Helicóptero, viveiros e mutirões: como o MST pretende plantar 100 milhões de árvores até 2030

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De 2020 até o fim de 2023, o MST plantou 25 milhões de árvores e recuperou 15 mil hectares de terra degradada

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Helicóptero, viveiros e mutirões: como o MST pretende plantar 100 milhões de árvores até 2030

Por Gabriela Moncau — Brasil de Fato

De cima de um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal (PRF), 12 mil quilos de sementes de palmeira-juçara e de araucária foram lançadas em áreas de reserva legal do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) no Paraná. A ação realizada em maio faz parte do plano do MST de, até 2030, plantar 100 milhões de árvores no país.

A semeadura aérea é apenas um, o mais massivo, dos métodos do movimento para atingir a meta. Entre as demais ações estão a implementação de sistemas agroflorestais nos assentamentos e acampamentos, a distribuição de mudas em escolas, a criação de viveiros e a parceria com universidades, entidades privadas e públicas.

O plano

O “Plano nacional plantar árvores, produzir alimento saudável” foi lançado no início de 2020, como uma ação propositiva para, nas palavras de Camilo Augusto, um de seus coordenadores, projetar “o MST, a reforma agrária popular e a agroecologia como centrais na formulação de alternativas à crise ambiental”.

Logo em seguida, a pandemia de Covid-19 impôs a diminuição de ações presenciais do movimento ao longo de ao menos dois anos. Ainda assim, em dezembro de 2023, o MST contabilizou 25 milhões de árvores plantadas, 300 viveiros criados e 15 mil hectares de terra degradada recuperados.

Recuperação de áreas destruídas pela Vale

Do território reflorestado, cerca de mil hectares haviam sido destruídos pelo rompimento das barragens da Vale/Samarco em Brumadinho (MG). A tragédia de 2019 matou ao menos 270 pessoas e, entre as tantas atingidas, estão mil famílias do MST acampadas nas proximidades do Rio Paraopeba.

Na Bacia do Paraopeba, MST plantou 34 espécies de árvores. Foto: Agatha Azevedo/ MST-MG

Anos antes, em 2015, o desastre ambiental em Mariana (MG), que matou 19 pessoas e foi cometido pela mesma mineradora, afetou 23 assentamentos do MST na Bacia do Rio Doce.

Em 2016, o movimento firmou um convênio com o governo estadual de Minas Gerais e a Fundação Renova, ONG criada pela Samarco por um Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC) para responder aos danos da tragédia.

Por meio deste projeto, os assentados recebem assistência técnica para planejar seus lotes com o plantio de agroflorestas, visando o reflorestamento de 5.226 hectares, principalmente em zonas de recarga de aquíferos. Foram construídos viveiros nos assentamentos Estrela do Norte, Nova Conquista, Liberdade e Emiliano Zapata.

A experiência inspira a mais recente em Brumadinho, onde o projeto “Plantar árvores” foi lançado quando o rompimento da barragem completou um ano, em janeiro de 2020. Ali, em 10 hectares antes contaminados pela mineração, foram plantadas 30 mil mudas de árvores frutíferas, de 34 diferentes espécies.

De acordo com o MST, além destas ações em Minas Gerais, estão a recuperação de áreas degradadas no Parque da Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, além da regeneração natural de cerca de mil hectares e da restauração de 100 hectares de áreas de preservação permanente (APP) no Pará, entre outras.

Mudas são preparadas para o plantio no assentamento Mártires de Abril, no Pará. Foto: Carlinhos Luz/ MST-PA

Semeadura com helicóptero da PRF

O lançamento de toneladas de sementes de uma só vez por via aérea é a ação de reflorestamento de maior escala feita pelo MST. A ideia surgiu numa conversa entre dois moradores do pré-assentamento Dom Tomás Balduíno, de Quedas do Iguaçu (PR).

Josué Evaristo Gomes, filho de assentados e estudioso da palmeira-juçara, se engajou na recuperação da espécie em extinção e fez a proposta para Tarcísio Leopoldo, da direção estadual do MST no Paraná. A ideia era “mirabolante a princípio”, diz Josué, mas o movimento encampou.

