Publicado em Brasil 247 –
O professor de História do Brasil Colonial da Unirio, Thiago Krause, criticou a postagem de Hamilton Mourão, que foi ao Twitter comemorar o aniversário da criação das capitanias hereditárias. “Estou acostumado a ler ‘bad takes’ históricos por parte do bolsonarismo, mas esse é um dos mais inovadores que eu já vi!”, ironizou. Confira a explicação do historiador
247 – O professor de História do Brasil Colonial da Unirio, Thiago Krause, deu uma verdadeira aula para o vice-presidente da República, General Hamilton Mourão. O militar fez um post neste sábado (28) para comemorar o aniversário da criação das capitanias hereditárias no Brasil.
Na mesma rede social, o general havia dito: “Na data de hoje, em 1532, o Rei D. João III criava as #capitanias no #Brasil. Descoberto pela mais avançada #tecnologia da época, o País nascia pelo #empreendedorismo que o faria um dos maiores do mundo. É hora de resgatar o melhor de nossas origens”.
“Estou acostumado a ler ‘bad takes’ históricos por parte do bolsonarismo, mas esse é um dos mais inovadores que eu já vi! Depois do choque inicial, vamos transformar essa imbecilidade em ‘teachable moment'”, afirmou o professor.
“‘Mais avançada tecnologia da época’ – no século XIX, a historiografia nacionalista liberal portuguesa inventou a Escola de Sagres, uma academia científica que teria produzido as inovações que explicariam o pioneirismo português na expansão. O problema é que ela nunca existiu!”, complementou.
De acordo com o professor, “os historiadores oitocentistas só queriam inserir Portugal no rol das nações modernas, enfatizando o único argumento que os lusos tinham pra reivindicarem um lugar de destaque na história mundial: a expansão. Isso foi elevado ao paroxismo pelo salazarismo e copiado aqui”.
“Há alguma discussão recente sobre a ciência ibérica (ainda que mais hispânica) e debates sobre quão inovadores foram os navegadores portugueses, mas é certo que muito foi tomado dos árabes e grande parte do restante foi um conhecimento prático”, acrescentou.
“Mais avançada tecnologia da época” – no século XIX, a historiografia nacionalista liberal portuguesa inventou a Escola de Sagres, uma academia científica que teria produzido as inovações que explicariam o pioneirismo português na expansão. O problema é que ela nunca existiu!
— Thiago Krause (@ThiagoKrause2) September 29, 2019
Há alguma discussão recente sobre a ciência ibérica (ainda que mais hispânica) e debates sobre quão inovadores foram os navegadores portugueses, mas é certo que muito foi tomado dos árabes e grande parte do restante foi um conhecimento prático. https://t.co/iwLMhl7tCX
— Thiago Krause (@ThiagoKrause2) September 29, 2019
Em termos econômicos, foram um fracasso, menos por descaso dos donatários como geralmente se diz e mais por causa da resistência indígena às tentativas iniciais de escravização. O sucesso de SP e PE teve mais a ver, portanto, com o estabelecimento de alianças com etnias indígenas pic.twitter.com/l276RxrZiN
— Thiago Krause (@ThiagoKrause2) September 29, 2019
O pior, evidentemente, é falar no “melhor das nossas origens” – a conquista foi violenta, escravocrata e etnocida. Não deixa de ser coerente, porém, que esse governo ache isso bom, né?
Enfim, Mourão, vem fazer meu curso de História do Brasil I e para de tuitar besteira.— Thiago Krause (@ThiagoKrause2) September 29, 2019