O  Bem Blogado publica aqui texto da historiadora Larissa Jacheta Riberti  sobre Felipe Neto, que tem conquistados elogios de integrantes da esquerda por sua posição contra Jair Bolsonaro.

Abaixo do texto de Larissa, publicamos alguns comentários colhidos no Facebook a respeito do que publicou a historiadora.

O Blog tomou conhecimento da publicação da historiadora Larissa via o Facebook da amiga e cantora Ana Decker.

Algumas observações sobre Felipe Neto:

1) Vocês tão laureando uma pessoa que se posiciona contra Bolsonaro, o que nesse momento deveria ser feito por qualquer um que pense com os dois lados do cérebro. Não se esqueçam de que nessa lista tem Dória, a boyzada do MBL, Bebianno e agora Moro, e “os comunistas” que não querem morrer de coronavírus. Felipe Neto não é a versão 2.0 de Lenin e ele não fará a revolução de esquerda.

2) Nem sei se Felipe Neto se posiciona contra o fascismo porque é bordão dos progressistas virtuais ou se ele realmente sabe o que isso significa na prática e na teoria;

3) A esquerda não tem obrigação nenhuma de acolher alguém que não sabe nem fazer um piquete numa greve. O dia que Felipe Neto for lá na Cinelândia cheirar gás de pimenta junto com as senhorinhas do SEPE que reivindicam que a aposentadoria não fosse confiscada pelo Estado, eu vou respeitar esse garoto dos cabelo colorido;

4) Vocês botam uma fé infundada de que uma comunicação bem feita através das redes sociais e do mundo virtual vão salvar a esquerda. Em primeiro lugar, não precisa ir muito longe (mas vai ser preciso sair da frente do computador), pra ver que grande parte das pessoas não tem acesso a canais virtuais de qualidade em termos de informação e sequer tem computador e pontos de internet adequados. Assim fosse, a gente tava dando aula pela internet pra geral e a realização do Enem poderia acontecer numa boa.

5) As redes sociais e o mundo virtual ainda são uma incógnita para nós, pesquisadores e educadores. Infelizmente, um país de democracia frágil não tem marcos regulatórios para fazer desses espaços mecanismos de democratização do acesso à informação. Estamos perdendo essa disputa para os membros da Universidade do Zap. Nossos alunos procuram trabalhos prontos na internet, não leem 10 páginas, se interessam pouco pelo debate. Imagina quem trabalha 8 horas por dias e nas outras ainda tem que pagar boletos e trocar frauda de catarrento?

6) Sobre o público de Felipe Neto: quem garante que esses milhões de seguidores são, de fato, reais? Existem muitos perfis falsos, seguidores comprados, spam, bots. A inteligência artificial é um buraco negro. E, por enquanto, ela tem servido à disseminação de fakenews e a sustentação do caos catastrófico, alimento do fascismo.

7) Esse jovem é produto do capitalismo informacional. Ele é a cara do que a classe média que fica em cima do muro com papada pseudo “democrática” aceita: homem (¬¬), branco, português impecável, não radicaliza, youtuber. Não fosse ele seria qualquer outro que repetisse obviedades viralizadas em links patrocinados.

8) Eu tenho visto lideranças de esquerda elevarem Felipe Neto a um patamar de comunicador, político e mediador com as chamas “classes que precisamos dialogar”. Em primeiro lugar, a esquerda tem que parar de achar que vai conseguir dialogar com todo mundo porque nem todo mundo é obrigado a aceitar a gente nos seus espaços. Pobres e camadas populares, oprimidas, não são tábula rasa, eles fazem suas escolhas, e pode ser que não estejamos entre elas. Aceitem.

9) Em segundo lugar, vocês realmente acreditam que um youtuber é capaz de fazer um trabalho de mobilização das bases, consistente e a longo prazo? De um lado MST e MTST e de outro Felipe Neto. Quem vocês escolhem?

10) Essa história de que “precisamos unir as esquerdas” e “precisamos nos reinventar”, colocando uma pessoa como Felipe Neto como modelo a ser seguido, é uma espécie de criminalização dos movimentos sociais disfarçada. Porque sempre houve esquerda (s), sempre houve movimento estudantil, movimento de mulheres, religiosos de base, de sem terra, LGBT+, quilombolas, comunidades agrícolas, urbanas e periféricas que atuaram em prol de uma série de direitos, e nas trincheiras contra esse fascismo que hoje nos assola. Essa gente apanhou muito, mas nunca foi aceita por essa imprensa e pelo sistema que hoje torna Felipe Neto produto comercializável.

11) Enquanto Felipe Neto tuita, o MST doa milhares e milhares de alimentos para famílias desamparadas e desempregadas nesse momento de pandemia.

12) Como eu disse no começo desse longo texto, numa conjuntura absurda e extrema como a que estamos vivendo, qualquer pessoa com instinto de preservação se colocará contrária ao fascismo representado por Bolsonaro e seu governo. Mas será mesmo que numa disputa política “tradicional”, burguesa e cujas candidaturas revelassem mais liberais (adjetivo) que neoliberais da extrema direita, Felipe Neto se colocaria nas trincheiras da esquerda? Ou ele seria #Team Cirão das Massas, Tábata Amaral, Marina Sllva ou qualquer um desses aí?

13) Eu concordo que Felipe Neto tem que ser articulado com a esquerda. Acho até que os liberais tem que ser articulados com a esquerda, nesse momento. Mas não se enganem, parem de jogar pérolas aos porcos. Caindo Bolsonaro essa gente volta pro seu lugar e vai defender os seus interesses que, não pasmem, podem não ser tão de esquerda assim.

14) Por último, mas não menos importante, pra mim Felipe Neto é o “FHC” de amanhã. Um jovem progressista que vai adquirindo traços conservadores com a idade. É um produto, uma imagem ideal para aparecer na mídia, e que profere frases feitas e obviedades que qualquer pessoa que tenha lido ou vivido o mínimo sabe. Ele não vai nos libertar dessa tragédia, porque é preciso mais do que meia hora de conversa via web pra derrotar o fascismo. E isso a história já nos mostrou.