“Temos essa riqueza de ter famílias camponesas que conhecem a palmeira e sabem como ela se comporta”, conta Tarcísio. “Já lançavam as sementes à mão nas reservas legais que encostam nos lotes e viam que germinava com grande facilidade e em quantidade. Então nós já tínhamos certeza do sucesso da semeadura aérea antes de ter feito a primeira no ano passado”.

De fato, está funcionando. Em junho de 2023, a primeira experiência espalhou, pelo ar, quatro mil quilos de sementes de palmeira-juçara. Neste ano, na segunda Jornada da Natureza, além de o movimento ter triplicado o número de sementes lançadas, foi avaliada a eficácia da experiência anterior.

Cerca de 10 mil mudas de palmeira-juçara por hectare foram identificadas pelo grupo de pós-graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Em um ano, elas germinaram e estão, em média, com 14 cm de altura.

Identificada, no meio da mata, uma muda de palmeira-juçara que germinou da semeadura de 2023. Foto: Gabriela Moncau

O lançamento aéreo foi possível por meio de uma parceria do MST com a PRF, a partir de articulações locais no Paraná. A ação conjunta foi selada já na Jornada da Natureza do ano passado, primeiro ano em que superintendência do órgão no Paraná esteve a cargo de Fernando Cesar Borba de Oliveira.

Formado em jornalismo e pós-graduado em comunicação política em Ciências Sociais, na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Oliveira trabalhou na Agência Brasil e em entidades sindicais antes de se tornar policial rodoviário em 2013.

Parcerias

As parcerias com a PRF, o Ibama, a UFFS e outras entidades envolvidas na Jornada da Natureza do MST são apenas algumas das várias alianças feitas pelo MST para viabilizar o “Plantar árvores”.

“Existe a necessidade de que algumas empresas façam compensação ambiental por venda de veículos, por exemplo. A gente conseguiu parcerias mediadas por secretarias municipais de meio ambiente para plantar um número expressivo de árvores na região norte do Paraná”, ilustra João Flávio, engenheiro agrônomo e membro da articulação do MST para o plano de reflorestamento.

Outra parceria é feita com viveiros da Itaipu Binacional, do Instituto Água e Terra (IAT), e de outros menores de municípios paranaenses. “A gente consegue grande quantidade de sementes da extração da polpa de frutos”, conta Tarcísio, se referindo a espécies nativas da Mata Atlântica, como guabiroba, uvaia, ameixa, cereja e jabuticaba. “E cedemos a viveiros em troca de mudas”, explica.

“Temos uma atividade na Escola Dom Tomás Balduíno que já ganhou alguns prêmios. Ela entrega uma grande quantidade de mudas aos alunos, que fazem os plantios nas suas casas e têm o acompanhamento”, conta Leopoldo.

Apenas na Escola Itinerante Vagner Lopes, os estudantes já ganharam 15 mil mudas de árvores.

Em São Paulo, o MST se articulou com o Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão em Educação e Conservação Ambiental da USP para realizar o “Projeto Dandara: transição agroecológica em territórios de reforma agrária”.

Por meio dele, 22 famílias cooperadas dos assentamentos Dandara e Reunidas, na cidade de Promissão (SP), implementaram 20 sistemas agroflorestais em 13 hectares. No total, foram plantadas 18.800 mudas de 81 espécies diferentes de árvores.

“O maior desafio do MST”

De acordo com João Flávio, “há uma percepção bastante clara que esse ônus não pode ficar só nas costas das famílias camponesas. Então buscamos permanentemente o aporte de políticas públicas para materializar este plano”.

Mas “o maior desafio”, avalia Bárbara Loureiro, que também integra a articulação do “Plano nacional plantar árvores, produzir alimento saudável”, é fazer com que ele transcenda a meta numérica.

O que se busca, diz Loureiro, é que “essa dimensão do zelo com os bens comuns da natureza dê materialidade” à reforma agrária popular defendida pelo MST. E assim, junto com as iniciativas de grande impacto e visibilidade, seja também incorporada como uma “ação do cotidiano”.

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