, mães, filhas, netos, netas.
Todas as quintas- feiras Hebe comandava o ser exércio da Justiça, ao lado de outras idosas enlutadas, que trocavam a cor preta pelo lenço branco. À sua marcha juntam-se outros anônimos para manifestar-se contra a tirania e a opressão, lembrando que o passado e o futuro ceifado pela ditadura militar argentina jamais será esquecida.
“No claudicas. No negociad. No callar. No perdoar. No olvidar. Siempre Luchar.
Na quinta, a Marcha 2427, Dia da Militância Peronista, Carmen Arias foi a porta-voz, Hebe não pôde estar presente. As mães seguirão órfãs de sua lider.
Eu tive o privilégio de ter o meu sonho pessoal realizado: conhecer e marchar ao lado das madres às vésperas do primeiro turno das eleições no Brasil. Hebe pediu pelo presidente Lula, e abriu a toalha da campanha. Atenta, ela sabia a importância do pleito para o Brasil, Argentina, a América Latina!
Hebe denunciava, mas também dava voz aos trabalhadores, sindicalistas, políticos, militantes, ativistas em seu palco na praça. Criticava, e atualizava as notícias, num informe alterativo e eficaz.
Tal mãe, avó, que zela por todos numa ladainha sem fim. “Todos são meus filhos”, repetia a Hebe os que iam à praça serem abraçadas pelo povo.
“Ni un paso atrás”. Hastá siempre.
#HebeEterna
#madresdelaplazademayo